A eficiência energética no setor industrial

Opinião de Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros

Executive Digest
Julho 16, 2025
11:54

Por Luís Gil, Membro Conselheiro e Especialista em Energia da Ordem dos Engenheiros

É referido por várias instituições que o setor da energia é responsável por cerca de 75% das emissões globais de gases de efeito de estufa (GEE). A Agência Internacional de Energia (AIE), no seu cenário de desenvolvimento sustentável, refere que mais de 40% da necessária redução de emissões em 2040, aumentando quatro vezes em relação ao panorama atual, pode ser conseguida através da eficiência energética.  Para isso o contributo da digitalização, da inteligência artificial (IA) e de políticas adequadas é fundamental. Face a isto, alguns referem mesmo que a eficiência energética pode ser considerada como o “primeiro combustível”.

Uma análise efetuada há algum tempo, relativa aos maiores países/regiões do planeta (incluindo EUA, China, UE) permitiu verificar que, em 2018, a eficiência energética permitiu poupar uma quantidade de eletricidade equivalente à eletricidade produzida por via eólica e solar nesses locais.

No setor industrial, as tecnologias associadas à eficiência energética são essenciais para aumentar a produção, reduzir custos e minimizar o impacto ambiental. Assim, para se ter uma noção das perspetivas neste domínio, vou sumarizar aqui, de forma abreviada algumas das “ferramentas” tecnológicas que podem ser usadas, referindo as melhorias aportadas, vantagens e desvantagens e limitações.

Os processos de controlo avançado usam dados analíticos para otimizar em tempo real os processos industriais reduzindo as perdas e o consumo da energia, o que aumenta a eficiência, mas requer uma gestão de dados adequada e depende da qualidade e disponibilidade desses dados.

Os sistemas de gestão de energia, relacionados com software que monitoriza e otimiza o uso da energia, identificam as ineficiências energéticas, facilitam os processos de decisão e promovem estratégias que reduzem o consumo de energia. Requerem uma gestão adequada e updates de software, sendo que o sucesso depende dos utilizadores e da integração dos dados.

Os isolamentos, que reduzem as perdas de calor e podem reduzir drasticamente as perdas de energia, mantendo as temperaturas adequadas, significam importantes poupanças energéticas com a consequente redução de custos. Os custos associados à sua aquisição e instalação podem ser inicialmente elevados e a sua eficácia varia com o tipo de materiais de isolamento usado e as condições utilizadas.

Os sistemas de recuperação de calor residual, que são os sistemas que capturam o excesso de calor dos processos e o utilizam ou transformam noutras formas de energia, reduzem assim as perdas de energia, aumentam a eficiência e baixam os custos e as emissões. Requerem, no entanto, investimento no reequipamento e adaptação dos sistemas existentes e a sua eficácia depende do tipo de processo e da disponibilidade do calor.

Os variadores de frequência, que controlam a velocidade dos motores reduzem o ajuste à procura, reduzem o consumo energético e aumento o tempo de vida dos motores, mas podem ter custos elevados de instalação e não ser adequados para todas as aplicações.

Os motores de alta eficiência, reduzem a geração de calor e reduzem, naturalmente, os custos operacionais, mas requerem uma avaliação de compatibilidade com os sistemas existentes.

A produção combinada de calor e eletricidade (cogeração), em que são gerados simultaneamente a partir de uma única fonte de energia, pode conseguir alcançar 60 a 80% de eficiência. Reduzindo o consumo do combustível e as emissões, pode, porém, ter um elevado custo de capital inicial e ter alguma complexidade de instalação, sendo mais adequada para utilização de grande escala.

Por fim, é de assinalar também a integração das energias renováveis nos próprios processos industriais (ex. solar de concentração para a produção de calor) que reduz a dependência dos combustíveis fósseis e baixa os custos operacionais e reduz as emissões. No entanto depende da fonte de energia e da localização, para além das condições atmosféricas, sendo que o investimento inicial pode ser substancial.

Verifica-se assim que será necessária uma estratégia multidimensional e que inclua vários atores, pois as ações ligadas à eficiência energética, de uma maneira geral, mas sobretudo no setor industrial, terão que ser tomadas pelos stakeholders desse setor mas também pelos diversos níveis de poder e decisão a nível nacional e internacional. Fatores como a integração tecnológica, barreiras regulamentares, resistências culturais, restrições de mercado, pressões geopolíticas e económicas, entre outros, terão que ser lidados em vários patamares.

Dado o peso da eficiência energética na descarbonização da economia, impõe-se um esforço continuado na sua implementação e crescimento!

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