Economista alerta empresários portugueses para impactos das economias americana e chinesa
A Europa a crescer abaixo das grandes economias dos Estados Unidos e da China trará desafios acrescidos aos empresários portugueses, em 2025, e é preciso esperar para ver o efeito Trump nos mercados, alertou hoje o economista João Duque.
Portugal vai crescer “um bocadinho acima do crescimento europeu, mas abaixo do americano e muito mais abaixo do chinês”, afirmou hoje o economista João Duque, perante mais de uma centena de empresários reunidos em Alcobaça, no distrito de Leiria, para o ouvir dissertar sobre as perspetivas económicas e financeiras para 2025.
No encontro promovido pela Associação Empresarial do Oeste (AIRO), o também docente do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) alertou para os desafios resultantes de a União Europeia (UE) “crescer abaixo do crescimento esperado para as grandes economias dos Estados Unidos, China e até mundial”.
A expetativa do economista é “que a economia portuguesa mantenha um crescimento superior ao de 2024”, podendo ultrapassar os 2%, prevendo que não venham a revelar-se problemas “ao nível das variáveis de emprego”, com o tecido empresarial a continuar “a absorver aqueles que chegam ao mercado de trabalho”.
A previsão do economista é também que as taxas de juro baixem, “mas não de uma forma tão acentuada quanto prevista, nem tão rapidamente”, defendendo que será preciso “esperar para ver o efeito [Donald] Trump no mercado, particularmente ao nível do domínio da inflação nos Estados Unidos e da inflação na Europa, que está um bocadinho resistente a descer”.
“A expectativa face àquilo que possa ser o desenvolvimento da inflação nos Estados Unidos, que depois acarretará uma decisão do Banco Central Americano sobre as taxas de juro, acaba por retardar aquilo que estava programado para a Europa” acrescentou, explicando que a “previsão de enfraquecimento do euro no mercado monetário vem acarretar o problema se poder importar inflação para a UE por essa via”, já que muitas matérias-primas têm os preços estabelecidos em dólares.
Ressalvando que o enfraquecimento do euro “muitas vezes é bem visto pelos exportadores, porque ficam com os seus produtos mais baratos para entrar no mercado dos Estados Unidos”, sublinhou que a grande questão será saber se este país “vai ou não impor taxas que venham a esbater essa vantagem competitiva”.
Dois dias depois da tomada de posse de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos, João Duque disse ser preciso deixar assentar a poeira para ter uma visão mais clara sobre os impactos na economia portuguesa do mercado americano que “é já o mercado fora da Europa mais importante para a exportação de bens”.
O maior impacto, afirmou, será “na dinâmica que se possa estabelecer ao nível europeu naquilo que possa ser a guerra comercial com os Estados Unidos, por via das tarifas que se podem levantar” e, por outro lado, “na guerra comercial com a China, que tem estado a começar a crispar um bocadinho”.
Reconhecendo em Donald Trump “um negociador nato”, João Duque acredita que o Presidente americano “vai fazer muito barulho, vai exigir imenso, mas, como qualquer negociador, está disponível para ceder nas negociações”.
Nomeadamente em coisas “que parecem absolutamente impossíveis, como, por exemplo, expulsar 22 milhões de pessoas”, número estimado de imigrantes ilegais nos Estados Unidos.
Imaginando que 50% desses imigrantes estejam “a trabalhar e integrados”, o economista considera impossível “mandar embora 11 milhões de pessoas” sem que isso tenha um impacto nas próprias empresas”, o que “seria quebrar a confiança que os empresários americanos têm” no Presidente ao qual grandes empresas demonstraram “um apoio político que não é comum”.