Rússia ofereceu até 200 mil dólares por cada soldado ocidental morto pelos Taliban no Afeganistão
Uma investigação conjunta entre o portal de notícias independente russo The Insider e o jornal alemão Der Spiegel expôs novas alegações sobre a colaboração entre a agência de inteligência militar da Rússia, o GRU, e o grupo militante Taliban. De acordo com o relatório, o GRU terá pago até 200 mil dólares por cada soldado ocidental morto no Afeganistão.
A investigação traz novos elementos que corroboram as revelações feitas em 2020 pelo The New York Times. Na altura, foi noticiado que a inteligência russa teria oferecido recompensas a militantes para assassinarem tropas americanas e da coligação no Afeganistão. Apesar das acusações, o governo russo negou qualquer envolvimento.
Em 2021, a Casa Branca afirmou ter “baixa a moderada confiança” nessas alegações. No entanto, a investigação mais recente traz detalhes que reforçam os indícios de uma operação coordenada entre o GRU e os Taliban.
Durante uma investigação de 18 meses, The Insider entrevistou ex-funcionários da Direção Nacional de Segurança (NDS) do Afeganistão. Estes afirmaram que Moscovo financiou ataques do Taliban contra tropas da coligação entre 2016 e 2019.
O relatório aponta que o GRU pagava 200 mil dólares por cada soldado da coligação morto, além de quantias menores por ataques a soldados afegãos. No total, os Taliban teriam recebido cerca de 30 milhões de dólares. Parte desse dinheiro também teria sido distribuída a outros grupos armados que se opunham ao governo de Cabul.
A operação estaria ligada à Unidade 29155 do GRU, conhecida por ações encobertas no exterior. Essa unidade teria recrutado pelo menos três redes de intermediários afegãos para atuar como ligação entre os militares russos e os grupos armados ilegais.
Uma empresa de comércio de pedras preciosas teria sido usada como fachada para o funcionamento de uma rede de mensageiros. Esses couriers transportavam os fundos para os combatentes dos Taliban e outros grupos. De acordo com a investigação, alguns desses mensageiros receberam documentos russos e asilo no país.
Michael Weiss, editor de The Insider, escreveu na rede social X: “Descobrimos novas evidências de que o GRU da Rússia pagou dezenas de milhões de dólares aos Taliban no Afeganistão para alvejar forças americanas, da coligação e afegãs… identificámos os oficiais e os seus agentes afegãos.”
Um ex-agente da CIA, também citado no relatório, descreveu a inação americana face a estas revelações: “Houve muitos momentos em que fomos atingidos, mas nos disseram para não fazer nada por medo de uma escalada.”
Seis antigos oficiais da CIA que analisaram os dados recolhidos disseram que os resultados da investigação complementam e ampliam o entendimento da comunidade de inteligência americana sobre as operações do GRU no Afeganistão.
As acusações de colaboração entre Moscovo e os Taliban foram politicamente exploradas nos Estados Unidos. Em 2020, democratas usaram as revelações do The New York Times como evidência de que Donald Trump não confrontava a Rússia de forma adequada. Apesar do presidente Joe Biden ter abordado o assunto numa chamada com Vladimir Putin logo após assumir funções em 2021, não foram tomadas medidas específicas pelos EUA em resposta às alegações.
Desde a retirada caótica dos EUA do Afeganistão em 2021, a relação entre Moscovo e os Taliban tem-se fortalecido, apesar de o grupo ser oficialmente considerado uma organização terrorista na Rússia. Segundo The Insider, essa cooperação entre o GRU e os Taliban permanece ativa, sugerindo que os laços entre os dois poderão continuar a evoluir nos próximos anos.