Organizadores da manifestação “Não nos encostem à parede” simulam polémica operação policial como a do Benformoso nas Avenidas Novas
Esta sexta-feira, as Avenidas Novas, em Lisboa, serão palco de uma inusitada ação de protesto. Inspirados pelos acontecimentos recentes no Martim Moniz, os organizadores da manifestação “Não nos encostem à parede” decidiram realizar uma reconstituição de uma operação policial semelhante à ocorrida na Rua do Benformoso. Desta vez, a simulação ocorrerá na Avenida de Roma, uma área com um perfil socioeconómico distinto do Martim Moniz.
Segundo Miguel Garcia, porta-voz da organização, o objetivo é testar a reação da população local e chamar a atenção para a manifestação agendada para este sábado, 11 de janeiro. A marcha começará na Alameda Afonso Henriques e terminará no Martim Moniz, como forma de contestação pacífica contra a atuação policial que consideram discriminatória.
A ação no Martim Moniz, realizada em 19 de dezembro, é descrita pelos organizadores como uma tentativa de “humilhar” os residentes e trabalhadores daquela zona. De acordo com uma nota enviada às redações, a operação policial forçou diversas pessoas a permanecerem encostadas à parede durante longos minutos, algo que a organização qualifica como um ato de repressão discriminatória.
“E se de repente fossem encostadas à parede as pessoas que vivem e trabalham em outras zonas da cidade? Qual seria a nossa reação?”, questiona o comunicado. A organização defende que todos os cidadãos em Portugal, independentemente da sua condição socioeconómica ou origem, merecem ser tratados com dignidade. A crítica dirige-se àquilo que consideram ser uma instrumentalização da polícia contra populações vulneráveis, como imigrantes e pessoas racializadas, que contribuem significativamente para a economia do país.
No mesmo dia da manifestação, o partido Chega promoverá uma vigília sob o lema “pela autoridade e contra a impunidade”. Questionado pelo Observador, Miguel Garcia afirmou que, desde que a vigília seja pacífica e respeite a Constituição, todos têm o direito de se manifestar. Garcia destacou, no entanto, que a manifestação organizada por eles é contra o racismo e a xenofobia, e não contra a Polícia de Segurança Pública (PSP) em si.
“Parece-me um pouco redundante porque, pelo que percebi, a vigília é a favor da PSP, mas nós também somos a favor da PSP. Partilhamos do sentimento de que a PSP deve ter melhores condições. Desde que seja feito de forma ordeira e democrática, parece-nos uma extensão da nossa manifestação, mas sem o nosso objetivo principal”, explicou Garcia.