Entre Tusk e Orbán: Com novos protagonistas, é na Europa Central que agora se decidem os destinos da UE

O destino da União Europeia (UE) está, cada vez mais, vinculado às dinâmicas políticas e ideológicas de Europa Central. A análise publicada no European Council on Foreign Relations, da autoria de Piotr Buras e intitulada “New protagonists: Why the EU’s future will be decided in central Europe”, explora como líderes como Donald Tusk, primeiro-ministro polaco, e Viktor Orbán, o controverso primeiro-ministro húngaro, se tornaram símbolos de visões antagónicas para o futuro do bloco.

Em janeiro de 2025, a Polónia assumiu a presidência do Conselho da UE, sucedendo a Hungria, liderada por Orbán. Este momento marca uma intensificação da disputa ideológica entre dois líderes que representam polos opostos no cenário político europeu. Se, por um lado, Tusk defende uma UE unificada, democrática e liberal, por outro, Orbán promove uma visão soberanista e conservadora, que desafia os princípios fundadores da União.

Uma disputa ideológica que reflete crises europeias
A rivalidade entre Tusk e Orbán transcende questões políticas locais e reflete os desafios existenciais que a UE enfrenta atualmente. A guerra na Ucrânia, a ascensão de governos autoritários e a fragmentação do consenso democrático são algumas das crises que moldam este confronto.

Enquanto Orbán se posiciona como um opositor das normas liberais da UE, declarando em março de 2024 que “as forças nacionais, conservadoras, soberanas e cristãs têm agora uma oportunidade única de dominar a União Europeia”, Tusk adota uma postura de defesa intransigente da democracia liberal. Esta divergência torna-se ainda mais evidente nas abordagens de ambos à guerra na Ucrânia: Tusk vê o apoio a Kiev como essencial para a segurança europeia, enquanto Orbán advoga uma aproximação a Moscovo e defende um acordo com Vladimir Putin, mesmo que à custa da soberania ucraniana.

Orbán e a revisão da União Europeia
Orbán tem sido claro quanto à sua visão de uma “Europa à la carte”, onde os Estados-membros têm maior liberdade para moldar as suas políticas internas e externas. Para o líder húngaro, o Ocidente perdeu relevância como modelo político, defendendo que “a Hungria não é membro da UE pelo que ela é, mas pelo que poderia ser”. Em discursos recentes, Orbán elogiou a “resistência” da Rússia e sugeriu que o futuro do poder global reside na Ásia, com parcerias estratégicas com países como a China e a Turquia.

Este posicionamento colide diretamente com os esforços de Tusk para fortalecer a coesão europeia. Sob a presidência polaca do Conselho da UE, Tusk propôs a criação de um novo fundo europeu para financiar aquisições conjuntas de defesa e ajuda militar a longo prazo para a Ucrânia. Estas iniciativas são vistas como um passo crucial para reforçar a capacidade da UE de agir de forma independente em matéria de segurança.

O papel central de Tusk na luta pela democracia
A presidência polaca assume-se como uma oportunidade para Tusk reafirmar os valores fundamentais da UE, nomeadamente a democracia e o Estado de direito. Segundo a análise de Piotr Buras, o primeiro-ministro polaco enfrenta uma missão difícil, pois não se trata apenas de preservar a unidade da UE, mas de garantir a sua sobrevivência enquanto projeto democrático. “O que está em jogo não é apenas a unidade europeia, mas a própria essência da União”, sublinha Buras.

Embora Tusk tenha sido moldado por crises como a financeira, a dos refugiados e o Brexit, o desafio atual exige mais do que pragmatismo. A sua abordagem cautelosa pode ser insuficiente num contexto de crescente influência da extrema-direita europeia, particularmente após a reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos. Contudo, as suas recentes iniciativas diplomáticas e de defesa geram esperança de que Tusk consiga ultrapassar as limitações e conduzir a UE numa direção estável.

O futuro da UE: era Tusk ou era Orbán?
A disputa entre Tusk e Orbán simboliza as tensões que definem o momento atual da União Europeia. Enquanto Tusk se concentra em reforçar a democracia e proteger a segurança europeia, Orbán procura redesenhar a UE de acordo com os seus princípios soberanistas, encontrando aliados em líderes como Robert Fico, na Eslováquia, e Herbert Kickl, na Áustria.

A análise conclui que, pela primeira vez desde 1989, Europa Central tem uma influência decisiva no curso da história europeia. Este é um momento crucial, em que a União Europeia enfrenta escolhas fundamentais que determinarão o seu futuro: integrar-se em torno de valores democráticos ou ceder ao autoritarismo. Como destaca Buras, “a história europeia será decidida entre Tusk e Orbán. Não há outro caminho à vista”.