Explicador. Como a Europa pode tornar-se a ‘avó da mobilidade’ se continuar com excesso de regulamentos no setor automóvel

Europa está a ultimar aquela que será a maior mudança metodológica da história da indústria automóvel, ao criar um padrão comum para medir o impacto real de CO₂ de cada veículo ao longo de todo o seu ciclo de vida

Automonitor
Novembro 21, 2025
17:42

A Europa está a ultimar aquela que será a maior mudança metodológica da história da indústria automóvel, ao criar um padrão comum para medir o impacto real de CO₂ de cada veículo ao longo de todo o seu ciclo de vida. De acordo com o ‘El Economista’, a nova abordagem deixará de considerar apenas as emissões do escape, passando a incluir produção, utilização, reciclagem e origem da energia, num movimento que pretende sustentar o objetivo europeu de emissões líquidas zero.

Empresas de energia, fabricantes e académicos veem esta nova regulamentação como essencial para evitar uma quebra competitiva na Europa, como ficou patente num webinar organizado pela Universidade Politécnica de Madrid e pela Fundação Repsol. André Casal Kulzer, professor da Universidade de Estugarda, sustentou que os “cenários de tecnologia única não funcionam” e defendeu soluções combinadas, capazes de acelerar a neutralidade climática.

Quando o cálculo incorpora extração de matérias-primas, fabrico, produção de energia e reciclagem, veículos elétricos, híbridos plug-in, motores a hidrogénio, combustíveis sintéticos ou motores convencionais alimentados por biocombustíveis avançados podem apresentar pegadas de carbono semelhantes. Uma perspetiva reforçada por José Manuel Méndez, responsável pela cadeia de valor da Toyota, que defendeu que a Europa vive “presa a uma mentalidade do século XX” e alertou para a necessidade de regulamentos simples e transferíveis para outros mercados.

Europa quer liderar a harmonização das medições de CO₂

Rosa Delgado, da Applus, confirmou que laboratórios e entidades técnicas terão de integrar metodologias de Avaliação do Ciclo de Vida, auditorias e verificação documental, vendo esta mudança como uma oportunidade para distinguir fabricantes realmente empenhados em reduzir emissões. A especialista acredita que a harmonização europeia pode reforçar a competitividade industrial e orientar empresas ainda afastadas da sustentabilidade.

Méndez alertou, contudo, para o risco de aumento dos preços: enquanto a União Europeia multiplica exigências, “a China tem menos regulamentação e custos três vezes menores”, tanto em veículos elétricos como de combustão. Para o responsável, se a sustentabilidade exigir carros de 50 mil euros, o mercado europeu poderá entrar em colapso.

Neutralidade tecnológica como condição de sobrevivência industrial

A Toyota, que analisa o ciclo de vida completo há três décadas, insiste que a neutralidade tecnológica deve ser mais do que um princípio teórico. Méndez recordou que nem todos os consumidores ou mercados têm necessidades que justifiquem um veículo totalmente elétrico e que a imposição de uma única via pode fragmentar a indústria. O académico Kulzer reforçou este argumento, defendendo que cenários “totalmente elétricos” criam grandes obstáculos na rede de carregamento, nas matérias-primas e na capacidade de produção.

Estudos citados no webinar indicam que, com alternativas diversificadas — hidrogénio, eletrificação mista, combustíveis renováveis e veículos elétricos — é possível atingir a meta de 20 toneladas de CO₂ ao longo de 200 mil quilómetros de vida útil. Já Javier Pérez, investigador da UPM, lamentou que o público continue a receber informação incompleta, centrada sobretudo nas emissões do escape.

Combustíveis renováveis ganham relevância no novo quadro europeu

Macarena de la Llave, da Repsol, destacou que o novo padrão permitirá avaliar tecnologias sem enviesamentos regulatórios e corrigir penalizações atuais aplicadas aos combustíveis renováveis. Recordou que sectores como a aviação e o transporte marítimo já reconhecem oficialmente a descarbonização obtida por estes combustíveis, enquanto o transporte rodoviário permanece como a grande exceção.

A investigadora sublinhou que os combustíveis renováveis poderão descarbonizar o transporte pesado, criar sinergias com os combustíveis sustentáveis de aviação e reforçar a independência energética europeia, ao mesmo tempo que promovem emprego e desenvolvimento industrial.

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