Alimentos estão quase 30% mais caros do que durante a pandemia. Será que a crise chegou para ficar?

Embora a inflação em 2024 tenha desacelerado para 2,4%, os preços dos produtos alimentares em Portugal continuam a refletir os efeitos da crise inflacionista, estando 28% acima dos níveis médios de 2021, segundo os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

O gabinete revelou que, em termos gerais, o nível médio dos preços no final de 2024 era 16,2% superior ao registado há três anos, destacando que para alcançar os valores de 2021 seria necessário um período prolongado de deflação. No caso específico dos bens alimentares e bebidas não alcoólicas, a diferença é ainda mais pronunciada, com os preços a ultrapassarem em 28% os de 2021.

Este aumento tem afetado sobretudo categorias como o peixe, que registaram acelerações significativas nas taxas de variação homóloga em dezembro de 2024. Apesar disso, o INE antecipa uma possível desaceleração na variação homóloga dos preços alimentares durante o mês de janeiro, em parte devido à reposição das taxas de IVA em bens alimentares essenciais.

No entanto, o índice do preço dos alimentos caiu 2,1% em 2024 comparativamente ao ano anterior, maioritariamente devido à descida do preço dos cereais e do açúcar, de acordo com dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

O índice de preços calculado pela FAO, que acompanha a evolução dos preços internacionais de um cabaz de produtos de base, registou uma descida de 13,3% para os cereais em relação a 2023 e de 13,2% para o açúcar durante o mesmo período.

Estas descidas foram compensadas pelo aumento dos preços dos óleos vegetais, que subiram 9,4%, os produtos lácteos, que aumentaram 4,7%, em especial manteiga, e da carne, que subiu 2,7%.

“A pressão no sentido da baixa exercida pela fraca procura internacional e o aumento da oferta sazonal das colheitas na Argentina e na Austrália foram compensados pela pressão no sentido da alta exercida pelas más condições das colheitas de inverno na Rússia”, lê-se no relatório mensal da FAO.

Também os hábitos de consumo no setor do retalho alimentar sofreram uma transformação permanente nos últimos anos, com os consumidores a preferirem retalhistas ‘discount’ e marcas próprias, segundo um relatório divulgado pela Morningstar DBRS.

A agência destaca que os retalhistas ‘discount’, frequentemente associados a preços mais baixos e a uma maior presença de marcas próprias, beneficiaram das mudanças nos hábitos de consumo observadas nos últimos dois a três anos. Exemplos como as retalhistas alemãs Aldi e Lidl ilustram este fenómeno, com estas a aumentarem a sua quota de mercado no Reino Unido de 14,5% em 2021 para 18% em 2024.

Apesar da previsão de que alguns hábitos possam reverter à medida que as condições económicas melhorem e os retalhistas tradicionais tomem medidas para recuperar a sua quota de mercado, o relatório antecipa que alguns desses novos comportamentos de consumo se manterão de forma permanente.

Para 2025, a agência prevê estabilidade no setor alimentar, embora com uma possível pressão no poder de compra dos consumidores. Os analistas estimam que o crescimento das receitas no setor alimentar deverá normalizar-se, com uma variação de apenas um dígito, enquanto as margens de EBITDA devem manter-se estáveis.