UE não encontra forma de se entender: como se pode financiar o rearmamento europeu?
A União Europeia enfrenta enormes desafios no contexto geopolítico: a entrada de Donald Trump na Casa Branca, agendada para próximo dia 20, vai lançar novamente os ‘dados’ na guerra na Ucrânia, com a UE a precisar de assumir uma posição clara para com Kiev, em particular a nível militar.
No entanto, no seio europeu, os Estados-membros estão divididos em várias questões: a aquisição conjunta de armas, a contração conjunta de empréstimos e a necessidade de comprar na Europa. Tudo se resume a uma palavra: financiamento.
O financiamento do seu rearmamento é um ato de equilíbrio difícil para a UE. Por um lado, as finanças públicas estão no vermelho e, por outro, a ameaça da Rússia e a perspetiva de um recuo isolacionista americano pairam sobre a Europa. “É preciso criar fábricas, é preciso formar pessoas. Por isso, não é de um dia para o outro”, alertou Philippe Perchoc, diretor do Institut de Recherche Stratégique de l’Ecole Militaire (IRSEM), citado pela publicação ‘Euronews’.
Em 2024, as despesas com a defesa da UE-27 atingiram 326 mil milhões de euros, ou seja, 1,9% do PIB da UE, de acordo com a Agência Europeia de Defesa (AED), um aumento de 31% face a 2021. Mas é necessário mais para poder ajudar a Ucrânia, particularmente se os Estados Unidos de Donald Trump deixarem cair o seu apoio.
Estão em cima da mesa várias soluções para financiar a defesa do continente, como a produção conjunta e a compra de armas. O “ponto de partida” deve ser a despesa conjunta para aumentar a eficiência e a relação custo-eficácia e reduzir os custos, afirmou Guntram Wolff, membro sénior do Instituto Bruegel. Mísseis hipersónicos, defesa aérea, satélites, drones. “Se trabalharmos em conjunto nestas áreas, conseguiremos realmente obter mais pelo nosso dinheiro”, garantiu.
No entanto, as necessidades específicas dos Estados-membros em termos de armamento são por vezes um obstáculo a esta forma de cooperação. França, por exemplo, precisa de “uma capacidade de dissuasão nuclear”, apontou Jan Joel Andersson, analista sénior do Instituto de Estudos de Segurança da UE.
Alguns países expedicionários preferem “equipamento mais leve e facilmente transportável” , como veículos blindados e artilharia, “enquanto outros países se prepararam para combater um inimigo ou adversário aqui na Europa e, por isso, concentram-se mais em tanques pesados e artilharia pesada”, referiu o investigador.
Os empréstimos conjuntos, também conhecidos como euro-obrigações, podem ser utilizados para financiar o rearmamento. “A ideia de a UE contrair mais empréstimos em conjunto é que muitos Estados-membros têm problemas com as suas finanças nacionais e esta seria uma forma de utilizar o poder coletivo da UE como mutuário para tornar os empréstimos mais baratos”, referiu Jan Joel Andersson. No entanto, a ideia encontra resistência na Alemanha.
E devemos “comprar europeu”? O presidente francês Emmanuel Macron tem apelado à “compra europeia” em nome da autonomia estratégica: no entanto, há países que preferem fazer encomendas noutros locais para reduzir os custos ou os prazos de entrega. “Não é que devamos comprar apenas o que é europeu, penso que ninguém tem isso em mente, mas talvez devêssemos reavaliar a parte do que é europeu naquilo que compramos”, sustentou Philippe Perchoc, diretor do IRSEM Europe, à ‘Euronews’. “Se o produto é fabricado fora da Europa, não temos a prioridade de o consumir. Assinámos um contrato e se as condições mudarem, se algo acontecer no Indo-Pacífico ou em Taiwan, os europeus não terão prioridade. Por isso, temos de ter cuidado”, avisou o investigador.
No entanto, o papel da UE nesta discussão é limitado: a defesa é uma competência exclusiva dos Estados-membros.