Ainda não é desta: Macron adia anúncio do novo primeiro-ministro francês para amanhã

O Presidente francês, Emmanuel Macron, adiou para sexta-feira de manhã o anúncio do novo primeiro-ministro, segundo um comunicado oficial do Palácio do Eliseu divulgado esta quinta-feira.

A decisão surge após o governo liderado por Michel Barnier ter sido derrubado na semana passada, quando deputados de extrema-direita e da esquerda uniram forças para votar contra o executivo, precipitando a segunda grande crise política em França num período de apenas seis meses. Barnier apresentou a sua demissão imediatamente após a votação.

Macron tinha afirmado, dois dias antes, que pretendia anunciar um novo chefe de governo no prazo de 48 horas. No entanto, o prazo inicial foi alargado, com o Eliseu a indicar que o anúncio será feito na manhã de sexta-feira, marcando o início da formação de uma nova equipa governamental.

A substituição de Barnier ocorre num momento de elevada instabilidade política em França, com o país a enfrentar divisões acentuadas entre os blocos políticos. A aliança de forças antagónicas na Assembleia Nacional, entre deputados de extrema-direita e da esquerda, sublinha as dificuldades enfrentadas pelo executivo de Macron em assegurar uma base de apoio sólida para governar.

O novo primeiro-ministro terá a missão de liderar um governo capaz de responder a esta polarização e avançar com as reformas propostas por Macron, que incluem mudanças em áreas sensíveis como o sistema de pensões e a transição ecológica.

Os mais prováveis de serem a escolha de Macron:

Nos corredores do Eliseu e na imprensa francesa são apontados alguns rostos que poderão constituir possíveis escolhas de Macron. Entre as principais figuras apontadas como potenciais sucessores encontram-se nomes de várias tendências políticas, desde aliados de longa data de Macron a veteranos do centro-direita e antigos socialistas.

Sébastien Lecornu: o aliado fiel com experiência em defesa
Sébastien Lecornu, de 38 anos, é considerado um dos mais leais aliados de Macron. Tendo iniciado a sua carreira política no partido de centro-direita Les Républicains, Lecornu aderiu à causa de Macron em 2017, juntamente com figuras como Bruno Le Maire e Gérald Darmanin, ambos desertores dos conservadores.

Como ministro da Defesa no governo de Barnier, Lecornu supervisionou o aumento do orçamento militar e reforçou o apoio militar da França à Ucrânia. Apesar do seu perfil técnico e lealdade, a sua candidatura poderá enfrentar resistências devido a polémicas recentes. O portal Mediapart e o jornal Libération relataram que Lecornu teria participado num jantar com Marine Le Pen, líder do partido de extrema-direita Reagrupamento Nacional (RN), onde alegadamente discutiram a guerra na Ucrânia. Lecornu negou categoricamente o encontro.

François Bayrou: o veterano do centrismo

Aos 73 anos, François Bayrou é uma figura central no espectro político francês. Líder do Movimento Democrático (MoDem), que integra a aliança governamental de Macron desde 2017, Bayrou tem uma longa carreira marcada pela defesa de valores centristas e pelas suas origens rurais como ex-presidente da câmara de Pau.

Nomeado por Macron como ministro da Justiça no início do seu primeiro mandato, Bayrou viu-se forçado a renunciar ao cargo semanas depois devido a uma investigação sobre alegações de emprego fictício no seu partido. Contudo, foi ilibado das acusações este ano, o que pode reforçar a sua posição como candidato viável para a chefia do governo.

Bernard Cazeneuve: o socialista independente

Com 61 anos, Bernard Cazeneuve é um nome de peso na política francesa, sobretudo entre os socialistas. O antigo primeiro-ministro durante os últimos meses da presidência de François Hollande e ex-ministro do Interior destacou-se pela sua liderança em momentos críticos, como os ataques terroristas de 2015 em Paris e ao jornal Charlie Hebdo.

Cazeneuve abandonou o Partido Socialista em 2022, em protesto contra a aliança com a esquerda radical da França Insubmissa (LFI), os Verdes e os Comunistas. O seu perfil moderado e experiência podem ser trunfos para Macron, que busca atrair deputados socialistas descontentes e consolidar um bloco centrista.

Xavier Bertrand: o líder regional com credenciais no centro-direita

Xavier Bertrand, de 59 anos, lidera a região de Hauts-de-France, no norte de França, onde Macron tem investido na criação de um ecossistema ligado às baterias de veículos elétricos. Com uma carreira marcada pela sua passagem pelos governos de Jacques Chirac e Nicolas Sarkozy, Bertrand foi candidato nas primárias dos Republicanos para as presidenciais de 2022.

Conhecido pelo seu pragmatismo e proximidade aos problemas da França rural e industrial, Bertrand é visto como uma escolha que pode ajudar Macron a fortalecer os laços com o centro-direita, especialmente numa França politicamente dividida.

François Baroin: o político experiente com ligações financeiras

François Baroin, também com 59 anos, é um veterano do centro-direita. Além de uma longa carreira política, que incluiu cargos como ministro das Finanças e do Orçamento durante a crise da dívida soberana europeia (2011-2012), Baroin mantém uma presença no setor privado como presidente da divisão francesa do banco Barclays desde 2022.

Baroin é presidente da câmara de Troyes, na região de Champagne, desde 1995, o que reforça a sua imagem de proximidade à população e continuidade política. A sua experiência em finanças e o perfil discreto tornam-no uma possibilidade séria, embora menos mediática.