O ‘pesadelo’ da China na Síria: A ameaça dos islamistas na rota da seda
A transformação da Síria num bastião islamista desencadeou uma das maiores preocupações da China: a ascensão do Partido Islâmico do Turquemenistão (PIT). Este grupo jihadista, composto em grande parte por combatentes uigures – uma minoria étnica de origem turca que luta pela autonomia na região chinesa de Xinjiang – tem vindo a consolidar-se como um ator chave na insurgência síria, aliado a Al-Qaeda. Os líderes do PIT na Síria já declararam a sua intenção de levar a “guerra santa” à China, o que gerou preocupação em Pequim. Este grupo, que anteriormente operava no Afeganistão e no Paquistão, poderá agora utilizar a Síria como uma plataforma para lançar ataques contra interesses chineses, desestabilizando Xinjiang e projetos estratégicos como a Nova Rota da Seda.
A região de Xinjiang é vital para a China, tanto pelos seus recursos naturais como pela sua posição estratégica. No entanto, as políticas repressivas do governo chinês para com os uigures, incluindo vigilância massiva, campos de reeducação e assimilacão cultural forçada, alimentaram o ressentimento e reforçaram a narrativa extremista do PIT. Pequim enfrenta agora um dilema geopolítico: embora tradicionalmente tenha evitado envolver-se diretamente em conflitos internacionais, a ascensão de grupos islamistas como o PIT representa uma ameaça direta para a sua estabilidade interna e influência na Ásia Central. Este cenário pode redefinir o equilíbrio de poder global, levando o impacto da crise síria até ao coração da China.
Apesar de a Síria ser importante para a China, a política performativa tem reforçado narrativas que frequentemente exageram a importância estratégica do país para Pequim. Ao contrário da Rússia e do Irão, que prestaram apoio substancial ao regime de Bashar al-Assad desde o início da guerra civil em 2011, o suporte da China tem sido tímido.
Afirmações de que a China se tornou um importante parceiro económico da Síria ou que o país representa um nó crítico na Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI) de Xi Jinping não são fundamentadas. Nenhuma das rotas ou gasodutos planejados atravessa o território sírio. Além disso, segundo o China Global Investment Tracker do American Enterprise Institute, os investimentos chineses na Síria totalizam $4,6 mil milhões, todos iniciados antes da guerra civil. Em contraste, o Irão forneceu entre $30 e $50 mil milhões ao regime de Assad nos últimos 13 anos.
Em 2018, o embaixador chinês na Síria, Qi Qianjin, prometeu fortalecer a cooperação política, militar e económica. No entanto, desde então, o comércio bilateral caiu 22,49% ao ano, de $1,27 mil milhões em 2018 para $356 milhões em 2023. As promessas chinesas de mais comércio e investimento não se concretizaram.
O apoio da China a Assad sempre foi baseado em interesses próprios. Pequim opõe-se à mudança de regime, temendo que isso ameace o Partido Comunista Chinês. A China usou os seus poderes de veto nas Nações Unidas em conjunto com a Rússia para proteger Assad de sanções e investigações. Pequim também criticou os Estados Unidos por infringir a soberania da Síria, enquanto apoiava a intervenção da Rússia sob o pretexto de responsabilidade de proteger.
Quando Xi Jinping recebeu Assad em 2023 e os dois assinaram uma parceria estratégica, foi mais um gesto diplomático do que um reflexo de laços profundos entre os dois países. Durante a visita, Assad elogiou as iniciativas chinesas, mas não foram anunciados novos investimentos ou projetos.
A queda de Assad representa um retrocesso para a diplomacia chinesa no Oriente Médio. Pequim está preocupada que o conflito possa desestabilizar países onde tem interesses significativos, como o Egito, Arábia Saudita ou Emirados Árabes Unidos. A presença de mais de 5.000 uigures na Síria que se juntaram ao PIT também é motivo de preocupação.