Governo a “navegar com costa à vista” tem tudo para “entrar numa crise política”, indicam especialistas

Sílvia Mangerona, João Pachco e José Filipe Pinto apontaram as falhas do Executivo de Luís Montenegro nesta rentrée política

Executive Digest Contents
Setembro 8, 2025
10:23

Verão de incêndios; falta de professores no regresso às aulas; caos no SNS. Os analistas políticos, escreveu esta segunda-feira a ‘CNN Portugal’, garantiram que o Governo de Luís Montenegro não tem muito para mostrar nesta rentrée política – se o país está a melhorar, muita gente não o vê, garantiram.

“A resposta é negativa. Não vejo nada de melhor nesta rentrée. O único fator positivo será a abertura que o Governo está a ter quando decide ouvir os outros partidos em várias matérias”, frisou a politóloga Sílvia Mangerona. Também João Pacheco frisou que “o Governo entra neste novo ciclo político mais desgastado”.

“Haverá certamente números e resultados para apresentar, mas são matérias que demoram a concretizar-se. Mesmo a questão da economia, temos o exemplo do setor têxtil, que está a começar a tremer. É um Governo que deixou de ter agenda. E tem tudo para entrar numa crise política. Só lhe falta tempo… e mais desgaste”, apontou o politólogo.

Já José Filipe Pinto frisou tratar-se de um “Governo que tem andado a navegar com costa à vista. Mais do que um projeto reformista, vai apresentando medidas aleatórias nos vários setores. E vai à boleia de quem se disponibiliza para lhe dar boleia”, atirou o politólogo. No entanto, há uma área que se destaca pela positiva: o Trabalho. “É a única área que apresenta um grande pendor reformista, com mais de 100 alterações ao Código do Trabalho.”

No entanto, apontaram os especialistas, há um problema profundo e transversal no Executivo de Luís Montenegro: a comunicação. Sobretudo Maria Lúcia Amaral, ministra da Administração Interna, com o seu famoso “vamos embora” no momento de os jornalistas fazerem perguntas sobre o combate aos incêndios. O episódio, reforça João Pacheco, “demonstra arrogância e prepotência. Este Governo continua sem ter um ministro da Administração Interna”. “A ministra ou primou pela ausência ou marcou um distanciamento que a fragilizou a ela e a todo o executivo”, acrescentou José Filipe Pinto.

Ainda assim, o Governo tem na descida dos impostos um ‘trunfo’, apesar da ideia de ser “um presente envenenado”. “Essa área não está a correr muito bem para o Governo. Não se percebe muito bem qual é o caminho deste avançar com dinheiro em relação ao IRS. Tudo se vai pagar a médio prazo. Deixa-nos incomodados, porque não se percebe a finalidade”, salientou Sílvia Mangerona. “O perigo está no facto de os portugueses terem uma costela supranumerária. Por norma, não estão virados para a poupança, mas para o gasto”, salientou José Filipe Pinto.

Então, o que pode fazer o Governo para voltar a ganhar a confiança dos portugueses? “Além das conversas com os outros partidos, para transmitir com maior clareza que há uma vontade de mudança, o primeiro-ministro devia esclarecer de uma vez por todas o caso Spinumviva. A rentrée devia começar por aí. Essas incongruências têm de ser esclarecidas”, defendeu Sílvia Mangerona.

“O Governo não pode continuar com esta evolução na continuidade, porque não é despejando dinheiro que se resolvem os problemas. É preciso uma política reformista, negociando com todos os partidos. Mas não podem ter medo de apresentar medidas, mesmo sem a luz verde da oposição”, frisou José Filipe Pinto. “Têm de se sentar, vestir o fato de governantes e assumir o comando do país. Mais do que estarem preocupados com a apresentação do Orçamento do Estado para 2026, deviam criar e apresentar medidas a médio prazo, pelo menos a quatro anos”, concluiu João Pacheco.

Partilhar

Edição Impressa

Assinar

Newsletter

Subscreva e receba todas as novidades.

A sua informação está protegida. Leia a nossa política de privacidade.