Terrenos agrícolas e florestais: “ouro verde” em Portugal
Por Manuel Valadas de Albuquerque, Senior Director Agribusiness da CBRE Portugal
Nos últimos anos, os terrenos agrícolas e florestais, em Portugal, têm vindo a captar a atenção de investidores nacionais e internacionais, motivados pelas condições naturais favoráveis do país e pela procura crescente de produtos sustentáveis. Este interesse tem sido alimentado por uma combinação de fatores: clima adequado para diversas culturas, uma infraestrutura hídrica robusta, como, por exemplo, o Alqueva, e a perceção de que o agribusiness (a agricultura como forma de negócio), em particular nas áreas irrigadas, representa uma oportunidade de investimento de longo prazo com potencial significativo de valorização.
Portugal destaca-se no contexto do sul da Europa pela sua capacidade de produção agrícola em larga escala, com especial foco nas culturas permanentes de alto valor, como o olival, o amendoal e a produção de diversos frutos secos. O país começa também a ganhar protagonismo com culturas mais recentes, como abacates, bagas e citrinos, cujas condições de cultivo encontram no solo e no clima portugueses um habitat natural. Regiões como o Alentejo, o Algarve e o Ribatejo emergem como áreas de grande interesse, com o Alqueva a posicionar-se como o principal ativo hídrico nacional, oferecendo uma segurança hídrica essencial para o desenvolvimento de projetos agrícolas de grande escala.
Para os investidores, o agribusiness em Portugal é atrativo por diversas razões. Primeiro, é um ativo relativamente seguro, em que o valor da terra tende a aumentar devido à escassez de terrenos irrigados de qualidade. Em segundo lugar, a capacidade de inovação tecnológica no setor agrícola tem permitido ganhos de escala, aumentando a eficiência da produção e maximizando os retornos. De facto, o volume de investimento no setor agrícola tem crescido exponencialmente: em 2021, Portugal movimentou cerca de 800 milhões de euros em transações de agribusiness, um número que cresceu para mais de 2.000 milhões de euros em 2023.
Este aumento no volume de negócios reflete o crescente interesse de diversos tipos de investidores. Entre eles, destacam-se três grupos principais: fundos de investimento internacionais, investidores financeiros locais e, por fim, grupos industriais portugueses em expansão. Estes investidores reconhecem o potencial de retorno a longo prazo, especialmente no contexto de um ativo físico que, ao contrário dos imóveis urbanos, não sofre depreciação. A valorização da terra irrigada, aliada a retornos diretos provenientes da produção agrícola, cria uma oportunidade única no panorama de investimentos.
No entanto, o setor enfrenta desafios consideráveis. A escassez de terrenos adequados, especialmente com acesso garantido à água, é um dos principais obstáculos à entrada de novos investidores. Com a procura em alta, os preços da terra agrícola têm também vindo a subir, o que desalinha as expectativas entre compradores e vendedores. Além disso, o mercado português de agribusiness é altamente especializado e requer uma assessoria técnica aprofundada para garantir a viabilidade dos investimentos. Não se trata apenas de compra de terrenos, mas de saber gerir as culturas, avaliar o potencial produtivo de cada região e utilizar as mais recentes inovações tecnológicas para otimizar a produção.
Outro desafio passa pela necessidade de profissionalizar o setor. A transação e a gestão de ativos agrícolas exigem um conjunto de conhecimentos técnicos, desde a avaliação da terra até à escolha das culturas mais adequadas, passando pela utilização de tecnologias agrícolas inovadoras. Este é um mercado altamente diversificado, em que as diferentes regiões e tipos de cultura apresentam riscos e retornos variados. Sem uma equipa experiente a liderar estas operações, o sucesso dos investimentos pode ficar comprometido.
Ainda assim, o potencial de longo prazo do agribusiness em Portugal é inegável. Enquanto outros tipos de ativos imobiliários, como escritórios ou comércio, estão sujeitos a flutuações de mercado e a uma eventual depreciação, a terra agrícola continua a valorizar-se, especialmente nas zonas irrigadas. Além disso, a crescente procura global por alimentos, promovida pelo aumento da população e pela necessidade de uma produção sustentável, cria um cenário em que a valorização da terra e da produção agrícola continuará a ser uma tendência nos próximos anos.
De forma geral, o agribusiness em Portugal representa uma oportunidade de investimento único, especialmente para aqueles que procuram um ativo com valorização a longo prazo e resiliência às oscilações de mercado. Com uma abordagem estratégica, conhecimento técnico e a assessoria adequada, os investidores podem aproveitar o crescimento contínuo deste setor e contribuir para o desenvolvimento sustentável da agricultura no país.