As empresas que não compreenderem os valores das novas gerações arriscam-se a perder mais do que talento. Perdem, sobretudo, relevância.
POR: Cristina Cunha Mocetão
Os modelos tradicionais de negócio estão a ser superados por ecossistemas colaborativos e dinâmicos, que exigem uma nova abordagem estratégica. A transformação no mundo do trabalho não se resume a novas tecnologias ou a modelos híbridos, pois ela começa, sem qualquer dúvida, nas pessoas. É dito e reconhecido que as chamadas “mentes do futuro” ou “novos talentos” são ou serão jovens profissionais altamente qualificados, curiosos, criativos, adaptáveis e exigentes, tendo em conta a procura por uma autenticidade, pelo true self. Na realidade, acredita-se que as novas gerações estão a reescrever o significado de sucesso profissional. Mais do que estabilidade ou ascensão vertical, estas novas gerações valorizam propósito, liberdade, flexibilidade, aprendizagem e impacto: os verdadeiros motores da sua motivação. A nova geração não se motiva com o que antes bastava. A velha lógica de “estabilidade e salário” já não é suficiente. Esta geração quer aprender, crescer e sentir que o seu contributo tem um real impacto no propósito organizacional e nas causas sociais e/ou ambientais, assumindo estes factores como uma vantagem competitiva. Em suma, os ingredientes para o sucesso devem contemplar, entre outros aspectos, o reconhecimento da valorização dos programas de desenvolvimento profissional, da responsabilidade, da fluidez na comunicação e da transparência.
Face a esse cenário, as organizações enfrentam um desafio estrutural: devem construir uma cultura impactante, atractiva e focada no compromisso. Renovar a cultura organizacional exige acção na actualização da missão a que se propõe, assumir os colaboradores como importantes parceiros e garantir que os valores praticados se alinham com os valores declarados. O estilo de liderança precisa igualmente de evoluir: não deve ser apenas direccionado para os resultados, mas também para a promoção da humanização, isto é, deve ser o que inspira, o que escuta, o que valoriza a diversidade, a inclusão, a partilha e o engagement.
Parafraseando o sociólogo e filósofo Zygmunt Bauman, «a mudança é a única coisa permanente, e a incerteza, a única certeza», e sendo aplicável ao nosso tempo, as empresas e os profissionais devem pensar, sentir e agir com agilidade/ fluidez, ética e propósito em prol de uma adaptabilidade forte e consistente. Os executivos que compreenderem esta nova lógica de valores simultaneamente organizacionais e humanos e souberem operar em ecossistemas colaborativos estarão mais bem posicionados para liderar o futuro. Por isso, as escolas de negócio tornam-se não só parceiros estratégicos nesta jornada de transformação cultural e organizacional como também cocriadores de soluções. A aproximação entre estes dois importantes agentes sociais (escolas de negócio e empresas) é essencial para acelerar a reconfiguração do ecossistema empresarial e continuar, deste modo, a formar líderes preparados para os desafios actuais e, muito em particular, futuros.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “MBA, Pós-graduações & Formação de executivos”, publicado na edição de Setembro (n.º 234) da Executive Digest.














