Espanha recua na compra de caças F-35 aos EUA e aposta em soluções europeias

O governo espanhol decidiu abandonar os planos de aquisição dos caças norte-americanos F-35, uma decisão que representa um revés significativo para a fabricante Lockheed Martin e poderá aumentar as tensões diplomáticas entre Madrid e Washington.

Pedro Gonçalves
Agosto 6, 2025
15:33

O governo espanhol decidiu abandonar os planos de aquisição dos caças norte-americanos F-35, uma decisão que representa um revés significativo para a fabricante Lockheed Martin e poderá aumentar as tensões diplomáticas entre Madrid e Washington. A informação foi avançada esta quarta-feira pelo jornal El País e posteriormente confirmada pelo Ministério da Defesa de Espanha ao Politico.

Segundo o El País, os contactos preliminares com os Estados Unidos para a compra das aeronaves furtivas de quinta geração foram suspensos “por tempo indefinido”, com o governo espanhol a optar por alternativas de fabrico europeu, como o Eurofighter Typhoon — já em operação — e o Future Combat Air System (FCAS), ainda em desenvolvimento.

“A opção espanhola passa pelo atual Eurofighter e, no futuro, pelo FCAS”, declarou o Ministério da Defesa espanhol ao Politico.

A decisão constitui uma derrota significativa para a Lockheed Martin, num momento em que Madrid vinha mantendo interesse nos F-35 desde 2017, ano em que emitiu um pedido de informação não vinculativo sobre o programa americano.

O orçamento espanhol de 2023 previa uma dotação inicial de 6,25 mil milhões de euros destinada à substituição das aeronaves das Forças Armadas, tanto da Marinha como da Força Aérea. O plano contemplava especificamente o fim da operação dos Harrier AV-8B da Marinha até 2030, com a possibilidade de serem substituídos por unidades do F-35B, a versão de descolagem e aterragem vertical utilizada por países como os Estados Unidos e a Itália.

Simultaneamente, a Força Aérea espanhola considerava o F-35A como uma solução transitória para substituir os McDonnell Douglas F/A-18 Hornet, em operação desde os anos 80, até à entrada em funcionamento do FCAS, que está a ser desenvolvido em conjunto por Espanha, França e Alemanha.

Uma escolha política e estratégica
Para além dos aspetos técnicos e financeiros, a escolha espanhola tem também forte carga política e estratégica. Ao rejeitar a solução norte-americana, Espanha reafirma o seu compromisso com a defesa europeia e a autonomia estratégica da União Europeia no setor da aviação militar. Esta decisão reforça o apoio ao programa FCAS, que representa um dos pilares do esforço europeu para reduzir a dependência tecnológica e militar dos Estados Unidos.

O FCAS, ainda em fase de desenvolvimento, deverá estar operacional na década de 2040 e integra, além do caça de nova geração, um ecossistema de drones, sensores, inteligência artificial e capacidades de guerra em rede.

A decisão poderá também agravar as tensões já existentes entre Madrid e Washington, particularmente num momento em que o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, insiste em que os países da NATO aumentem o seu investimento em defesa para 5% do PIB — uma meta que o Primeiro-Ministro Pedro Sánchez tem criticado abertamente.

A recusa em adquirir os F-35 poderá assim ser interpretada como mais um sinal de distanciamento político entre os dois aliados, com implicações potenciais para o relacionamento bilateral no quadro da NATO.

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