Adeus, Teerão: O Irão vai mudar de capital e são estas as razões que justificam a medida
O Irão está a considerar a mudança da sua capital de Teerão, situada no norte do país, para Makran, uma região costeira no sul, devido a razões económicas e ecológicas, segundo informações da estação televisiva em língua persa Iran International. Este plano foi recentemente mencionado pelo presidente Masoud Pezeshkian e está a gerar polémica no país, sendo uma medida que pode ter um impacto significativo na identidade cultural do Irão.
Embora a ideia de transferir a capital já tenha sido discutida em várias ocasiões ao longo dos anos, a sua implementação representa um desafio monumental. A mudança de capital seria extremamente cara e dispendiosa, além de provocar uma mudança substancial na identidade cultural do país. Masoud Pezeshkian, presidente do Irão, tem enfrentado críticas de políticos e outras figuras influentes, sendo que muitos questionam os custos e a viabilidade desta proposta, especialmente num momento em que o país enfrenta sérias dificuldades económicas. O rial, a moeda nacional, caiu para níveis historicamente baixos no mês passado, e a economia do Irão continua a lutar com as consequências das sanções internacionais.
Teerão, capital do Irão há mais de 200 anos, foi estabelecida pelo primeiro governante da dinastia Qājār, Āghā Moḥammad Khān. O conceito de mudar a capital do país foi introduzido pela primeira vez durante a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no início dos anos 2000. No entanto, foi novamente trazido à tona por Pezeshkian como uma solução para os problemas de Teerão, como a sobrepopulação, escassez de água e problemas de abastecimento de energia.
De acordo com a porta-voz do governo, Fatemeh Mohajerani, a nova capital estará definitivamente localizada no sul, na região de Makran. Mohajerani afirmou que o projeto está atualmente na fase exploratória e que o governo está a buscar a colaboração de académicos, especialistas, engenheiros e economistas para ajudar no desenvolvimento da proposta.
Teerão, com mais de 9 milhões de habitantes, enfrenta problemas graves de sobrepopulação e poluição do ar. A cidade é uma das mais poluídas do mundo e tem lidado com o que é conhecido como “bancarrota da água”, além de escassez de eletricidade e gás. Durante a presidência de Ahmadinejad, a ideia de mover a capital ganhou popularidade devido aos riscos sísmicos que afetam Teerão, uma cidade situada em uma zona de intensa atividade sísmica. O ex-presidente Hassan Rouhani também retomou a discussão no início de sua presidência, apontando o crescimento insustentável de Teerão e seus problemas ambientais como motivos para a mudança.
Pezeshkian, durante uma reunião recente, explicou que a mudança de capital também visa corrigir o desequilíbrio entre os recursos e as despesas em Teerão, além de melhorar a capacidade competitiva do país. Segundo explica, o transporte de matérias-primas do sul para o centro do país, seu processamento e o retorno dessas matérias para o sul para exportação estão a drenar a capacidade competitiva do Irão. “Devemos transferir o centro económico e político do país para o sul e mais perto do mar”, afirmou o presidente.
Makran, localizada na província de Sistão e Balochistão, está perto do Golfo de Omã, o que oferece várias oportunidades para melhorar as capacidades comerciais do Irão. Mohammad Reza Aref, vice-presidente do Irão, disse recentemente que, além do desenvolvimento voltado para o mar, o desenvolvimento de Makran é uma prioridade para o governo atual.
A proposta de mudança de capital não foi bem recebida por todos. O jornalista iraniano Ali Gholhaki expressou no X (anteriormente Twitter) a sua incredulidade, apontando que a reconstrução do Estádio Azadi demoraria “18 meses” e custaria “1.900 bilhões de tomans”; e questionando quanto tempo e quanto dinheiro seria necessário para mover a capital. “Estima-se que serão necessários 25 anos e 23 mil milhões de dólares. Isto é uma piada! Vamos além de um século e centenas de bilhões de dólares de dinheiro! E para piorar, quem foi o idiota que sugeriu que a capital do Irão seja na fronteira marítima (Makran)?!” escreveu Gholhaki.
O consultor ambiental Dariush Omran também criticou a proposta, sugerindo que a verdadeira razão por trás da mudança de capital seria o conhecimento do regime sobre acordos secretos para mudar o regime. “Uma região que muitas pessoas no Irão nem sequer ouviram falar, e aqueles que ouviram, pronunciam de formas diferentes”, disse Omran.
Por outro lado, Banafsheh Keynoush, consultora geopolítica internacional, argumentou que a mudança de capital para Makran poderia ajudar o Irão a competir com portos como Dubai e Gwadar, além de fortalecer o comércio no Oceano Índico e reafirmar o papel do Irão no estreito de Ormuz, apesar das sanções internacionais.