Já se pronunciou? Consulta pública para avaliar novo guião da disciplina de Cidadania termina hoje

Mudança surge alinhada com as promessas políticas feitas por Luís Montenegro, que em outubro de 2024 afirmou querer libertar a disciplina de Cidadania “das amarras de projetos ideológicos”

Francisco Laranjeira
Agosto 5, 2025
7:30

A Direção-Geral da Educação indicou que a consulta pública “aos formulários para contributos para a Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania e para as Aprendizagens Essenciais de Cidadania e Desenvolvimento”, indisponíveis “por razões técnicas”, foi alargado até esta terça-feira.

Os documentos estão sob consulta pública desde o dia 21: no entanto, a plataforma do Ministério da Educação, onde é possível deixar os contributos, não funcionou, pelo que o Governo decidiu estender o prazo.

Recorde-se que o Governo português quer reformular profundamente os conteúdos da disciplina de Cidadania e Desenvolvimento. A proposta prevê o afastamento da abordagem obrigatória de temas como a sexualidade e o bem-estar animal, em favor de áreas como a literacia financeira e o empreendedorismo. A iniciativa parte do Ministério da Educação, Ciência e Inovação e insere-se na nova Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania, que manterá a disciplina como obrigatória, mas com novas prioridades.

Entre as alterações mais significativas está a eliminação da obrigatoriedade de tratar a sexualidade e a saúde sexual e reprodutiva nos 2º e 3º ciclos do ensino básico. Em vez disso, propõe-se que os alunos aprendam a “respeitar questões relacionadas com a intimidade e a privacidade de cada pessoa”, num enquadramento mais geral, dentro da área da Saúde. Já a identidade de género será abordada no âmbito dos Direitos Humanos, com a sugestão de análise de casos de violência contra pessoas com orientação sexual ou expressão de género não normativa.

A componente de literacia financeira ganha agora maior peso no currículo. As novas aprendizagens essenciais para o 1º ciclo passam a incluir conceitos como a importância da poupança, distinção entre contrair e conceder empréstimos, e os mais velhos serão incentivados a elaborar orçamentos pessoais e familiares, bem como a desenvolver “projetos empreendedores”. Esta vertente será transversal a todos os ciclos de ensino e junta-se a outros temas obrigatórios como Direitos Humanos, Democracia e Instituições Políticas e Desenvolvimento Sustentável.

Também o bem-estar animal passa a ter um papel mais secundário. A proposta determina que o tema seja tratado apenas no 2º ciclo, no qual os alunos devem “refletir sobre situações em que a ação humana pode comprometer o bem-estar animal”. Outras temáticas como Saúde, Segurança Rodoviária, Pluralismo e Diversidade Cultural e Media manter-se-ão obrigatórias ao longo do percurso escolar, cabendo às escolas decidir em que ano de cada ciclo serão lecionadas.

A mudança surge alinhada com as promessas políticas feitas por Luís Montenegro, que em outubro de 2024 afirmou querer libertar a disciplina de Cidadania “das amarras de projetos ideológicos”. Recorde-se que a disciplina foi criada durante a ‘Geringonça’, resultado do entendimento entre PS, Bloco de Esquerda, PCP e PEV, e previa até aqui a inclusão da sexualidade como área obrigatória, incluindo a promoção do respeito pela diversidade na orientação sexual.

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