Por Helder Alves, Diretor de Defesa e Segurança da Indra em Portugal (Indra Group)
O mundo está cada vez mais volátil e os ventos da instabilidade sopram de múltiplas direções, desde a guerra na Ucrânia às tensões no Médio Oriente, passando pela proliferação de ciberataques. Importa assim refletir sobre o verdadeiro papel da Defesa nas sociedades democráticas, pois mais do que uma função militar, a Defesa é, acima de tudo, um pilar essencial da liberdade, da soberania e da paz duradoura. Reforçá-la é, por isso, também defender a Democracia.
Durante décadas, muitos países europeus habituaram-se a viver num clima de segurança garantida, confiando na ordem internacional do pós-Guerra Fria e nas alianças multilaterais como a NATO, para assegurar a estabilidade. No entanto, acontecimentos recentes mostram-nos que a paz não é um dado adquirido, mas um bem precioso que exige vigilância, investimento e preparação.
A invasão da Ucrânia não foi apenas uma violação flagrante do direito internacional, mas também um lembrete atroz de que, mesmo em pleno século XXI, há forças dispostas a recorrer à violência para impor agendas autoritárias. No Médio Oriente, a complexidade dos conflitos é alimentada por disputas territoriais, religiosas e ideológicas, com implicações globais. Também em pleno século XXI, a guerra faz-se ainda no domínio digital, onde os ciberataques se tornaram numa arma de disrupção política e económica, ameaçando infraestruturas críticas, instituições democráticas e também a confiança dos cidadãos.
Neste contexto, encarar a Defesa como um simples braço armado do Estado é muito redutor. Os investimentos em Defesa não servem apenas para adquirir equipamento militar ou aumentar a capacidade de resposta em caso de um conflito armado. São investimentos estratégicos que tocam várias dimensões da vida coletiva. Desde logo, estes investimentos são um garante da soberania nacional. Um país que não dispõe de meios para proteger o seu território, as suas populações e os seus valores, está vulnerável à imposição externa. Mas mais do que isso, uma Defesa robusta é também uma alavanca da coesão social. A Defesa implica assim inovação tecnológica, formação especializada, criação de emprego qualificado e desenvolvimento de competências críticas. A indústria de Defesa é, frequentemente, um motor de progresso científico e tecnológico, com aplicações que extravasam muito para além do setor militar.
Além disso, a Defesa é um espaço onde se afirma o compromisso com os valores democráticos. As Forças Armadas, em sociedades livres, são instituições ao serviço da República, subordinadas ao poder civil e pautadas pela legalidade e pelos direitos humanos. Investir na sua modernização, na sua preparação e na sua integração com outras dimensões da segurança nacional — como a ciberdefesa, a proteção civil e a diplomacia — é reforçar a Democracia e aumentar a resiliência coletiva.
Nos tempos que vivemos, em que a desinformação aumenta e a confiança pública diminui, em que o extremismo ganha terreno e em que os equilíbrios geoestratégicos estão em mutação, precisamos de encarar a Defesa como parte da solução global. Defender a Democracia não se faz apenas com palavras ou votos — faz-se também com a capacidade de a proteger, de dissuadir ameaças e de garantir que as próximas gerações herdam um país livre, seguro e em paz. Por isso, sim: reforçar a Defesa é, indiscutivelmente, defender a nossa Democracia.




