UE e México reforçam acordo comercial mesmo antes de Trump tomar posse (e aplicar as temidas tarifas)
A União Europeia (UE) e o México concluíram, na sexta-feira, as negociações para a modernização do seu acordo comercial, reforçando uma parceria estratégica dias antes da posse de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. Trump, que baseou a sua campanha em promessas protecionistas, ameaçou aplicar tarifas de 25% aos vizinhos México e Canadá, além de taxas de 10% a 20% sobre importações da UE, com o setor automóvel europeu particularmente em risco.
A modernização do “acordo global” entre o bloco de 27 países e o México promete ampliar oportunidades nos serviços, fortalecer cadeias de fornecimento e proteger investimentos, conforme comunicado da Comissão Europeia após as negociações entre o chefe do comércio da UE, Maroš Šefčovič, e o ministro da Economia do México, Marcelo Ebrard.
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, destacou o impacto positivo do acordo: “Este acordo histórico prova que o comércio aberto e baseado em regras pode contribuir para a nossa prosperidade e segurança económica.” A relação comercial bilateral é avaliada em mais de 100 mil milhões de euros anuais, sendo quatro quintos em bens e um quinto em serviços.
Setor automóvel em foco
A Associação da Indústria Automóvel Alemã (VDA) sublinhou a importância política da modernização do acordo em tempos de crescente protecionismo. O setor automóvel e de peças é uma das maiores categorias de exportação da Europa para o México, com a Alemanha a liderar com 2,5 mil milhões de euros em exportações em 2022.
O acordo concede uma vantagem aos exportadores automóveis da UE, permitindo-lhes beneficiar de tarifas mais baixas no México sob regras menos rigorosas, em comparação com as condições impostas aos exportadores mexicanos.
A UE celebrou ainda as oportunidades de exportação para o setor agroalimentar, com a eliminação de tarifas que chegavam a 100% sobre produtos como queijo, carne de porco, massas, maçãs, compotas, marmeladas, chocolate e vinho. A proteção das indicações geográficas, uma espécie de marca registada para produtos premium, será ampliada para 568 produtos. Procedimentos de exportação também serão simplificados.
O acordo original, datado de 2000, já necessitava de uma atualização. A UE havia revisado o seu acordo com o Chile de forma semelhante dois anos antes. Um alto funcionário da UE admitiu que o novo acordo é menos ambicioso do que o planeado em 2020, mas destacou a necessidade de evitar que o México procurasse outros parceiros comerciais, o que poderia colocar a UE numa posição desfavorável.
Antes da posse de Trump, o acordo envia uma mensagem a Washington sobre a influência diplomática e as opções comerciais globais da UE. O processo de reforma no setor energético do México permitiu a conclusão do acordo, embora tenha limitado algumas concessões importantes para a UE.
A reformulação das condições no setor energético mexicano, regressando a uma lei de 2013 que liberalizava o mercado, significa que as empresas mexicanas continuarão a gozar de certos direitos e privilégios, enquanto a quota de importação de produtos sensíveis como carne bovina e etanol do México para a Europa será reduzida a metade em comparação com o quase acordo de 2020.