Alunos europeus têm cada vez menos competências básicas de matemática e isso representa um risco para as economias da UE, alerta estudo
As competências de matemática e leitura entre os estudantes têm vindo a deteriorar-se significativamente em grande parte dos países da União Europeia (UE), representando um risco preocupante para a capacidade futura da força de trabalho em impulsionar a economia do bloco. O alerta consta de um relatório recente da Comissão Europeia sobre emprego e competências, que sublinha a gravidade do problema.
De acordo com o relatório, a taxa de insucesso — definida como a incapacidade dos alunos de atingir níveis mínimos de proficiência — aumentou nos últimos 12 anos, com um declínio acentuado das competências básicas em 2022. Este fenómeno é parcialmente atribuído ao encerramento das escolas durante a pandemia de COVID-19.
Os dados são alarmantes: quase um terço (32%) dos jovens de 15 anos na UE não alcança competências básicas em matemática, e cerca de 25% não atinge os níveis mínimos em leitura e ciências. Estes números colocam a UE longe da sua meta de reduzir a taxa de insucesso a 15% até 2030.
Portugal ocupa uma posição preocupante no panorama europeu. Entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), o país regista a oitava pior taxa, com 29,7% dos estudantes com níveis de proficiência em matemática abaixo do básico.
Disparidades regionais e impacto nas economias nacionais
O relatório destaca variações significativas entre os países. Na Estónia, Irlanda, Dinamarca e Polónia, menos estudantes apresentam dificuldades matemáticas, enquanto Bulgária (53,6%), Chipre (53,2%) e Roménia (48,6%) lideram o ranking de insucesso nesta área. Estas disparidades refletem desafios estruturais nos sistemas educativos de cada país.
As consequências vão além do setor da educação. Segundo o relatório, estes resultados comprometem a produtividade laboral e a competitividade da UE a médio prazo. Empresas enfrentam dificuldades em expandir a produção devido à falta de trabalhadores qualificados, um problema que, segundo inquéritos citados, é agravado por sistemas de educação e formação ineficazes.
Roxana Mînzatu, vice-presidente executiva da Comissão Europeia para competências, alertou que a transição digital e verde da UE corre o risco de “deixar os cidadãos para trás” se as lacunas em competências fundamentais não forem resolvidas.
A crise não afeta apenas os alunos de contextos socioeconómicos desfavorecidos, embora estes sejam os mais atingidos. Em 2022, quase metade dos alunos economicamente desfavorecidos na UE não conseguiu atingir níveis mínimos de proficiência em matemática, um aumento significativo face aos 38,2% registados em 2018. Contudo, o declínio também impacta os alunos de famílias mais abastadas, uma situação atribuída à escassez de professores qualificados, agravada pela pandemia.
Face à gravidade da situação, vários governos estão a implementar medidas para melhorar as competências básicas. Na Finlândia, por exemplo, o número de aulas obrigatórias foi aumentado, enquanto na Holanda as escolas recebem 500 euros por aluno para investir em melhorias de desempenho.
Mînzatu anunciou que a Comissão Europeia apresentará, no início de março, um plano de competências focado em formação contínua, educação vocacional, retenção de competências e reconhecimento de qualificações. Também está prevista a revisão de um plano de educação digital e a criação de um roteiro para o futuro da educação digital na UE.
O relatório conclui que sistemas educativos eficazes são essenciais para equipar jovens e adultos com as competências necessárias para empregos de qualidade, especialmente num contexto de transformações profundas. A Comissão Europeia sublinha a importância de intervenções rápidas e abrangentes, sob pena de comprometer não apenas o progresso individual dos cidadãos, mas também a competitividade económica do bloco.
Esta crise educativa, que afeta tanto países como Portugal quanto outros da UE, coloca em evidência a urgência de reavaliar prioridades e estratégias no ensino, para que a Europa possa assegurar um futuro sustentável e inclusivo.