145 infeções e 4 mortes por dia: Especialistas alertam para aumento de casos de covid-19 na semana antes do Natal e deixam conselhos para as festividades
A menos de uma semana do Natal, a atual situação epidemiológica da Covid-19 em Portugal começa a revelar um aumento do número de casos, internamentos e mortes pela doença, verificado especialmente na última semana, segundo revelam os números da DGS e do INSA, transmitidos por especialistas à Executive Digest.
Manuel Carmo Gomes, professor de Epidemiologia da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, recorda que depois de uma ‘mini-onda’ de casos em agosto, “ao longo de setembro houve uma descida contínua e em outubro estávamos com registos mínimos de notificações, ou seja, os casos que temos conhecimento, e que são uma grosseira subestimação da realidade, mas assumindo que essa subestimação de mantém constante, podemos olhar a tendências”. Para termos os números verdadeiros, explica o médico “teríamos de os multiplicar por cerca de 20, mas isso já seria especulação”.
Se no final de outubro atingiam-se valores mínimos, de 100 notificações por dia ou menos, nalguns dias com 0, “desde então, ao longo de novembro, o número de casos tem vindo a amentar muito devagarinho, na última semana com uma aceleração”.
“Como estamos a subir de mínimos históricos, o número de novos casos ainda é baixo”, explica o especialista. “Os dados da segunda semana de dezembro, e até dia 17, davam uma média de cerca de 145 casos por dia. Na semana antes tínhamos 109, o que já dá uma ideia de que estamos a subir”, alerta Manuel Carmo Gomes.
Este aumento, ainda relativamente baixo quando comparado com momentos em que, ao longo do ano, se tinham 200 a 250 notificações diárias de Covid-19, deve-se à prevalência de uma nova sublinhagem do vírus, a JN.1, versão ‘melhorada’ da BA.2.86, com mutação adicional que “dá-lhe vantagens na transmissibilidade, porque foge melhor aos nossos anticorpos”.
Nos óbitos, a tendência de aumento também se verificou: passou-se para uma média de 4 por dia, mais um do que quando comparado com a semana anterior. Da mesma forma, a tendência é verificada nos casos que testaram positivo nos hospitais (cuidados intensivos e enfermarias), de 150 pessoas em média, a sete dias.
JN.1 domina no mundo. Especialistas pedem mais vigilância a águas residuais
Manuel Carmo Gomes assinala que é esta a variante que, neste momento, está a dominar no mundo e que, em 90% dos países que fazem vigilância da Covid-19 também através de águas residuais, “estão a detetar subidas tremendas da quantidade de vírus nas águas” mas este indicador da atividade do vírus na população, que está a subir em toda a Europa e América do Norte, “não se está a traduzir em gravidade nos hospitais ou grandes afluxos nas enfermarias”.
Apesar de em Portugal se estar a subir, mas os valores não serem “ainda muito preocupantes”, é importante “vermos o que acontece nas próximas semanas”.
O pneumologista Filipe Froes defende que esta monitorização devia ser um caminho a seguir em Portugal. “Era fundamental que Portugal incorporasse de uma forma mais consistente uma monitorização das variantes em circulação, através das águas de esgoto. Isso tem a vantagem de detetar mais precocemente acréscimos de atividade, e caracterizar melhor quais as sublinhagens em circulação”, explica o médico à Executive Digest.
Manuel Carmo Gomes sublinha duas mensagens importantes:
– Temos de continuar atentos a esta tendência, que se está a observar nas últimas semanas, nos países do norte da Europa, que estão em subida há mais tempo, e acompanhar para ver se a situação se agrava com a entrada do inverno, em janeiro fevereiro
– O vírus não pára de evoluir, não desistiu, continua a mudar rapidamente. O docente universitário destaca que um estudo recente veio mostrar que o SARS-CoV-2 tem uma velocidade de mutação duas vezes superior a um dos vírus da gripe com maior capacidade de mutação.
Perante esta realidade, a vacinação reveste-se de grande importância, especialmente em época de maiores contactos. Manuel Carmo Gomes, citando um estudo recentemente conduzido no Reino Unido, explique que o risco de morte aumenta exponencialmente em pessoas com mais de 80 anos, quando infetadas após mais de seis meses desde a última vacina.
“Com o vírus a mudar desta maneira, e sabendo que a proteção nos mais idosos é temporária, é muito provável que tenhamos de lidar com este vírus como o da gripe: com uma dose de vacina nos idosos e doentes crónicos, pelo menos uma vez por ano”.
As recomendações para Natal e Fim de Ano sem Covid
Os especialistas são unânimes: não esquecer as lições da pandemia, todos os dias, em especial nestes períodos de maior circulação de vírus respiratórios, e maiores concentrações populacionais. “Não mudou nada”, começa por dizer Manuel Carmo Gomes, recordando o arejamento de espaços nas reuniões de Natal, a higienização das mãos e manutenção da etiqueta respiratória. No caso dos mais idosos ou pessoas com alguma comorbidade associada, pode ser recomendável fazerem a Consoada numa mesa à parte.
A vacinação é, para Carmo Gomes e Filipe Froes, a primeira recomendação a ser dada. “Temos na população com mais de 80 anos 60% de cobertura e taxa vacinal, na população com mais de 60 anos cai para 50%. É baixo e temos mesmo de aumentar”, sustenta.
Filipe Froes defende ainda outras medidas estruturais para combate à Covid-19. “Era importante haver reforço nas campanhas de apelo à vacinação da população, também baixaria o limite de administração da vacina de 60 para 50 anos, daria possibilidade de estas vacinas poderem ser prescritas pelos médicos para todas as pessoas que quisessem ser vacinadas, e alargava a vacinação a dois grupos essenciais e com impacto na circulação do vírus: todas as pessoas com risco acrescido de contacto e transmissão, nomeadamente, empregados de comércio e professores, deviam estar nos grupos prioritários”, indica à Executive Digest.
Os especialistas recordam que para além do Natal e Ano Novo ainda há regras a cumprir todos os dias, até porque permanece uma norma da DGS ainda em vigor.
Assim tenha em atenção que todas as pessoas com sintomas respiratórios e sem diagnóstico:
– Devem manter máscaras em contacto com outras pessoas ou na presença de espaços públicos
-Devem evitar espaços fechados ou aglomerados,
– Devem manter distanciamento físico, etiqueta respiratória e higienização das mãos
Já as pessoas com teste positivo à Covid-19, segundo a norma:
– Devem manter máscara no contacto com qualquer pessoa 10 dias após o início das queixas
– Devem manter etiqueta respiratória, higienização das mãos e promover o distanciamento físico, evitando espaços públicos e aglomerados 5 dias após o inícios das queixas ou sintomas.
Filipe Froes deixa ainda alguns sinais de alerta que devem motivar contacto para as autoridades de saúde, no caso da infeção pela Covid-19:
– Febre persistente (mais de três dias)
– Febre que desapareceu e voltou a aparecer
– Aparecimento de falta de ar ou de sangue na expetoração
– Alterações no estado de consciência
– Alterações no transito gastro intestinal, vómitos, náuseas ou diarreia, que impeçam a tomada de medicação por via oral