“A capacidade do país para atrair investidores é muito influenciada pela existência de mão de obra qualificada”, diz Diretor-Geral da ATEC
A formação contínua dos colaboradores é essencial para o crescimento e o sucesso das empresas, pois capacita as equipas, estimula a inovação, e fortalece a competitividade num ambiente de negócios em constante evolução.
Em entrevista à Executive Digest, João Carlos Costa, Diretor-Geral da ATEC, explicou a valor da qualificação e requalificação dos profissionais, o papel das empresas e do Governo neste processo, e também a importância da dignificação dos trabalhadores.
Como é que uma formação profissional adequada pode contribuir para o crescimento das empresas portuguesas?
A par da agressividade da concorrência, da evolução tecnológica e dos desafios que lhe são inerentes, a desadequação das competências dos trabalhadores às novas ferramentas e aos processos digitais levam a que as empresas repensem a sua estratégia e encarem a formação como essencial para a sua sobrevivência e crescimento.
Investir na (re)qualificação das equipas permite que estas adquiram conhecimentos e competências relevantes para o desempenho das suas funções. Os resultados são claros: por um lado, o trabalho torna-se mais eficiente e produtivo, por outro, dá-se um claro aumento da satisfação, da realização profissional e do compromisso dos funcionários para com a empresa. A questão do compromisso é particularmente pertinente numa altura em que a escassez de recursos qualificados é uma realidade. Investir no desenvolvimento de um colaborador valoriza-o e amplifica o seu grau de retenção na empresa. A retenção de talentos é fundamental para o crescimento sustentável das empresas.
Mais, estamos numa época de acelerado crescimento tecnológico, de surgimento de novos perfis profissionais, de transição energética e de escassez de matérias-primas, um cenário que exige criatividade, capacidade de adaptação e resolução. Empresas que não apostem na requalificação e na reconversão das suas equipas dificilmente conseguirão adaptar-se aos avanços tecnológicos e não se manterão competitivas.
Inicial ou contínua, a formação capacita os colaboradores, melhora a qualidade do trabalho, impulsiona a inovação, retém talentos e fortalece a imagem da empresa. Quando combinados, estes fatores contribuem significativamente para o crescimento das empresas, permitindo-lhes ser mais competitivas e bem-sucedidas no mercado nacional e global.
Quais são os benefícios de investir em programas de formação e capacitação para os funcionários de uma empresa?
Do ponto de vista estratégico, o investimento em programas de formação e capacitação é fundamental para melhorar o desempenho e o crescimento da empresa. A criação de uma cultura de aprendizagem contínua, de reconversão e requalificação, fomenta o compromisso e a reforça as competências das equipas ao mesmo tempo que impacta no aumento da produtividade e da qualidade do trabalho. Paralelamente, a capacitação dos trabalhadores com novas competências e a oportunidade de experimentarem novas tarefas também estimulam a sua criatividade e a inovação.
Para a empresa, a aposta em programas de formação significa também a redução de custos operacionais na medida em que capacitar um trabalhador com as competências adequadas à sua função estará preparado para contribuir para a otimização de processos e produtos. Por outro lado, fomenta a capacidade de adaptação à mudança.
Num ambiente em constante evolução tecnológica não basta investir em equipamentos novos ou em novas formas de produção. É necessário ter colaboradores preparados para trabalhar com estes novos equipamentos e tecnologias de forma a conseguir maximizar o investimento realizado. Os programas de requalificação e reconversão assumem-se como cruciais na adaptação das empresas a novas tecnologias, tendências e alterações no mercado. Empresas com equipas bem formadas e capacitadas estão mais preparadas para enfrentar desafios emergentes e acompanhar as transformações do setor.
Finalmente, destacamos os programas de formação focados nas lideranças internas de níveis hierárquicos intermédios, a primeira linha de contacto com as equipas. Fortalecer estes líderes intermédios com competências de gestão de equipas e de negócio é crucial para implementar os planos estratégicos das empresas e fortalecer o clima organizacional.
Como a formação profissional pode impactar a produtividade e a eficiência empresarial?
De carácter inicial ou contínuo, os programas de formação, requalificação ou reconversão impactam a produtividade e eficiência empresarial, uma vez que capacitar colaboradores com competências técnicas, comportamentais e organizacionais, os torna mais eficientes e produtivos.
A aquisição e a atualização de competências levam a uma aplicação mais eficiente de recursos, evitando desperdícios e minimizando custos desnecessários. Prepara igualmente os colaboradores para lidarem com alterações no ambiente de trabalho e no mercado em geral, dotando-os com novas competências que lhes permitem enfrentar desafios e adaptar-se rapidamente a novas situações. A agilidade e a capacidade de adaptação são elementos-chave para a eficiência das empresas.
Por outro lado, colaboradores com sólidas competências interpessoais, como por exemplo, comunicação eficaz, trabalho em equipa, liderança e resolução de conflitos, entre outras, contribuem para a eficiência dos processos e aperfeiçoam a colaboração entre equipas. A formação contribui também para a autonomia e flexibilidade destes grupos. Colaboradores com competências adequadas à sua função têm mais confiança e são capazes de contribuir de forma mais significativa para os objetivos da empresa.
Quais são os principais desafios enfrentados pelas empresas ao procurar formação profissional para os seus colaboradores?
Da nossa experiência, e enquanto entidade formadora, podemos avançar que, com alguma frequência, as empresas não conseguem levar a cabo programas de formação por múltiplos fatores como a falta de um plano estratégico para capacitação das equipas, pelos custos associados, pela falta de disponibilidade para a formação ou até mesmo por resistência por parte dos colaboradores.
As empresas enfrentam ainda outros desafios ao nível da formação das suas equipas, nomeadamente a definição da formação a promover e a avaliação posterior do seu impacto e eficácia. Antes de implementar um programa de formação, as empresas precisam de identificar adequadamente as necessidades de desenvolvimento dos seus colaboradores – este é talvez o maior desafio. A ATEC desenvolveu uma ferramenta de Assessment Técnico exatamente para ajudar as empresas nesta questão. Através de um conjunto de provas teóricas e práticas, a ferramenta avalia cuidadosamente as competências e lacunas de conhecimento de um trabalhador para uma determinada função. Daí resulta um programa de formação completamente adequado às suas necessidades reais. A avaliação da eficácia é crucial e está incluída no pós programa de formação.
Outra das questões que nos parece relevante, é a ausência ou inadequação de perfis profissionais. Se as empresas não tiverem perfis profissionais definidos, estruturados e atualizados para as suas atuais necessidades, dificilmente conseguirão encontrar soluções formativas que satisfaçam tanto o colaborador como o objetivo da empresa.
E do lado das empresas de formação, quais os principais desafios que o mercado português apresenta?
Atualmente, as empresas de formação lidam com o desafio da constante necessidade de atualização de conteúdo, de ferramentas e de recursos. Num mundo em constante mudança, os conteúdos dos programas de formação precisam de ser atualizados regularmente para acompanhar as tendências do mercado, o que também implica manter formadores e demais equipas qualificadas e atualizadas, a par das últimas tendências e práticas de formação.
Para além dos conteúdos é também fundamental que as metodologias adotadas sejam adaptadas não só à evolução geracional, mas também às novas formas de organização do trabalho. O teletrabalho e a dispersão geográfica das equipas é hoje um desafio que nem sempre encontra resposta em soluções como eLearning. A diferença entre gerações é mais significativa do que nunca e questões como a literacia digital são aspetos a considerar na oferta de soluções de formação.
Temos, também, obrigação de oferecer às empresas soluções de (re)qualificação e reconversão curtas, incisivas e eficazes que vão de encontro às suas necessidades. Os clientes esperam programas de formação personalizados, adaptados à sua realidade específica. É essencial que ofereçamos flexibilidade para customizar os programas e ir de encontro ao cliente.
Outro dos desafios no competitivo mercado português da formação é atrair e reter formadores altamente qualificados.
Qual é o papel do governo na promoção da formação profissional e como é que isso afeta o crescimento das empresas?
O governo desempenha um papel fundamental na promoção da formação, seja de cariz inicial e qualificante para jovens, seja de requalificação ou reconversão para profissionais no ativo, ou no apoio à formação contínua dos colaboradores das empresas a operar em solo nacional. A capacidade do país para atrair investidores é hoje muito influenciada pela existência de mão de obra qualificada. O investimento em educação e formação profissional aumenta a disponibilidade de profissionais qualificados no mercado de trabalho, o que contribui significativamente para uma maior competitividade do país.
Ao nível de políticas, podem ser desenvolvidas políticas e programas de apoio que incentivem a formação profissional, sobretudo da população com menos recursos económicos e das micro e pequenas empresas. Os níveis de qualificação serão cada vez mais um fator de exclusão social.
Por outro lado, o governo tem um papel crucial na regulamentação e na certificação dos cursos de formação profissional e das próprias entidades formadoras, com processos ágeis e flexíveis, não comprometendo os índices de qualidade e exigência dos programas e das empresas de formação existentes no mercado português.
Quais são os impactos positivos da dignificação dos trabalhadores para o crescimento e a reputação das empresas?
A dignificação dos trabalhadores tem impacto positivo na satisfação e no bem-estar equipas, o que por seu turno também impacta positivamente o crescimento, o sucesso e a reputação geral da empresa. Colaboradores valorizados tendem a ser mais motivados e comprometidos e são mais propensos a contribuir com soluções criativas e inovadoras, o que leva a um claro aumento da sua produtividade.
Temos, ainda, a tão falada retenção de talento. Colaboradores satisfeitos são mais propensos a permanecer na empresa a longo prazo, reduzindo a rotatividade e os custos associados à contratação e formação inicial de novos colaboradores. A melhoria do clima organizacional é outro dos impactos positivos. Colaboradores valorizados e felizes contribuem para um ambiente organizacional mais colaborativo, com melhores índices de comunicação e trabalho em equipa e menor índice de conflitos.
As empresas que se preocupam com o bem-estar e crescimento das suas equipas tendem igualmente a desenvolver uma reputação positiva no mercado. Direta ou indiretamente, esta questão pode atrair clientes, investidores e parceiros que valorizem empresas com práticas éticas e responsáveis.
Quando se fala de sustentabilidade não é apenas a ambiental e económica, mas também social. A valorização da formação profissional contribuirá para a melhoria do estatuto social dos profissionais que por ela passarem.
Destaque, também, para o impacto na satisfação do cliente. Um trabalhador motivado e comprometido com a empresa fornecerá um melhor serviço ao cliente.
Quais são as melhores práticas que as empresas podem adotar para valorizar e dignificar seus funcionários?
Cada empresa avaliará as melhores práticas a adotar tendo em conta o seu contexto e possibilidades. Valorizar e dignificar os funcionários requer um compromisso consistente da empresa em promover uma cultura organizacional positiva e centrada nas pessoas. Estas centralidade nas pessoas é um dos aspetos que caracteriza a Indústria 5.0, a par da sustentabilidade e resiliência.
Podemos referir algumas práticas como sejam uma remuneração justa e benefícios competitivos, oportunidades de crescimento e desenvolvimento profissional, flexibilidade e equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, participação nas decisões que afetam as suas atividades e o ambiente laboral, promoção de um ambiente saudável através de uma comunicação aberta e transparente e, muito importante, reconhecimento e valorização do trabalho. Todos estes exemplos são fundamentais para a motivação e o compromisso dos colaboradores, práticas que contribuem para os valorizar e dignificar e que criam as condições para uma cultura empresarial positiva, essencial para o sucesso da empresa a longo prazo.