Com a chegada do mês de agosto, o Algarve transforma-se na região com maior pressão sobre os serviços de saúde em Portugal. Com uma população residente de cerca de 467 mil pessoas, segundo os Censos de 2021, o número de pessoas presentes na região mais do que duplica durante o verão, ultrapassando frequentemente o milhão de habitantes temporários, entre turistas nacionais e estrangeiros. Para fazer face a esta sobrecarga, a Unidade Local de Saúde (ULS) do Algarve colocou em marcha um Plano de Contingência que vigora desde 1 de julho e se estende até ao final de agosto, podendo ser ajustado conforme a evolução da procura.
Entre as medidas anunciadas, destaca-se a criação de duas consultas adicionais destinadas a situações agudas de baixa complexidade em Quarteira e Altura, especialmente dirigidas a turistas e não residentes. Aos fins-de-semana, estas consultas funcionam em Quarteira, entre as 12h00 e as 18h00, enquanto às quartas e sextas-feiras operam em Altura, entre as 15h00 e as 17h00. “Estas unidades visam garantir maior proximidade e segurança clínica aos utentes, ao mesmo tempo que aliviam a pressão sobre os serviços de urgência hospitalar”, explica a ULS ao Diário de Notícias. O atendimento é assegurado por equipas multidisciplinares e não requer marcação prévia.
A escolha de Quarteira e Altura para estas respostas complementares justifica-se pela elevada ocupação turística e pela distância face às urgências hospitalares. Segundo a ULS, os casos que necessitem de avaliação hospitalar serão reencaminhados pelas próprias equipas, de modo a garantir que apenas situações clínicas com critérios adequados acedam aos hospitais. Já Tavira dispõe, durante todo o ano, de uma consulta para utentes não inscritos, ou seja, para quem não pertence aos ficheiros dos médicos de família da região.
Para dar resposta ao aumento sazonal da procura, foram também disponibilizadas mais 20 camas de internamento no Centro de Medicina e Reabilitação do Sul, prontas a serem ativadas caso se registe pressão sobre as urgências hospitalares de Faro e Portimão. A ULS Algarve refere ainda que “aumentou as tabelas da prestação de serviços médicos em valores que variam entre 5% e 15%”, como forma de garantir resposta contínua e eficaz nos serviços de urgência. Contudo, não foi adiantado ao DN o número exato de profissionais contratados para este reforço temporário.
A rede de urgências da região é composta por seis serviços em funcionamento permanente: três hospitalares (Faro, Portimão e Lagos) e três urgências básicas nos centros de saúde de Loulé, Albufeira e Vila Real de Santo António, todos operacionais 24 horas por dia. Ainda assim, sindicatos da saúde alertam que os problemas estruturais da região se mantêm, agravando-se de ano para ano. No passado dia 30 de julho, médicos, enfermeiros e técnicos de saúde anunciaram uma greve conjunta para 7 de agosto, sublinhando a “falta de recursos humanos em todas as classes profissionais” como o principal fator de risco para o acesso aos cuidados de saúde durante o verão.
As estruturas sindicais chamam a atenção para os riscos que tanto residentes como visitantes podem enfrentar nesta altura do ano, exigindo soluções estruturais para além dos reforços sazonais. Entre as medidas propostas destacam-se a valorização das carreiras, a contratação de mais profissionais, a criação de incentivos à permanência na região, horários compatíveis com a vida pessoal e profissional, e concursos que respondam às legítimas expectativas de progressão nas carreiras. Como afirmam, “os problemas de saúde no Algarve devem ser uma preocupação de todos”.













