“2 de octubre no se olvida”: México assinala aniversário do massacre de Tlatelolco. O que aconteceu em 1968?

Hoje, dia 2 de outubro, milhares de pessoas são esperadas nas ruas da Cidade do México para a tradicional manifestação “2 de octubre no se olvida”, que marca o 56.º aniversário do massacre de Tlatelolco, ocorrido em 1968. Este evento trágico é lembrado anualmente como uma das mais flagrantes violações dos direitos humanos na história recente do México, simbolizando a repressão violenta do Estado contra os movimentos estudantis que, à época, reivindicavam liberdade e justiça.

A tragédia de Tlatelolco ocorreu poucos dias antes do início dos Jogos Olímpicos de 1968, quando forças militares abriram fogo contra uma multidão de estudantes que se encontravam em protesto na Praça das Três Culturas, em Tlatelolco. Naquele dia, centenas de manifestantes, em sua maioria jovens estudantes, foram cercados e mortos por forças militares equipadas com veículos blindados, numa ação ordenada pelo governo de Gustavo Díaz Ordaz, então Presidente do México (1964-1970).

De acordo com Angélica Pérez Nava, autora do texto “Movimiento estudiantil de 1968” e chefe do Departamento de Normalização do Arquivo Geral da Nação em 2018, o movimento estudantil dos anos 60 foi profundamente influenciado pelas ondas de protesto que ocorriam em países como França e Estados Unidos. “Uma das características principais deste movimento foi o seu caráter inclusivo, onde participaram estudantes, donas de casa, intelectuais, operários e profissionais da Cidade do México e de outros estados, com a intenção de buscar uma mudança democrática no país, maiores liberdades políticas e civis, menor desigualdade e a renúncia do governo em turno ao qual consideravam autoritário”, explicou Pérez Nava.

Exigências dos estudantes em 1968

O movimento estudantil tinha várias reivindicações, que incluíam:

  1. Libertação de todos os presos políticos.
  2. Revogação do artigo 145 do Código Penal Federal.
  3. Dissolução do corpo de granadeiros.
  4. Destituição dos chefes policiais Luis Cueto, Raúl Mendiolea e A. Frías.
  5. Indemnização aos familiares de todos os mortos e feridos desde o início do conflito.
  6. Responsabilização dos funcionários culpados pelos atos de violência.

Estudantes de diversas instituições, incluindo a Universidade Nacional Autónoma de México (UNAM), o Instituto Politécnico Nacional (IPN), El Colegio de México, a Escola de Agricultura de Chapingo, a Universidade Iberoamericana e outras escolas e universidades do país, uniram-se ao protesto, evidenciando a amplitude do movimento que ia muito além das questões meramente académicas.

O massacre na Praça das Três Culturas

Minutos antes das 18 horas do dia 2 de outubro de 1968, quando o protesto estava prestes a terminar, um helicóptero começou a sobrevoar a praça e disparou sinalizadores. Esta foi a ordem para que os atiradores do Batalhão Olimpia abrissem fogo contra os manifestantes. O caos instalou-se rapidamente, com a multidão composta por estudantes, mães, professores, operários e outros participantes a tentar encontrar refúgio nos edifícios circundantes.

No entanto, a repressão foi implacável. Tropas do exército perseguiram os manifestantes e entraram em apartamentos vizinhos para prender ou executar aqueles que haviam conseguido escapar do massacre inicial. Apesar das tentativas do governo de encobrir o número real de mortos, várias investigações estimam que tenham sido centenas as vítimas fatais. Em 2006, a Fiscalía Especial para Movimientos Sociales y Políticos del Pasado declarou que o número exato de mortos era difícil de determinar, mas indicou que o total se aproximava de 350.

“2 de octubre no se olvida”: o legado de um massacre

A frase “2 de octubre no se olvida” tornou-se o grito de guerra da manifestação anual que percorre as ruas da Cidade do México, exigindo justiça e mantendo viva a memória das vítimas do massacre de 1968. Este evento continua a ser um momento de reflexão sobre os direitos humanos, a repressão do Estado e a necessidade de manter viva a história para evitar que tais tragédias se repitam.

Os manifestantes que se reúnem hoje na capital mexicana farão questão de lembrar ao país e ao mundo que os ideais pelos quais os estudantes lutaram há 56 anos permanecem relevantes e que a luta por justiça, liberdade e igualdade não pode ser esquecida. A marcha deste ano não é apenas uma homenagem aos que perderam a vida em 1968, mas também um apelo contínuo para que a sociedade mexicana enfrente o passado e continue a buscar um futuro mais justo e democrático.

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