“A Médis está aberta a todos os portugueses”: André Rufino, responsável do Ecossistema Saúde Médis, Grupo Ageas Portugal

Em entrevista à Executive Digest, André Rufino, responsável do Ecossistema Saúde Médis, Grupo Ageas Portugal, explica as mudanças que estão a acontecer na saúde em Portugal e como estas estão a transformar a Médis.

Executive Digest
Dezembro 13, 2024
9:55

Em entrevista à Executive Digest, André Rufino, responsável do Ecossistema Saúde Médis, Grupo Ageas Portugal, explica as mudanças que estão a acontecer na saúde em Portugal e como estas estão a transformar a Médis.

Desde o lançamento em 1996, a Médis afirmou-se como uma referência no sistema de saúde em Portugal, criando um verdadeiro Serviço Pessoal de Saúde. Qual o contributo do sector segurador para a economia da Saúde?

Desde a sua origem, em 1996, a Médis sempre se pensou como muito mais do que um seguro de saúde. Via a nossa linha de enfermagem, o Médico Assistente Médis, o Médico Online disponível em várias especialidades, entre outros, fazemos muito mais do que financiar a saúde dos nossos Clientes. Somos, verdadeiramente, um Serviço Pessoal de Saúde.

No que toca ao contributo do sector segurador para a economia da saúde, de acordo com um inquérito desenvolvido pelo Observatório dos Seguros de Saúde no âmbito da actividade da Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões (ASF), 42% da população portuguesa tem um seguro ou um plano de saúde. Este número, como sabemos, tem crescido consistentemente.

Seja porque o Serviço Nacional de Saúde (SNS) está a atravessar dificuldades na sua capacidade de resposta, seja porque os portugueses confiam nas seguradoras, é um facto que o nosso papel na saúde está a tornar-se – porventura já é – estrutural no nosso país.

Em complemento, dizer também que se olharmos para os dados da “Conta Satélite” 2023, do Instituto Nacional de Estatística (INE), segundo os quais cerca de 30% da despesa de saúde ainda é suportada diretamente pelas famílias (o chamado out of pocket), e comparando esta percentagem elevada com outros países da OCDE, facilmente percebemos o grande potencial de evolução que todos (seguradoras e não só) temos pela frente. A força deste número mostra bem a necessidade que ainda temos de criar novas soluções que ajudem as famílias em Portugal a ter mais e melhor acesso à saúde.

Quais os principais desafios e oportunidades da empresa para o sector da Saúde em Portugal?

A Médis “faz bem à saúde”. Esta é a nossa missão desde o dia zero, já lá vão quase 30 anos. É nela que orientamos toda a nossa visão, estratégia e actuação. Isto quer dizer que os desafios e oportunidades que se apresentam à Médis estão directamente ligados ao que, em cada momento, significa “fazer bem à saúde”. Até há uns anos, a saúde era quase exclusivamente entendida como a gestão da doença. Estávamos – todo o sector – muito focados na perspectiva curativa. Hoje, a noção de saúde amplificou-se e tornou-se mais holística. Abarca o bem-estar e uma componente, importantíssima, a preventiva. Tal abre-nos um espectro de possibilidades e oportunidades muito maior. Mais: possibilita que a Médis possa ir muito além dos Clientes do seguro.

Hoje a Médis está efectivamente aberta a todos os portugueses. Essa abertura acontece na prestação de cuidados de saúde, com 14 clínicas de saúde oral e a recente aquisição da One Clinics, um importante prestador na fisioterapia e reabilitação. Mas a abertura acontece também via soluções mais digitais. O exemplo mais recente é o Médis Active, uma app de saúde e bem-estar lançada há muito pouco tempo, que paga até 180€ por ano a todos os portugueses que façam bem à sua saúde (seja fazer actividade física, ler receitas saudáveis ou ouvir sons calmantes, tudo conta).

Explorar novas formas – mais pró-ativas, preventivas e abertas – de “fazer bem à saúde” é, por tudo isto, uma das nossas áreas de foco.

O recente estudo “BI da Saúde dos Portugueses, 2024”, lançado no âmbito do projecto Saúdes, dá-nos ainda outras pistas relevantes. Num futuro próximo, fazer bem à saúde passará também por trabalhar o acesso (sobretudo em algumas geografias e classes sociais), a saúde mental (sobretudo nos jovens), a saúde no trabalho, entre outros temas.

Que medidas gostariam de destacar e que foram postas em prática para melhorar a experiência do cliente?

A satisfação dos nossos Clientes deve sempre ser uma prioridade, mas ainda mais quando o tema é saúde. A este título gostaria de citar novamente o estudo “BI da Saúde, 2024”, na medida em que o mesmo vem contrariar um pouco a narrativa (talvez) demasiado pessimista que se instalou sobre a saúde em Portugal. Neste estudo, 53% dos inquiridos que utilizam os serviços de saúde, públicos ou privados, consideram a qualidade dos serviços elevada ou muito elevada. Esta melhoria é conduzida essencialmente pelo sector público, onde o acesso à digitalização tem sido decisivo no aumento da satisfação. Tal demonstra bem como, na saúde, a digitalização e a satisfação na experiência de Cliente andam, e andarão, de mãos dadas.

Na Médis há muito que percebemos isso, daí a aposta forte que continuamente fazemos na transformação digital. Via App Médis, por exemplo, cada um dos nossos Clientes tem, de forma facilitada, na palma da mão, a gestão do seu seguro de saúde, assim como o acesso rápido ao histórico clínico, ao médico online, à marcação de consultas e exames, entre outras funcionalidades. Outro exemplo é o avaliador de sintomas que desenvolvemos. É baseado em Inteligência Artificial (IA) e está aberto a todos os portugueses, permitindo assim um despiste rápido de sintomas e, com isso, potencialmente evitar idas desnecessárias às urgências. Para os Clientes do seguro, este avaliador tem ligação direta à Linha Médis Triagem, disponível 24h, atendida por uma equipa de enfermagem especializada e em constante formação.

A app Médis Active, já referida anteriormente, é outro exemplo, assim como o nosso recente Marketplace, com milhares de artigos e produtos de saúde e bem-estar. Hoje a Médis significa um conceito de saúde 360º, para todos, o que amplifica muito a experiência que proporcionamos.

Qual o papel da inovação em todo este processo?

Sem sombra de dúvida, a inovação assume um papel fundamental como um acelerador de processos, e não só. Vai – e já está a fazê-lo – transformar o modelo tradicional de gestão de saúde num triplo sentido.

Por um lado, pelo aumento do acesso e da conveniência. Através das plataformas e soluções digitais, da telemedicina, entre outros, vamos continuar a assistir ao cada vez maior e mais fácil acesso, ao diversificar do número de soluções e especialidades disponíveis, e à simplificação na ótica do utilizador.

Por outro lado, a diversificação e o maior nível de engagement dos programas de prevenção. Wearables, dispositivos e programas pesonalizados de saúde e bem-estar serão em número cada vez maior, e com utilização cada vez mais facilitada, ajudando-nos a reduzir os custos (que necessariamente aumentam por via da maior longevidade e consequente crescimento da incidência de doença crónica).

Finalmente, na crescente confiança, transparência e segurança dos dados, que terá forçosamente de existir. A maior conscientização sobre a necessidade de privacidade dos dados e sobre o uso responsável da informação, aliadas à inovação dos sistemas de segurança, garante a protecção dos dados dos Clientes. Estamos convictos de que a comunicação transparente, apoiada por tecnologia segura, promove a confiança, a lealdade e a satisfação.

A telemedicina e a saúde digital vão evoluir e influenciar a acessibilidade e a qualidade dos cuidados de saúde?

Na nossa óptica, sim, sem dúvida. No “BI da Saúde 2024”, como já referi, voltámos a comprovar o acesso irregular aos cuidados de saúde no nosso país. A região do Grande Porto destaca-se como a mais favorecida. Já o Algarve revela estar numa situação mais crítica, com os residentes a reportarem um sentimento de falta de acompanhamento e de dificuldades no acesso à saúde.

A tecnologia (via saúde digital e telemedicina) pode ajudar a suprir esta lacuna, melhorando e democratizando o acesso. E o “BI da Saúde” mostra, através de dados, que isso já está a acontecer, ou seja, os portugueses estão cada vez mais a aderir à saúde digital, com 68% a utilizar tecnologia para monitorizar pelo menos um indicador de saúde.

Além disso, a medicina digital permite ainda poupar tempo nas deslocações, reduzir os tempos de espera nas urgências e nas consultas de especialidade dos hospitais públicos e privados, diminuindo assim a pressão sobre os serviços. Neste ponto, os números da telemedicina Médis são claríssimos: mais de 90% das teleconsultas que realizámos evitaram novas consultas (de urgência e/ou especialidade). Talvez, por isso, assistamos, na telemedicina da Médis, a um crescimento anual médio do número de consultas na casa dos 40%.

Como prevê a evolução da medicina personalizada?

Vemos essa evolução como algo natural (resultado dos avanços da ciência e da tecnologia) e necessário (por questões de eficiência e sustentabilidade do sistema). Tanto do lado da gestão da doença (por exemplo o cancro, onde a oncologia personalizada se desenvolve cada vez mais), como do lado da gestão da saúde e do bem-estar (os wearables permitirão exponenciar essa personalização).

Hoje é relativamente consensual que a prática médica deve ir além da biologia, genética e fisiologia. Igualmente importantes são os dados sociodemográficos, ambientais, os estilos de vida, o nível de literacia e informação ou a história de vida. A saúde é, também, muitíssimo subjectiva e biográfica, logo, necessariamente personalizada e personalizável. Na Médis, via projecto Saúdes (e daí o nome deste projecto) acreditamos que não existe uma saúde, mas tantas quantos os portugueses.

Quais são as tendências demográficas que acredita que terão um impacto significativo na entrega de cuidados de saúde no futuro?

Em primeiro lugar – sendo Portugal um dos países mais envelhecidos do mundo – tenho de falar do envelhecimento da população, resultante da menor natalidade e da maior esperança média de vida. Termos mais anos de vida é uma enorme conquista (uma das maiores e melhores da história da humanidade), mas é também sinónimo de mais doença crónica, o que se traduz na necessidade de mais cuidados de saúde, cada vez mais especializados.

Depois – algo que nos dá esperança porque tende a compensar a quebra da natalidade – as migrações. Somos um país crescentemente mais diverso em nacionalidades e etnias, o que exige, também nos serviços de saúde, uma adaptação a novas e diferentes necessidades, uma dialética distinta com e nos sistemas de saúde.

Segue-se a saúde mental e a pressão crescente do seu impacto sobre as organizações, comunidades, famílias e a economia. Segundo dados do “BI da Saúde 2024”, 18% dos jovens entre os 18 e os 24 anos assumem doença mental diagnosticada nos últimos dois anos e 32% dos trabalhadores sentem que o tipo ou o ritmo do seu trabalho é ‘muito’ ou ‘bastante’ prejudicial à sua saúde. São dados que nos devem fazer pensar.

Este artigo faz parte do Caderno Especial “O futuro da Saúde”, publicado na edição de Novembro (n.º 224) da Executive Digest.

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