Abusos sexuais na Igreja: Continuam por definir compensações financeiras às vítimas. Grupo VITA recebeu já 61 pedidos de indemnização
Ainda não foram definidos os montantes das compensações financeiras a atribuir às vítimas de abusos sexuais no contexto da Igreja Católica em Portugal. Rute Agulhas, coordenadora do Grupo Vita, esclareceu que “não foi definido qualquer teto, baliza ou intervalo”, durante a apresentação do terceiro relatório de atividades do grupo, em Lisboa.
Até ao momento, o Grupo Vita recebeu 61 pedidos de compensação financeira, dos quais 40 foram submetidos por homens e 21 por mulheres. Desses, 15 indivíduos recorreram pela primeira vez ao grupo com o intuito exclusivo de solicitar compensação financeira. Além disso, 19 vítimas pediram apoio psicológico, cinco solicitaram apoio psiquiátrico, sete apoio social, uma pediu apoio jurídico e outra apoio espiritual. Desde a sua criação, o Grupo Vita identificou 118 vítimas de violência sexual, mais 13 do que o relatório anterior, e registou um caso de um leigo envolvido em crimes deste tipo.
A maior parte das situações de abuso sexual ocorreu entre as décadas de 1960 e 1980. Segundo Joana Alexandre, psicóloga do Grupo Vita, a revelação dos abusos acontece, em média, 43 anos após os acontecimentos. Desde o início do processo de escuta, no final de 2024, foram entrevistadas oito vítimas, com mais entrevistas previstas para novos casos que ainda não tinham sido reportados ao Grupo Vita.
Perfil das vítimas e contexto dos abusos
As vítimas atendidas têm, em média, mais de 50 anos. A maioria é do sexo masculino e possui níveis variados de escolaridade: 38,7% completaram o 9.º ano, 37,1% têm formação superior e 24,2% concluíram o ensino secundário. A idade mais comum para a ocorrência dos abusos é entre os 10 e 11 anos. Desde a sua criação, o Vita recebeu 587 chamadas, das quais 34 referem-se a situações de abuso ocorridas fora do contexto eclesial.
Desde abril de 2023, o Grupo Vita sinalizou 70 casos de abusos sexuais à Igreja e encaminhou 25 para a Procuradoria-Geral da República (PGR) e para a Polícia Judiciária (PJ). As dioceses com mais casos reportados foram Lisboa (10), Porto (9) e Braga (7). Rute Agulhas destacou que 71% das pessoas atendidas procuraram exclusivamente o Vita para relatar suas histórias.
Em 2025, o Grupo Vita planeia lançar dois programas de prevenção primária para crianças e jovens: o programa Girassol para crianças entre os 6 e 9 anos e um jogo digital para a faixa etária entre 10 e 14 anos. Até o momento, as ações de sensibilização e formação já chegaram a cerca de 2700 pessoas, e metade das dioceses solicitou formações específicas para membros da Igreja e de instituições ligadas à pastoral.
Durante a apresentação do relatório, foram disponibilizadas três brochuras sobre proteção e prevenção, dirigidas a crianças, jovens e adultos, que estão acessíveis no site do Grupo Vita. O grupo continua empenhado em oferecer apoio às vítimas e em implementar medidas de prevenção eficazes para evitar futuros casos de abuso no contexto da Igreja.