Mulheres grávidas e bebés têm elevado risco de morte por gripe aviária, alerta estudo
Um estudo australiano alerta que a maioria das mulheres grávidas que contrai gripe aviária enfrenta um risco elevado de morte, com taxas de mortalidade igualmente preocupantes para os bebés por nascer. A investigação analisou dados globais e destacou a necessidade de proteger populações vulneráveis em cenários de pandemia.
A gripe aviária, causada por vírus da influenza A, tem-se disseminado a nível mundial através de estirpes altamente patogénicas, como a H5N1. Apesar de surtos significativos entre aves selvagens e de capoeira, os casos de infeção humana são raros e geralmente limitados a pessoas que trabalham em contacto próximo com aves infetadas. Até ao momento, não há evidências de transmissão entre humanos.
Contudo, surtos recentes em regiões como China e Estados Unidos aumentaram o número de casos humanos, ainda que a maioria tenha apresentado sintomas leves. Apenas um caso grave foi registado nos EUA, segundo os dados atuais.
A investigadora em doenças infeciosas, Dr.ª Rachael Purcell, do Murdoch Children’s Research Institute, em Melbourne, explicou que o estudo se concentrou nos efeitos da gripe aviária em mulheres grávidas. “O sistema imunológico de uma mulher grávida funciona de maneira diferente em comparação com antes da gravidez”, afirmou Purcell ao The Guardian. “Sabemos que mulheres grávidas não vacinadas que contraem outras infeções, como Covid-19 ou gripe sazonal, muitas vezes ficam mais doentes, mas sabíamos muito pouco sobre o impacto da gripe aviária nesta população.”
Para preencher essa lacuna, Purcell e a sua equipa analisaram mais de 1.500 artigos de investigação, identificando 30 casos confirmados de gripe aviária em mulheres grávidas em países como China, Vietname, Camboja e Estados Unidos, envolvendo diferentes estirpes e surtos.
Os resultados, publicados na revista Emerging Infectious Diseases, são alarmantes: 90% das mulheres grávidas infetadas morreram, e 87% dos seus bebés também não sobreviveram. Entre os poucos bebés sobreviventes, a maioria nasceu prematuramente.
Purcell sublinhou a importância de considerar grupos vulneráveis em estratégias de vacinação e preparação para pandemias. “Embora o risco de a gripe aviária se tornar a próxima pandemia humana seja baixo, é crucial pensar em como proteger populações vulneráveis e incluí-las em programas de vacinação”, afirmou.
Atualmente, não existem vacinas específicas para a gripe aviária em humanos, embora algumas estejam em fase de ensaio para fins de preparação pandémica. Contudo, estas vacinas não são recomendadas para grávidas devido à falta de dados de segurança.
“A dificuldade com as vacinas é que, muitas vezes, consideramos inseguro testá-las em grávidas”, observou Purcell. “Precisamos de encontrar formas éticas de obter dados sobre mulheres grávidas. Em alguns estudos de segurança, mulheres que se inscrevem acabam por engravidar, o que representa uma oportunidade para recolher dados de forma ética.”
Perspetivas de especialistas
O especialista em doenças infeciosas da Universidade Nacional Australiana, o professor associado Sanjaya Senanayake, destacou ao mesmo jornal britânico que, apesar do pequeno tamanho da amostra do estudo, os resultados são significativos. “A maioria dos casos humanos de gripe aviária ainda está associada ao contacto direto ou próximo com aves de capoeira, o que significa que as mulheres grávidas têm menos probabilidade de serem expostas”, explicou.
Senanayake alertou, contudo, que esta dinâmica pode mudar caso ocorram mutações no vírus que permitam transmissão sustentada entre humanos.
Outro ponto levantado foi a predominância dos casos em países em desenvolvimento. “Embora relevante para uma futura pandemia de gripe aviária, não podemos generalizar esses desfechos severos para países desenvolvidos, que possuem melhores recursos de saúde”, afirmou.
Apesar das limitações, Senanayake considerou os achados do estudo “provavelmente reais”. “Sabemos que as grávidas são mais suscetíveis a desfechos graves em infeções respiratórias.”
Em outubro, o governo australiano anunciou um investimento de 95 milhões de dólares para reforçar a preparação contra a gripe aviária. A Austrália permanece, até agora, o único continente livre da estirpe mais mortal deste vírus.
Este estudo destaca a urgência de incluir populações de risco em estratégias de prevenção e sublinha a necessidade de maior atenção na preparação global para potenciais pandemias.