É oficial: BCE sobe taxas de juro em 50 pontos-base. Turbulência financeira não detém subida

O Banco Central Europeu (BCE) anunciou hoje que decidiu aumentar as três principais taxas de juro do BCE em 50 pontos base, em linha com a sua determinação em assegurar o regresso atempado da inflação ao objetivo de médio prazo de 2%.

André Manuel Mendes
Março 16, 2023
13:17

O Banco Central Europeu (BCE) anunciou hoje que decidiu aumentar as três principais taxas de juro do BCE em 50 pontos base, em linha com a sua determinação em assegurar o regresso atempado da inflação ao objetivo de médio prazo de 2%. Desta forma, o regulador não se viu afetado pela instabilidade financeira, tendo a taxa de depósito subido para os 3%.

“O elevado nível de incerteza reforça a importância de uma abordagem dependente de dados para as decisões de taxa de juros do Conselho do BCE, que serão determinadas pela sua avaliação das perspetivas de inflação à luz dos dados económicos e financeiros recebidos, a dinâmica da inflação subjacente e a força da transmissão da política monetária”, escreve o regulador em comunicado.

Assim, as taxas de juro das operações principais de refinanciamento e das facilidades permanentes de cedência de liquidez e de depósito serão aumentadas para 3,50%, 3,75% e 3,00%, respetivamente, com efeitos a partir de 22 de março de 2023.

O BCE confirma que está a acompanhar de perto as atuais tensões do mercado e está pronto a responder conforme necessário para preservar a estabilidade de preços e a estabilidade financeira na área do euro. “O setor bancário da Zona Euro é resiliente, com fortes posições de capital e liquidez. Em todo o caso, o kit de ferramentas de política do BCE está totalmente equipado para dar apoio de liquidez ao sistema financeiro da Zona Euro, se necessário, e para preservar a transmissão harmoniosa da política monetária”.

“O impacto desta subida foca-se no controlo da inflação. O facto de haver menos rendimento disponível leva a abrandamento do consumo, desincentivo ao crédito e abrandamento do investimento. Toda economia será afetada, mas os mais afetados negativamente serão sempre aqueles que estiverem mais endividados”, explica à Executive Digest, Vítor Madeira, analista da XTB.

“A subida terá um impacto imediato no setor do crédito, com subidas das taxas Euribor. Os principais afetados serão aqueles que tiverem empréstimos com taxas variáveis, como por exemplo as hipotecas das casas, que irão pagar prestações mais altas”, afirma Ricardo Evangelista, analista sénior da ActivTrades.

Questionados se a política de aperto monetário do BCE está a gerar resultados concretos no combate à inflação, Ricardo Evangelista afirma que sem a política monetária mais restritiva que tem vindo a ser adotada, a inflação estaria ainda mais alta. Por outro lado, Vítor Madeira considera que não está, até à data, a gerar resultados concretos, e que teremos que esperar para ver ao longo dos próximos meses.

“Na minha ótica, o BCE demorou muito tempo a reagir à inflação, para além disso subiu as taxas muito lentamente. Isso pode levar a Zona Euro para um contexto de estagflação caso o desemprego comece a escalar. As taxas de juro deveriam subir de forma rápida para que seja estancada a inflação numa fase precoce, para que depois seja feito o ajuste da descida da taxa de forma gradual”, explica.

 

O que esperar?

“No cenário atual, com um mercado laboral com escassez de oferta, e onde os salários têm subido muito, controlar a inflação não é tarefa fácil e vai requerer mais aumentos dos juros”, considera o analista sénior da ActivTrades.

Assim, Ricardo Evangelista acredita em novas subidas de 25 pontos-base em junho e julho.

Vítor Madeira também concorda que iremos observar a mais subidas das taxas de juro. “É de notar que em 2012 o BCE exigiu aos bancos mais garantias nos seus rácios e aumento das reservas. Poderá acontecer que neste contexto de instabilidade o BCE possa colocar algumas medidas aos bancos para a segurança do sistema financeiro”.

Ambos também partilham da ideia de que dificilmente veremos um corte antes de 2024 ou enquanto a inflação não descer dos 3%, relembrando que a meta do BCE é os 2%.

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