Equipa de Trump dá passo atrás e já admite que fim da guerra na Ucrânia vai demorar vários meses

A promessa eleitoral de Donald Trump de negociar imediatamente, mal tome posse, um acordo de paz que coloque fim à guerra na Ucrânia, está a enfrentar obstáculos crescentes e é a própria equipa do presidente eleito a admitir, agora, que a medida demorará mais tempo a estar concluída do que o inicialmente adiantado. Assessores do presidente eleito dos Estados Unidos reconhecem que o conflito poderá levar meses, ou até mais, a ser resolvido, marcando um recuo significativo em relação às promessas feitas durante a campanha para as presidenciais nos EUA.

Durante a campanha, Trump afirmou repetidamente que resolveria o conflito entre a Rússia e a Ucrânia no seu primeiro dia de mandato, ou mesmo antes de assumir o cargo. No entanto, dois dos seus colaboradores próximos, que discutiram o tema com o presidente eleito, admitiram à Reuters que essas declarações refletem tanto o estilo de retórica de campanha como um desconhecimento das dificuldades inerentes ao conflito e à necessidade de preparar adequadamente a nova administração.

Keith Kellogg, general reformado e futuro enviado especial de Trump para a Rússia e Ucrânia, partilhou uma avaliação mais cautelosa numa entrevista à Fox News, afirmando que gostaria de alcançar uma “solução” para o conflito em cerca de 100 dias. No entanto, John Herbst, ex-embaixador dos EUA na Ucrânia e atualmente no think tank Atlantic Council, considerou essa previsão “extremamente otimista”. Herbst destacou que para Trump obter progressos, seria necessário convencer Vladimir Putin, presidente da Rússia, de que existem consequências negativas para a sua postura intransigente.

Retórica ajustada e desafios diplomáticos
A partir de outubro, Trump começou a suavizar a sua posição, afirmando que poderia resolver o conflito “muito rapidamente” e, após a eleição, limitou-se a declarar que iria “resolver” o problema, sem mencionar prazos. Numa conferência de imprensa em dezembro, Trump admitiu que alcançar um acordo na Ucrânia seria mais difícil do que negociar um cessar-fogo em Gaza, referindo: “A situação Rússia-Ucrânia será, na verdade, mais complicada.”

Do lado russo, as reações têm sido mistas. Enquanto o Kremlin expressou interesse em negociações diretas com Trump, também descartou algumas das propostas dos seus assessores como impraticáveis. O embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya, referiu recentemente que os planos de paz apresentados pela equipa de Trump eram “nada de interesse”.

Ganhos russos no terreno e incentivos para prolongar o conflito
Nos últimos meses, a Rússia registou avanços significativos no campo de batalha, embora a um custo elevado em termos de perdas humanas e materiais. Alguns analistas acreditam que Putin tem interesse em prolongar as negociações enquanto tenta consolidar ganhos territoriais.

As ideias discutidas pela equipa de Trump incluem, alegadamente, a exclusão da possibilidade de adesão da Ucrânia à NATO num futuro próximo e a criação de uma zona desmilitarizada patrulhada por tropas europeias. Embora tais propostas possam servir como base para negociações, enfrentam resistência significativa tanto na Ucrânia como na comunidade internacional.

Os esforços da nova administração têm avançado de forma irregular, ilustrando as dificuldades em transformar promessas de campanha em acordos diplomáticos concretos. Keith Kellogg adiou uma visita a Kiev planeada antes da inauguração de Trump, que tinha como objetivo recolher informações e preparar o terreno para um plano de paz. O adiamento foi atribuído a preocupações com a violação do Logan Act, que limita negociações entre cidadãos privados e governos estrangeiros.

Enquanto isso, o governo ucraniano permanece cético em relação às intenções da administração Trump, sobretudo diante das propostas que sugerem concessões significativas à Rússia.

Desafios internos na equipa de política externa
Dentro da equipa de transição de Trump, as funções e responsabilidades sobre questões geopolíticas ainda estão a ser definidas. Segundo um dos conselheiros de política externa do presidente eleito, as diferentes agências, incluindo o Departamento de Estado e o Conselho de Segurança Nacional, continuam a ajustar os seus papéis na formulação de estratégias.

Numa conferência de imprensa recente, Trump lamentou não poder encontrar-se com Putin antes de assumir oficialmente o cargo, declarando: “Odeio isso porque todos os dias muitas, muitas pessoas jovens estão a ser mortas.”