Organização independente confirma: Mísseis da Coreia do Norte estão a ser usados pela Rússia na guerra com a Ucrânia
A Rússia está a utilizar mísseis produzidos na Coreia do Norte no conflito na Ucrânia, de acordo com a organização independente Conflict Armament Research (CAR). Esta é a primeira vez que há provas públicas de que armamento norte-coreano foi produzido e utilizado na guerra num intervalo de poucos meses.
Jonah Leff, diretor executivo da CAR, revelou ao Conselho de Segurança das Nações Unidas que a sua equipa analisou destroços de quatro mísseis norte-coreanos recuperados em território ucraniano entre julho e agosto deste ano. A CAR, uma organização sediada no Reino Unido que se dedica a rastrear armas convencionais em conflitos armados, destacou que um dos mísseis apresentava marcas indicando que tinha sido fabricado em 2024.
“Apesar de quase duas décadas de sanções sobre a República Popular Democrática da Coreia (RPDC), este país demonstrou este ano a capacidade de produzir e fornecer mísseis balísticos para uso na Ucrânia num intervalo de apenas meses,” afirmou Leff.
A investigação revelou ainda que os componentes dos mísseis, provenientes de distribuidores terceirizados, foram maioritariamente obtidos na Ásia Oriental.
A Coreia do Norte consolidou-se como um dos aliados mais importantes da Rússia no conflito, que teve início com a invasão de território ucraniano por Moscovo em 2022. De acordo com declarações do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, Pyongyang enviou 11 mil soldados para a região de Kursk, parcialmente ocupada pela Rússia desde uma ofensiva surpresa das forças ucranianas em agosto.
O apoio norte-coreano à Rússia não se limita ao envio de tropas. Dados da inteligência militar ucraniana indicam que, até à data, as forças russas lançaram pelo menos 60 mísseis balísticos fabricados na Coreia do Norte contra alvos na Ucrânia.
Apesar destas alegações, Moscovo não confirmou oficialmente a utilização de armamento norte-coreano. O Kremlin assinou um pacto de parceria estratégica com Pyongyang em julho deste ano, mas não divulgou informações sobre possíveis fornecimentos de armas.
Especialistas têm alertado para as implicações deste reforço militar. Yuriy Boyechko, diretor da organização de caridade Hope for Ukraine, acredita que a recente presença militar norte-coreana é apenas o início de uma colaboração mais aprofundada entre Moscovo e Pyongyang.
“Este é apenas o começo. Nos próximos meses, podemos ver um aumento significativo do envolvimento norte-coreano,” afirmou Boyechko, citado pela Newsweek.
O avanço russo na região de Kursk nos últimos dias demonstra a intensificação do conflito, enquanto Moscovo procura recuperar o máximo de território antes de possíveis negociações em 2025. A recente eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos também adiciona uma camada de incerteza ao futuro da Ucrânia. Trump poderá pressionar Kyiv a aceitar um acordo que beneficie Moscovo, indicam analistas.
A Ucrânia enfrenta agora uma corrida contra o tempo para manter as suas posições estratégicas na região de Kursk, num momento em que Pyongyang se posiciona como um fornecedor de armas e tropas para a Rússia. A crescente aliança entre os dois países desafia as sanções internacionais e representa uma ameaça significativa à estabilidade na região.
Até ao momento, os governos da Rússia, da Ucrânia e da Coreia do Norte não emitiram comentários sobre as descobertas apresentadas pela CAR. A comunidade internacional aguarda com expectativa os próximos desenvolvimentos e as possíveis respostas a este alinhamento estratégico no conflito.