Sondagem: Maioria dos britânicos que votaram pelo Brexit estão agora dispostos a aceitar movimento livre de pessoas em troca de acesso ao mercado único da UE
Uma sondagem recente revela que a maioria dos britânicos que votaram pela saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) estaria agora disposta a aceitar o regresso da liberdade de movimento de pessoas em troca do acesso ao mercado único europeu. A pesquisa também destaca um desejo recíproco, por parte de cidadãos de países da UE, de estreitar relações com o Reino Unido.
O relatório do estudo, elaborado pelo think tank European Council on Foreign Relations (ECFR), aponta que eventos como a invasão da Ucrânia pela Rússia e a eleição de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos alteraram profundamente o panorama das relações entre a UE e o Reino Unido. “Existe um consenso notável de ambos os lados do Canal da Mancha de que este é o momento certo para reavaliar as relações entre a UE e o Reino Unido”, conclui o documento.
Com base em inquéritos realizados a mais de 9.000 pessoas no Reino Unido e em cinco dos países mais populosos da UE – Alemanha, França, Itália, Espanha e Polónia – logo após a eleição de Trump, o estudo revela que os britânicos demonstraram o maior entusiasmo por restabelecer laços mais estreitos.
Eleitores do Brexit reconsideram posições
Entre os eleitores britânicos que votaram a favor do Brexit, 54% declararam que aceitariam a liberdade total de movimento entre o Reino Unido e os países da UE para permitir o acesso ao mercado único. Este apoio sobe para 59% entre os eleitores das denominadas “red wall seats”, tradicionalmente bastiões trabalhistas que apoiaram o Brexit.
O estudo sugere que esta mudança pode estar relacionada com o aumento da imigração líquida para o Reino Unido após 2016, levando os apoiantes do Brexit a considerar que a saída da UE não solucionou a questão migratória. No total, 68% dos eleitores britânicos apoiariam a liberdade de movimento em troca do mercado único, incluindo a maioria dos apoiantes de todos os partidos, exceto do Reform UK.
Outra ideia popular foi a criação de um esquema de mobilidade para jovens entre os 18 e os 30 anos, uma proposta que tem sido vista como essencial por líderes da UE em negociações futuras. Contudo, o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, tem resistido a avançar com esta medida.
O relatório defende que, tendo em conta o contexto global atual, Reino Unido e UE deveriam “agir de forma ambiciosa e célere” para restaurar as suas ligações. “Ambos estão vulneráveis aos acontecimentos globais e uma redefinição das relações é a maneira mais eficaz de fortalecer os dois lados”, afirma o documento.
Opinião pública à frente das lideranças políticas
Embora políticos e líderes da UE permaneçam cautelosos em relação à concessão de termos especiais ao Reino Unido, e o governo de Starmer também se mostre relutante em impulsionar laços mais estreitos, o relatório revela que a opinião pública é significativamente mais pragmática.
No Reino Unido, 55% dos eleitores defendem uma relação mais próxima com a UE, enquanto apenas 10% preferem distanciar-se e 22% apoiam manter os laços atuais. Este sentimento é partilhado por muitos apoiantes conservadores, sobretudo no que diz respeito à migração e segurança.
Nos países da UE, a maioria ou uma pluralidade de cidadãos em todas as nações inquiridas concorda com a necessidade de relações mais próximas com o Reino Unido. Na Alemanha, 45% dos respondentes manifestaram apoio, seguidos por 44% na Polónia, 41% em Espanha, 40% em Itália e 34% em França.
Entre os europeus, os principais motivos para estreitar relações com o Reino Unido incluem o reforço da segurança do bloco e a necessidade de enfrentar desafios globais como a influência dos EUA e da China. Nos países inquiridos, muitos cidadãos acreditam que uma maior cooperação com o Reino Unido também seria a melhor forma de impulsionar a economia europeia e gerir eficazmente a migração.
Além disso, os europeus demonstraram abertura para permitir algumas concessões económicas ao Reino Unido em troca de uma cooperação mais forte, especialmente no domínio da segurança. Maiorias na Alemanha e Polónia, bem como pluralidades em França, Itália e Espanha, apoiaram esta ideia.
Embora o impacto do Brexit seja mais sentido no Reino Unido do que na UE, o relatório sublinha que muitos europeus consideram que a saída britânica trouxe mais prejuízos do que benefícios ao bloco. No Reino Unido, metade dos cidadãos inquiridos acredita que um maior envolvimento com a UE seria benéfico para áreas como a economia (50%), segurança (53%), gestão da migração (58%), mudanças climáticas (48%) e resistência às pressões de potências como a Rússia (48%), EUA (46%) e China (49%).
Mark Leonard, diretor do ECFR e autor do relatório, enfatiza que os governos deveriam alinhar-se com as expectativas dos seus cidadãos. “As divisões da era Brexit dissiparam-se, e tanto os europeus quanto os britânicos percebem que precisam uns dos outros para se sentirem mais seguros. Os governos agora precisam de acompanhar a opinião pública e oferecer uma redefinição ambiciosa das relações”, concluiu.