Accenture: «A onda de inovação vai mudar a forma como vivemos»

A Accenture tem vindo a ajudar os seus clientes e parceiros a definir a visão e os objectivos para o 5G, e a acelerar a sua jornada de transformação digital. Em entrevista à Executive Digest, Vasco Costa, managing director na área de Comunicações, Media e Tecnologia da Accenture Portugal, explica como é que as empresas se devem começar a preparar para a próxima revolução móvel.


O 5G é uma tecnologia que vai levar as nossas vidas para outro nível. Considera que as empresas nacionais estão conscientes do carácter diferenciador que o 5G pode ter nos seus negócios?

O 5G não é apenas mais um “G” na história de gerações móveis – é muito mais do que um passo geracional – uma vez que será o elemento central de transformação da sociedade e no papel que a tecnologia móvel pode desempenhar no seu progresso. A rede 5G é o elemento chave que irá permitir que as empresas, governos e pessoas possam maximizar o potencial e a aplicabilidade de novas tecnologias como smart cities, realidade virtual e veículos autónomos, e irá impactar a forma como vivemos e nos relacionamos.

No contexto empresarial, o 5G traz a possibilidade de inovação disruptiva que permite que as empresas criem novos produtos e serviços, optimizem as cadeias de valor e desta forma maximizem novas oportunidades de mercado.

Em Portugal, e num contexto de relacionamento profissional e pessoal com o tecido empresarial português, creio que nos últimos anos, e principalmente após a situação pandémica que vivemos, os gestores aperceberam-se da necessidade imperiosa de transformação e inovação digital das suas empresas e indústrias. Desta forma sentimos um movimento forte na procura de novas abordagens e soluções, e neste contexto, o 5G será o factor central e agregador deste ciclo de transformação.


Qual o papel da Accenture neste contexto e como pode ser a parceira ideal das empresas?

O 5G irá alterar drasticamente a forma como as empresas operam e competem, permitindo desenvolver novos casos de uso e novos modelos de negócio nos mais variados sectores. Desta forma, as empresas precisam de se começar a preparar desde já para a próxima revolução 5G.

A nível internacional, e segundo o estudo Accelerating the 5G Future of Business da Accenture, a maioria dos decisores concordam que o 5G não vai ser apenas um “game changer”, acreditando que a nova tecnologia terá um impacto sísmico e maior que qualquer outra evolução tecnológica anterior. Entre os benefícios apontados estão ganhos na eficiência, interconectividade, novas oportunidades de negócio e sustentabilidade ambiental e social.

Todavia, e apesar de todo este entusiasmo, há uma série de barreiras na adopção e industrialização de aplicativos e tecnologia 5G.

As organizações que querem aproveitar a oportunidade do 5G têm algumas decisões a tomar. Desde a identificação e valorização de casos de uso prioritários à respectiva arquitectura e plataformas de inovação, passando pela implementação de novos modelos de negócio e estratégias de dispositivos, as organizações têm que navegar por um conjunto complexo de dimensões e decisões operacionais, garantindo o correcto balanceamento entre investimento e o respectivo ROI.

O desenho da estratégia e a criação de um ecossistema de parcerias será vital e um factor crítico de sucesso. E é neste contexto que a Accenture tem vindo a ajudar os clientes e parceiros, inicialmente a definir a sua ambição e visão para o 5G, para de seguida acelerar a sua jornada de transformação digital.

Fomos recentemente nomeados líderes na primeira edição do relatório PEAK Matrix® Assessment 2021 do grupo Everest, que considerou que a Accenture planeia e desenvolve soluções diferenciadoras no mercado. Esta distinção reconhece-nos como o parceiro ideal das empresas na evolução para o 5G, uma vez que oferecemos uma gama rica de serviços ajudando as organizações desde a idealização ao design, desenvolvimento e operações de uma rede 5G e das aplicações verticais nos múltiplos segmentos da indústria.


Quais as inovações e os serviços já existentes que irão reinventar-se aproveitando a alta velocidade e a baixa latência do 5G?

Atrevo-me a dizer que as oportunidades de melhoria existem em todos os campos de actuação. No estudo “The Impact of 5G on the European Economy”, focamo-nos detalhadamente em cinco grandes sectores: a indústria transformadora, de transportes e automóvel, saúde, utilities e agricultura.

Em relação ao primeiro sector, o 5G permitirá conexões seguras e abrangentes em todo o “chão de fábrica” permitindo atingir um nível de automatização, sincronização e de controlo que não eram possíveis até agora. Combinando as capacidades da rede 5G com outras tecnologias permitirá obter informação chave em tempo real e actuar de forma a melhorar o planeamento, precisão, produtividade e eficiência das cadeias de produção.

No sector dos transportes, a rede 5G fornecerá a velocidade de rede necessária para capturar e analisar em tempo real os dados associados aos variados sensores nos veículos e nas vias de comunicação. A baixa latência, vai garantir que a informação possa viajar entre veículos/rede de forma instantânea, permitindo a massificação de veículos autónomos. A nível da mobilidade, a gestão em tempo real do tráfego irá permitir optimizar a circulação, melhorando a segurança e contribuindo de forma directa para a sustentabilidade ambiental.

Na saúde, será um enabler crítico da Internet of Medical Things ao garantir entre outros: 1) a transmissão rápida e processamento dos variados dados médicos recolhidos por um número crescente de wearables, sensores multimodais, etc; 2) a riqueza de interacções médicas em configurações remotas/ domésticas, com boa comunicação bidireccional, vídeo HD e uma ampla gama de sensores biométricos, contribuindo para a segurança e qualidade do atendimento médico independentemente da localização do paciente; 3) a confiabilidade e latência extremamente baixa em aplicações de suporte a pacientes críticos ou no suporte a cirurgias remotas.

No sector de utilities, garantir a comunicação de todos elementos que compõem as redes de energia ou as refinarias está entre as aplicações mais exigentes em termos de fiabilidade e de cobertura. As redes de comunicação precisam de cobrir todos os territórios de serviço, incluindo áreas remotas de produção/distribuição. Milhões de dispositivos precisam ser interligados em rede (smart grid) com um grau extremo de confiabilidade e segurança, com alto desempenho e baixa latência para oferecer suporte a uma ampla variedade de casos de uso.

Por fim, no sector agro-florestal, ao possibilitar uma sensorização massiva dos terrenos e ecossistema florestal, o 5G oferece aos produtores a capacidade de obter insights de campo precisos tendo a oportunidade de optimizar cada metro quadrado de plantações e possibilitando a redução dos custos de produção, a optimização de recursos, contribuindo para um ambiente mais sustentável, e um aumento estimado de 15% no rendimento das colheitas.


De que forma o 5G vai revolucionar áreas como as smart cities ou a IoT?

O advento das smart cities levará a um aumento exponencial na densidade de conexão de sensores e dispositivos IoT ligados em rede (massive IoT). Segundo um estudo da GSMA, em 2020 existiam na Europa mais de 423M de utilizadores móveis e 2,5B de conexões IoT. Até 2025 é expectável que estes valores cresçam para 450M e 4,3B respectivamente, números que a infra-estrutura actual terá desafios em suportar.

Ao pensarmos em smart cities, temos que imaginar um contexto em que tudo está interconectado sejam sensores de parqueamento, postes de iluminação, pontos de água/electricidade, caixotes de lixo, carros/veículos autónomos, bicicletas/trotinetes, detectores de fumo, semáforos etc… O que irá obrigar as redes de comunicação a suportar uma conectividade massivamente densa de elementos e a transportar um volume sem precedentes de dados que serão gerados por estes dispositivos.

A rede 4G/LTE foi projectada principalmente para melhorar os serviços de dados móveis, sofrendo todavia de inúmeras limitações, Com a capacidade de conectar um milhão de devices por metro quadrado (10x mais que as redes actuais), o 5G irá libertar todo o potencial de IoT Massivo e será a força motriz para acelerar a criação e expansão de cidades inteligentes.


Quais são os desafios que o 5G traz à cibersegurança?

A cibersegurança e a percepção de risco associado a redes de 5G é um tema de elevada complexidade.

A rede 5G foi construída para garantir a fiabilidade das suas ligações. E a segurança foi um dos principais factores tidos em conta no planeamento e desenvolvimento do 5G, tendo sido incorporada desde o início na sua concepção e tornando esta rede muito mais segura que as actuais.

Neste contexto o tráfego de voz e de dados na infra-estrutura 5G encontram-se protegidos por criptografia de última geração, enquanto os equipamentos são autenticados, usando encriptação avançada o que protege a sua identidade e integridade. Adicionalmente, o 5G é uma rede de redes, em que determinadas fatias de espectro (slicing de rede) podem ser compartimentadas e usadas em função das necessidades, tornando a rede mais segura e resiliente.

No entanto, apesar destas capacidades e melhorias há um conjunto de novos riscos e desafios para garantir a segurança da rede e dos seus utilizadores: a diversidade e heterogeneidade associada aos biliões de dispositivos que se irão ligar à rede vai aumentar de forma significativa os pontos de ataque e a complexidade na gestão e manutenção da segurança, e o aumento exponencial de tráfego de dados torna mais difícil a sua gestão e controlo dificultando a detecção de ataques.

A criticidade das redes 5G para a implementação de alguns dos seus casos de uso mais promissores e gestão de ecossistemas complexos com multiplos players, vai obrigar a níveis de autenticação mais forte do lado do serviço para garantir a consistência de segurança entre os diferentes actores, a integridade da supply-chain e a identidade dos seus utilizadores.

A protecção da rede passa pela consciencialização de todos os stakeholders envolvidos e pela criação de um mindset de security first quer se trate do regulador, operador, empresas, fabricantes de devices/software ou consumidor final.


Quais as áreas que mais podem beneficiar da chegada da quinta geração das redes móveis?

Ao permitir comunicações bidireccionais de grande volume de dados, o potencial para suportar milhões de dispositivos por quilómetro quadrado, e uma resposta ultra-confiável em milissegundos, o 5G será fundamental para garantir a aplicabilidade e o sucesso de tecnologias como a realidade virtual/aumentada (VR/AR), edge computing e IoT, acelerando o advento de smart cities, fábricas conectadas e de veículos autónomos entre outros.

De acordo com o estudo da Accenture, o impacto do 5G na economia europeia levará a um crescimento incremental da produção bruta (vendas) de 2,0 biliões de euros entre 2021 e 2025. No mesmo período, o 5G adicionará 1,0 bilião de euros ao PIB europeu criando 20 milhões de novos empregos e com efeitos multiplicadores que serão sentidos em todos os sectores de economia.Os benefícios do 5G serão sentidos em todas as regiões, estimando-se um aumento de 11 mil milhões de euros no PIB e a criação ou transformação de até 260 mil empregos em Portugal.

Espera-se que por cada euro introduzido pelo efeito do 5G na indústria de tecnologias de informação e comunicação, seja criado um euro adicional noutros sectores da economia.


O 5G pode acelerar a recuperação das empresas no pós-pandemia?

Acreditamos que a tecnologia 5G será um dos principais drivers para posicionar a economia europeia e nacional num trajecto de recuperação acelerada. Esta tecnologia terá um forte impacto na economia através da sua capacidade de transformar indústrias, criando novos produtos e modelos de negócio; de melhorar a produtividade e optimizar os custos, levando ao aumento de outpts económicos; e finalmente, de melhorar a qualidade dos serviços e, portanto, a disponibilidade do consumidor em investir mais em bens e serviços.

Quando totalmente implementada, esta tecnologia irá oferecer experiências únicas que a maioria de nós não consegue ainda conceber. A onda de inovação que o 5G permitirá atingir, vai mudar a forma como vivemos e trabalhamos, e criará paradigmas inteiramente novos. Urge definir a ambição para Portugal, e este é momento, como sociedade, para o fazermos acontecer.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “5G / O Mundo da Conectividade”, publicado na edição de Fevereiro (n.º 191) da Executive Digest.