Laurent Diot (Renault): “Os motores diesel vão continuar a dominar na Europa”
Sem diesel não será possível à Europa cumprir os seus objetivos de redução dos níveis de CO2, o que manterá o domínio deste tipo de propulsores no mercado, assegura Laurent Diot. Para o administrador-delegado da Renault Portugal, a aposta das marcas nos crossovers e SUV é para durar e até os monovolumes acompanharão a tendência, cruzando-se numa espécie mista com os SUV, que terá imenso sucesso. O próximo Scénic será ele próprio uma reinvenção do conceito tradicional de monovolume, promete Diot, nesta segunda parte da sua entrevista à automonitor, sem desvendar mais segredos.
Em termos de motorizações e tipos de carroçaria, o mercado parece estar a mudar, com um recuo do peso dos diesel, das carrinhas e dos monovolumes, e ganhos da gasolina, dos híbridos e elétricos e dos SUV. Como estão a Dacia e a Renault a ajustar-se a esta mudança?
Se olharmos para as tendências de evolução do mercado na Europa, há mudanças ao nível das fontes de energia e dos tipos de carroceria. No que respeita às energias, o diesel tem uma quota de mercado dominante e isso vai manter-se, porque os países da União Europeia comprometeram-se a baixar os níveis de CO2 e não será possível atingir os objetivos da Comissão Europeia sem o diesel. A quota vai provavelmente descer ligeiramente, mas o diesel manter-se-á como uma energia dominante.
O downzing dos motores térmicos convencionai está a ajudar no trabalho de redução das emissões. Conseguimos hoje, com motores mais pequenos (de menor cilindrada), níveis de eficiência e consumos que anteriormente só eram possíveis com propulsores de cilindradas maiores.
Mas o que é interessante é que, em Portugal e graças aos incentivos da fiscalidade verde, vemos também a emergência de energias alternativas, como as zero emissões, que começam a ser uma realidade quotidiana.
Depois há uma tendência para os crossovers e hoje todas as grandes marcas oferecem este tipo de carroçarias nas suas gamas. E com grande sucesso, como acontece no nosso caso com o Captur. Esta é uma tendência que está para dura., porque todos os construtores aderiram a ela e porque é uma exigência dos clientes.
É verdade que há um recuo dos monovolumes. E no caso da Renault, que inventou o conceito na Europa (com o Espace), e que o explorou muito bem com o Scenic, isso é ainda mais verdade. Mas também é verdade que a Renault soube reinventar o conceito de monovolume, como aconteceu com o novo Espace. Um sucesso europeu para o qual não temos capacidade de produção suficiente.
Julgo que o monovolume tenderá a “crossoverizar-se” e esta mistura de géneros terá um grande sucesso. E o mesmo se passará com o próximo Scenic, que será ele também reinventado face ao conceito tradicional de monovolume. Este próximo Renault Scenic será um produto extremamente inovador e deverá trazer uma grande modernidade aos monovolumes.
Mas se os monovolumes estão a passar de moda e a perder quota, porque é que as marcas premium alemãs estão apostar nos monovolume e decidiram investir neste segmento, contrariando o comportamento das marcas francesas, que estão a abandoná-lo e a investir em crossovers? Quem tem razão: franceses ou alemães?
Quem tem razão é o cliente. A resposta é dada quando colocamos um produto no mercado e vemos as vendas desse produto. O monovolume é um território onde a Renault tem um know-how incontestável, mas o que é interessante é que algumas marcas premium, estão a disponibilizar uma oferta nesse segmento.
Por que é que a Renault não tem modelos com motorizações híbridas?
É verdade que hoje não oferecemos híbridos puros ou híbridos recarregáveis plug-in (PHEV). Essa é a vantagem da aliança Renault-Nissan, dado que essa tecnologia, essa solução, já existe ao nível da Aliança. Vamos ver uma evolução neste campo.
Mas se olharmos para o que a Renault fez com a sua política de redução de emissões de CO2, hoje o único veículo que é próprio ambientalmente é o veículo elétrico, e aqui temos o ZOE, o Twizzy, o Kangoo ZE. Somos o construtor com a gama de veículos elétricos mais forte.
Isso não quer dizer que não estejamos a trabalhar em tecnologias entre a elétrica Zero Emissões e os motores térmicos convencionais, ou seja, em híbridos recarregáveis, híbridos puros, e noutras soluções. O nosso objetivo é continuar a trabalhar em tecnologias que permitam reduzir tanto o CO2 como as emissões de partículas. Hoje o grupo Renault é o grupo europeu com menor níveis de emissões de CO2, em termos absolutos, e queremos continuar a sê-lo.
A conectividade vai mudar o mundo automóvel?
A conetividade dos automóveis é uma tendência mundial e que não voltará atrás. Pelo contrário, tenderá a acelerar-se. A nova tecnologia vai permitir e vai mudar o paradigma. Hoje a conetividade é um fator diferenciador. É também uma questão de segurança, que irá eventualmente resultar no veículo autónomo.
Na convergência entre o sector automóvel e o tecnológico, a que estamos a assistir, quem vai ganhar mais: as empresas de tecnologia ou os fabricantes de automóveis?
A indústria automóvel é difícil, porque tem um nível de exigência de investimento do tipo das empresas de tecnologia, mas é também um sector que tem uma noção de design que é extremamente importante e finalmente, o sector automóvel é simultaneamente um sector de produção e de distribuição. E isso implica uma organização de homens, de estruturas e de processos, de uma grande complexidade que, hoje, não sei se as tecnológicas conseguirão fazer face.
Quem é Laurent Diot?
O francês Laurent Diot é, desde Julho, o administrador-delegado da Renault Portugal, substituindo no cargo Xavier Martinet, que foi chamado a desempenhar novas funções no Grupo Renault.
Iniciou a sua carreira na Renault em 1997, como analista de mercado na Divisão Renault North American Center, em Detroit. Entre 1998 e 2001 foi Marketing Project Manager na Renault SAS em Paris, com responsabilidades no plano de expansão da Renault para novos mercados.
Em 2001 transitou para a Renault Samsung Motors, na Coreia do Sul onde teve, até 2006, responsabilidades nas áreas de Marketing e novos mercados, na dependência direta de Jêrome Stoll, Diretor de Performance do Grupo Renault e membro do Comité Executivo do Grupo.
Em 2008 regressa à sede em Paris onde desempenha várias funções, entre as quais as de responsável pelas previsões de vendas da Renault para todas as regiões do mundo. Em Julho de 2011 assume o cargo de Diretor de Marketing da filial Renault Argentina, que desempenhou até à recente nomeação como Administrador-Delegado da Renault Portugal.
Diot, 41 anos, é licenciado em engenharia com um Master em Tecnologia e Gestão da École Centrale de Paris. É casado e pai de três filhos.