‘Aliada’ na cozinha ou foco de contaminação? Como garantir que a colher de pau é segura e os cuidados a ter com este utensílio
As colheres de madeira, presentes em cozinhas de todo o mundo, são alvo de um debate aceso entre os entusiastas da culinária. De um lado, os defensores exaltam a sua durabilidade, suavidade no contacto com superfícies delicadas e o charme rústico. Do outro, críticos questionam a sua segurança, alegando que o material poroso pode ser um refúgio para bactérias e odores indesejados. Afinal, será seguro cozinhar com estas utensílios ou é hora de as substituir?
Madeira: amiga ou inimiga da cozinha?
Um dos principais argumentos contra as colheres de madeira prende-se com a sua capacidade de absorver microorganismos. “As colheres de madeira são porosas e podem aprisionar microorganismos nos poros,” explica ao Huffington Post Bryan Quoc Le, cientista alimentar e autor de 150 Food Science Questions Answered. Segundo ele, lavar com água quente e sabão elimina a maioria dos microorganismos, mas nem todos. A humidade retida na madeira pode promover o crescimento bacteriano, especialmente se os utensílios não forem completamente secos.
No entanto, os especialistas enfatizam que o cuidado adequado pode mitigar os riscos. “A chave é limpar as colheres de madeira imediatamente após o uso e deixá-las secar completamente ao ar,” aconselha Darin Detwiler, presidente do programa de segurança alimentar da National Environmental Health Association e autor de Food Safety: Past, Present, and Predictions. Como as bactérias precisam de humidade para prosperar, a secagem adequada elimina a maior parte delas.
A madeira tem propriedades antimicrobianas?
Alguns tipos de madeira, como carvalho, pinho e cerejeira, possuem compostos antimicrobianos naturais, como os taninos, que inibem o crescimento de microorganismos, destaca Bryan Quoc Le. Contudo, nem todas as colheres de madeira são fabricadas com este tipo de material.
Mesmo utensílios de madeira com propriedades antimicrobianas têm limitações. Ellen Shumaker, especialista da Universidade Estadual da Carolina do Norte, observa que, enquanto bactérias podem inicialmente assentar numa superfície de madeira húmida, estas podem ser absorvidas para o interior da madeira, onde acabam por morrer. No entanto, isto só acontece se os utensílios forem devidamente secos. Deixar uma colher de molho durante longos períodos pode levar ao apodrecimento e ao desenvolvimento de bolor.
Quando é hora de dizer adeus às colheres de madeira?
Utensílios de cozinha desgastados, incluindo colheres de madeira rachadas ou deformadas, representam um risco acrescido. “Colheres de madeira rachadas ou danificadas podem alojar bactérias mais facilmente,” alerta Detwiler. “Fendas e lascas criam espaços ocultos onde partículas de alimentos e humidade se acumulam, dificultando a limpeza completa.”
Os sinais de que é hora de substituir a colher incluem rachaduras visíveis, descolorações escuras, odores persistentes ou superfícies ásperas e lascadas. Quando estas características aparecem, a segurança do utensílio está comprometida.
Cuidados essenciais com as colheres de madeira
Para garantir que as colheres de madeira se mantêm seguras e higiénicas, os especialistas recomendam:
- Lavar imediatamente: Use água quente e sabão logo após a utilização.
- Secagem ao ar: Evite deixar as colheres de molho e permita que sequem completamente, de preferência na vertical, durante 24 horas.
- Não use a máquina de lavar loiça: O calor elevado pode deformar ou rachar a madeira, tornando-a mais propensa a acumular bactérias.
- Aplique óleo mensalmente: Condicione a madeira com óleo mineral de qualidade alimentar para evitar rachaduras e deformações.
Keith Warriner, professor de ciência alimentar na Universidade de Guelph, também aconselha evitar produtos como lixívia para desinfeção. “A natureza absorvente da madeira torna-a desvantajosa para esse tipo de tratamento,” explica. O uso de água e sabão continua a ser a melhor abordagem para uma limpeza eficaz.
Embora as colheres de madeira possam exigir cuidados adicionais, elas não são necessariamente um risco para a saúde, desde que devidamente mantidas. Para os amantes destes utensílios tradicionais, adotar práticas de limpeza adequadas é fundamental para equilibrar a funcionalidade e a segurança. Por outro lado, quem prefere utensílios de fácil manutenção pode considerar alternativas modernas, como silicone ou aço inoxidável.
O debate continua, mas uma coisa é certa: a escolha final depende da preferência e do compromisso de cada cozinheiro com a limpeza e conservação dos seus utensílios.