Alarme na NATO: Rússia transfere soldados e armas da Síria para as ‘portas’ da Europa
O colapso do regime sírio de Bashar al Assad desencadeou uma onda de satisfação nos meios de comunicação italianos, uma vez que representou uma clara derrota para o presidente Putin. No entanto, rapidamente se levantaram os sinais de alarme: Moscovo está a transferir as armas que tinha na base naval síria de Tartus para a Líbia, para manter o seu acesso ao Mediterrâneo, sendo que o plano do presidente russo é criar um novo bastião na zona.
Esta movimentação suscitou sérias preocupações à NATO e um sinal de alerta para o Governo italiano, conforme explicou o ministro da Defesa transalpino, Guido Crosetto: “Moscovo está a transferir recursos da sua base naval síria em Tartus para a Líbia. Isso não é bom. Os navios e submarinos russos no Mediterrâneo são sempre uma fonte de preocupação, ainda mais se em vez de estarem a mil quilómetros de distância estão a dois passos de nós”, explicou, ao jornal ‘La Repubblica’.
De acordo com fontes líbias e americanas, citadas pelo ‘The Wall Street Journal’, a Rússia está a transferir homens e armas das suas bases sírias para o aeroporto de Al Jufra, no leste da Líbia. Segundo as mesmas fontes, para lá foram também levados os muito potentes mísseis antiaéreos S-400, juntamente com dezenas de veículos blindados.
Moscovo trabalha há meses para reforçar Al Jufra, uma instalação estratégica no deserto de Fezzan, que lhe permite apoiar todos os contingentes russos ativos em África. Os serviços de informação americanos suspeitam que o Kremlin quer agora também melhorar a sua base no porto de Tobruk ou Benghazi, capital da Cirenaica, a parte oriental da Líbia que faz fronteira com o Egito, controlada pelo poderoso general Khalifa Haftar do autoproclamado Exército Nacional Líbio. Este “senhor da guerra” é um aliado próximo de Putin – na verdade, Haftar é protegido e mantido no poder pelos russos.
Com a crescente presença russa na Líbia, o cenário é cada vez mais caótico naquele país norte-africano, nunca pacificado. As duas principais regiões estão armadas: por um lado, a Cirenaica, na parte oriental, sob a influência do Egito, da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos e, sobretudo, da Rússia; do outro, a Tripolitânia, com a capital Tripoli, dirigida por uma administração civil reconhecida pela ONU e sob a influência da Turquia e, em menor medida, por Itália.
Desde a queda de Muammar Kadhafi, em 2011, o presidente russo Putin compreendeu que no caos líbio poderia tirar partido da sua posição geoestratégica: no coração do Norte de África, no centro do Mediterrâneo e a poucas centenas de quilómetros da Grécia e da Itália. A Líbia é o local ideal para pressionar a Europa, se esta deixar aberta a porta da imigração, e também para criar uma ponte para a região do Sahel, que abrange uma dezena de países, onde a Rússia tenta cada vez mais exercer a sua influência.
Neste contexto, o alarme de Itália não é surpreendente, porque há muito que tem interesses na sua antiga colónia, tanto económicos como estratégicos. A multinacional energética ENI regressou às perfurações exploratórias na Líbia, na bacia de Gadamés, na região ocidental, Tripolitânia; uma enorme reserva de petróleo e gás partilhada pela Líbia, Tunísia e Argélia. Recentemente, Martina Opizzi, responsável da ENI para o Norte de África, afirmou: “Nunca deixámos de olhar para a Líbia como uma região crucial para a produção de petróleo e gás”, acrescentando que a empresa estima que ainda existam recursos por descobrir.
No interesse de Itália e, por extensão, da Europa e da NATO, surge a sombra perturbadora da Rússia, uma ameaça grave, como alertou Giorgia Meloni há uma semana: “Devemos compreender que a ameaça é muito maior do que imaginamos, tem a ver com a nossa democracia, com a exploração da imigração ou com o que está a acontecer em África. Devemos garantir a segurança e não se trata apenas da frente de guerra na Ucrânia, temos de estar preparados.”