Reino Unido: Autor de ataque a escola de dança que matou menina portuguesa e outras duas crianças condenado a 52 anos de prisão

Axel Rudakubana, de 18 anos, foi condenado a prisão perpétua, com uma pena mínima de 52 anos, pelo Tribunal Penal de Liverpool, no Reino Unido. O jovem foi considerado culpado pelos homicídios de Alice da Silva Aguiar, uma menina portuguesa de nove anos, Bebe King, de seis anos, e Elsie Dot Stancombe, de sete anos, durante um ataque brutal numa aula de dança em Southport, no passado mês de julho.

O ataque ocorreu durante uma aula de dança temática sobre Taylor Swift, onde várias crianças estavam presentes. Rudakubana invadiu o estúdio de dança munido de uma faca de cozinha com 20 centímetros, esfaqueando indiscriminadamente as crianças. Alice da Silva Aguiar, filha de pais madeirenses, foi uma das vítimas mortais, marcando o caso com uma dimensão particular em Portugal.

Outras oito crianças e dois adultos, Leanne Lucas e John Hayes, ficaram feridos no ataque. De acordo com as autoridades, as crianças sobreviventes, cujas identidades estão protegidas por razões legais, ficaram profundamente traumatizadas. Os pais das vítimas relataram que os seus filhos regrediram no desenvolvimento, necessitando agora de cuidados semelhantes aos de bebés pequenos.

Além dos homicídios, Rudakubana foi também condenado por outras 13 acusações, incluindo tentativa de homicídio, posse de arma branca, produção de uma toxina biológica (ricina) e posse de material de índole terrorista. Entre os documentos encontrados na sua posse estava um ficheiro PDF intitulado “Estudos militares na Jihad contra os tiranos, o manual de treino da Al Qaeda”.

Inicialmente, o ataque foi alvo de desinformação nas redes sociais, com alegações infundadas de que o autor era um imigrante muçulmano. Essa narrativa fomentou protestos anti-imigração, que se transformaram em motins em várias cidades do Reino Unido, com grupos de extrema-direita a usarem o caso como pretexto para espalhar violência e intolerância.

Na realidade, Rudakubana é cidadão britânico, filho de pais ruandeses, e foi criado numa família católica. O tribunal concluiu que o crime não esteve diretamente associado a qualquer organização terrorista, embora o jovem tenha demonstrado inspiração em ataques terroristas e massacres escolares.

Sessão de julgamento interrompida pelo comportamento do arguido
Durante a audiência, Rudakubana mostrou-se visivelmente descontrolado. O jovem, que se apresentou com uma máscara cirúrgica que lhe cobria o rosto, interrompeu várias vezes a sessão, gritando que precisava de um paramédico. “Estou a sentir-me mal, preciso de ajuda!”, exclamou.

O juiz responsável, Justice Goose, assegurou que o arguido tinha sido avaliado por médicos na manhã da audiência e estava apto a participar. Quando Rudakubana se recusou a acalmar-se, foi removido da sala à força pelos seguranças e colocado numa sala adjacente. O julgamento prosseguiu sem a sua presença.

Stan Reiz, advogado de defesa do jovem, tentou suspender a sessão, mas o juiz recusou, sublinhando a gravidade do caso. “Este é um dos crimes mais chocantes e excepcionalmente graves que este tribunal já julgou. É improvável que Rudakubana alguma vez deixe a prisão”, afirmou Justice Goose.

A sessão contou com testemunhos emocionantes das professoras que estavam presentes na aula de dança, bem como de familiares das crianças sobreviventes. Os relatos destacaram o impacto devastador do ataque, com muitas das vítimas a sofrerem traumas psicológicos profundos e permanentes.

A condenação de Rudakubana foi recebida como um ato de justiça, mas o caso deixou cicatrizes profundas na comunidade de Southport e entre os familiares das vítimas. Para os pais de Alice da Silva Aguiar, a perda da filha representa uma dor irreparável, intensificada pelo facto de o ataque ter acontecido num local que deveria ser seguro e protegido.