Dos desafios do envelhecimento à barreira financeira: Esta é a realidade do acesso à saúde em Portugal
Portugal enfrenta desafios significativos relacionados com o envelhecimento populacional e o acesso equitativo a cuidados de saúde. Dois relatórios recentes, elaborados no âmbito da Iniciativa para a Equidade Social – uma parceria entre a Fundação “la Caixa”, o BPI e a Nova SBE – que serão hoje apresentados, destacam medidas prioritárias para combater a pobreza entre idosos e melhorar o acesso à saúde.
Envelhecimento ativo e impacto económico
O “Relatório de Envelhecimento”, liderado pelos investigadores Pedro Pita Barros e Carolina Santos, sublinha que, até 2070, 39,2% da população portuguesa terá pelo menos 60 anos. O estudo alerta para a necessidade de respostas sociais que promovam o envelhecimento saudável, reduzam a pobreza e combatam a solidão, fenómeno que afeta negativamente a saúde e os custos associados.
Uma das prioridades apontadas é controlar a morbilidade na população idosa, incentivando estilos de vida saudáveis que diminuam a necessidade de cuidados intensivos. Tal estratégia poderia aliviar a pressão sobre os recursos do sistema de saúde e sobre os cuidadores informais, cuja disponibilidade está em declínio.
Portugal também precisa de reforçar a proteção financeira para despesas de saúde, especialmente entre idosos com baixos rendimentos. O relatório revela que 14,2% dos idosos não compraram os medicamentos necessários em 2023 devido a dificuldades económicas.
Apesar de avanços em políticas de envelhecimento ativo, Portugal ainda está abaixo da média europeia no Índice de Envelhecimento Ativo (IEA). Para melhorar, os investigadores recomendam estratégias que promovam a participação social e níveis elevados de saúde e segurança entre adultos mais jovens (40-59 anos).
Acesso à saúde: a barreira financeira persiste
O “Relatório Acesso a Cuidados de Saúde 2023”, da mesma equipa, revela que, apesar da eliminação da maioria das taxas moderadoras no Serviço Nacional de Saúde (SNS), as barreiras financeiras continuam a limitar o acesso aos cuidados de saúde. Em 2023, cerca de 11,3% dos portugueses não recorreram ao sistema de saúde após um episódio de doença, sendo a automedicação a principal alternativa, escolhida por 75,6% desses casos.
O relatório aponta que os medicamentos disponíveis em casa e as experiências anteriores de saúde são fatores determinantes na decisão de automedicar-se, embora esta prática tenha aumentado também por influência de amigos e familiares. Segundo os investigadores, a automedicação é um comportamento que merece monitorização devido aos riscos para a saúde e à sustentabilidade do sistema.
As barreiras financeiras também se refletem na aquisição de medicamentos e na procura de consultas ou urgências, afetando principalmente os grupos socioeconómicos mais vulneráveis. Em 2023, 66% dos indivíduos da classe mais desfavorecida (E) enfrentaram pelo menos um episódio de doença, contra apenas 29% nas classes mais favorecidas (A e B).
Soluções para um futuro sustentável
Os dois relatórios convergem na necessidade de criar políticas públicas que assegurem um envelhecimento digno e inclusivo. Recomenda-se o reforço da proteção financeira, o incentivo ao envelhecimento saudável, a adaptação das cidades às necessidades dos mais velhos e a criação de estratégias eficazes para combater a solidão.