Jorge Rebelo de Almeida, Grupo Vila Galé: XVII Barómetro Executive Digest
A “enxurrada” de dinheiro da União Europeia prevista para os próximos anos é uma óptima notícia para todos. A simples entrada no sistema dos pacotes de dinheiro será sempre positiva e traduzirá algum limitado crescimento e desenvolvimento, como tem acontecido ao longo dos últimos anos, em que o país melhorou, mas pouco. Não direi que é a última oportunidade, pois não gosto de afirmações catastróficas, mas direi com toda a segurança que esta é uma oportunidade soberana para “fazer o que ainda não foi feito”. A opção só pode ser a de gizar um plano de acções concretas e prioritárias com uma dimensão, abrangência e ambição nacionais e que privilegie as reformas que possam gerar impactos positivos e reprodutivos com efeitos a médio e longo prazo. Em síntese, tem de haver coragem política para mobilizar o país, para realizar as reformas que todos sabemos serem essenciais para um salto qualitativo do país mas que temos receio em assumir. As urgentes e imprescindíveis reformas da organização administrativa/territorial do país; da administração pública; da justiça; das forças armadas; do SEF; da fusão das forças de segurança pública; do Sistema Nacional de Saúde e por aí fora destinam-se a obter ganhos de racionalidade e eficácia, com a participação dos próprios e tendo em vista o reforço do seu prestígio e competência. Estas reformas não são contra ninguém, são a favor e em benefício de todos e do país (eventualmente com prejuízo de alguns, pouco privilegiados). É preciso destruir este e outros mitos de que estas reformas vão gerar descontentamento nas populações e provocar roturas abruptas. Se bem estruturadas, justas e racionais e sobretudo bem explicadas e comunicadas e ainda envolvendo todos os directamente interessados. Não têm de ser dramáticas, nem produzir efeitos instantâneos, pelo contrário têm de ser implementadas de forma consistente e segura, tranquila e confiante com a convicção da razão que as sustenta. Mas têm de marcar um rumo, um caminho, um percurso e acima de tudo uma meta que é a de melhorar a competência, a transparência, a ética, o rigor, a eficácia e a produtividade e afinal o desígnio de melhorar a vida das pessoas. Se queremos ter êxito na economia, temos de cativar as empresas, os investidores nacionais e internacionais e todos os que nelas trabalham para um projecto inovador. O mesmo temos de fazer com os “players” dos diversos sectores a reestruturar, pois são eles os principais interessados. Acredito que temos liderança política capaz e adequada a este exigente desafio, mas que precisará de algumas substituições e reforços da sua equipa e acima de tudo o envolvimento de todos. Que o desafio é bem difícil, a exigir esforços e trabalhos de grande monta e com muitos riscos é uma certeza. Mas que vale a pena o sacrifício é consensual e indiscutível.
Testemunho publicado na edição de Abril (nº. 181) da Executive Digest, no âmbito da XVII edição do seu Barómetro.