Próxima etapa da guerra na Ucrânia pode significar uma mudança no ‘Relógio do Apocalipse’

O “Relógio do Apocalipse” (Doomsday Clock), criado em 1947 pelo Boletim de Cientistas Atómicos da Universidade de Chicago, continua a servir como um alerta simbólico para os riscos que ameaçam a sobrevivência da humanidade. Originalmente concebido para destacar os perigos das armas nucleares, o relógio tornou-se um termómetro para medir o nível de risco global, incorporando também questões como mudanças climáticas, pandemias e mau uso da tecnologia. Atualmente, também a guerra na Ucrânia, e a realidade na frente de combate, é uma pressão adicional aos ponteiros do relógio, que pode sofrer uma ‘súbita’ mudança com a escalada de violência, ou com um ‘travão’ que seja colocado no conflito.

Desenvolvido por um grupo de cientistas que incluía Albert Einstein e J. Robert Oppenheimer, o “Relógio do Apocalipse” apresenta um conceito simples, mas poderoso: a meia-noite representa a destruição total e catastrófica da humanidade. Desde a sua criação, os ponteiros já foram ajustados várias vezes para refletir o estado de ameaças globais.

Nos últimos anos, os ponteiros aproximaram-se perigosamente da meia-noite. Em 2021, foram avançados para apenas 90 segundos da destruição total, marcando o momento mais próximo de sempre, superando até os níveis de tensão da Guerra Fria. Este avanço, segundo especialistas, reflete os perigos acumulados, incluindo o aumento das tensões nucleares, as mudanças climáticas e os impactos de crises globais, como a pandemia de COVID-19.

Com a guerra na Ucrânia a prolongar-se e o risco de escalada nuclear a aumentar, o impacto deste conflito no relógio é inevitável. No entanto, uma nova perspetiva surgiu com as promessas de Donald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, em regressar à Casa Branca. De acordo com o portal Just The News, Trump sugere que poderia negociar um acordo de paz na Ucrânia, algo que, caso bem-sucedido, poderia fazer os ponteiros do relógio recuarem, segundo assinala o Huffington Post.

Pavel Podvig, analista do Projeto de Forças Nucleares Russas, comentou nas redes sociais que Trump parece adotar uma abordagem menos confrontacional. “Pelo menos ele fala de paz, não de confrontação. Ele não menciona a derrota estratégica da Rússia. Este é um bom sinal de mudança”, afirmou.

Por sua vez, Raffaele Marchetti, diretor do Centro de Estudos Estratégicos Internacionais (CISS) da Universidade LUISS, em Roma, reforçou o impacto das perceções de ameaça existencial na decisão de usar armas nucleares. “É mais provável que um país recorra a armas nucleares quando acredita enfrentar uma ameaça existencial. Rússia, Coreia do Norte, Irão — todos poderiam utilizá-las se percebessem que os seus regimes estão em risco iminente”, explicou Marchetti.

Marchetti argumenta que, sob este prisma, uma administração liderada por Trump poderia representar uma ameaça menor do que uma administração democrata. “Uma nova administração Trump deveria ser vista como menos ameaçadora”, concluiu.

O “Relógio do Apocalipse” permanece um poderoso lembrete das escolhas humanas e da sua influência no destino global. Se as promessas de paz de Trump se concretizarem e forem suficientes para aliviar as tensões na Ucrânia e além, o relógio pode voltar a atrasar-se, oferecendo uma luz de esperança num cenário marcado por incertezas.