Gestão em tempos de crise
Por Alexandra O’Neill, Diretora da Pós-graduação Online em Business Management do Iscte Executive Education
Baixo desemprego, taxa de inflação controlada, balança de pagamentos positiva, crescimento económico com tendência continua de incremento, com flutuações explicadas pelo ciclo de gestão, desenvolvendo-se de forma periódica com potenciais oportunidades em cada parte do ciclo. As causas, consequências e motivações para estes e outros objetivos são tema frequente de debate com os meus alunos quando conversamos sobre macroeconomia.
Nestas reflexões sobre fases de expansão e contração do produto interno bruto, tento de forma invariável, demonstrar a ciclicidade da sua ocorrência, e de modo sublinhado enfatizar as oportunidades e interconexão entre as mesmas.
A disrupção aparente de momentos ímpares, uma vez que nos afastemos o suficiente, talvez corresponda simplesmente, em mais um, talvez demasiado previsível, ciclo, de frequências, amplitudes e períodos mais ou menos variáveis. Neste sentido, a perspetiva comum e generalizada da necessidade de ação emergente, reativa e apressada, as ocorrências imprevisíveis e crises que implicam em decisões urgentes, talvez pudesse ser alterada, se de forma coerente, tentemos reconhecer padrões e talvez até de forma proativa pudéssemos almejar prever e preparar a sua resposta.
A informação gerada em tempos de crise, deve assim, numa ótica económica, política e social, ser contemplada para uma efetiva gestão proativa, portanto, planeada, preparada e consolidada. A literatura indica-nos, não obstante que de forma rotineira descartamos e não partilhamos a informação que deveria ser amplamente discutida e debruçamo-nos simplesmente na reação imediata à ocorrência atual, com base frequentemente, na tendência socialmente mais acentuada.
Consideramos de forma invariável que a resposta a crises, frequentemente relacionadas, nos vários espectros da sociedade, são de curto prazo, individuais e autónomas, quando efetivamente a pesquisa demonstra, que uma abordagem e perspetiva de longo prazo, integrada, evolutiva, comprometida e coletiva, aliviaria o escalar do desafio e a vulnerabilidade perante a ocorrência.
Assim, propõe-se uma gestão interdependente, cooperativa, numa perspetiva global, holística e refletida, considerando a análise de base das interações repetidas na história, contrariando a tendência de adoção de medidas de pressão social. Nesta abordagem recomenda-se ainda a persistência nas boas soluções que muitas vezes emergem das fases de crise, motivando a sua visibilidade e sucesso prolongado.
A mestria da Gestão em tempos de crise poderá assim ser alcançada através do recurso a planos coletivos que incorporem as boas práticas e decisões tomadas em ciclos prévios, potenciadas por soluções atuais nomeadamente tecnológicas. Tendo a consciência de que raramente recorremos a planos coletivos de médio ou longo prazo, talvez motivados pelos ciclos políticos de relativa curta duração, pela perspetiva individualista, tornamo-nos ineficientes em tempos de crise, intervindo consecutivamente de forma impreparada, como se fossemos deparados como sociedade, com tal ocorrência pela primeira vez.
“Não somos os mais rápidos, nem os mais fortes”, mas temos a possibilidade de acumular conhecimento, de incrementar capacidade analítica, de obter um ponto de partida com vantagem, se não perdermos a capacidade de perceber a necessidade de planear e contribuir de forma individualizada para um coletivo, comprometido com os objetivos comuns.