Máfias italianas são mais rentáveis do que muitas multinacionais: Camorra e Ndrangheta preveem lucros recorde no setor do turismo
O setor do turismo italiano, um dos pilares da economia do país, enfrenta uma ameaça crescente: as máfias, segundo foi revelado por um relatório recente do instituto de investigação Demoskopika, que apontou que estes grupos criminosos estão a gerar mais de 3,3 mil milhões de euros por ano através da infiltração na indústria do turismo – o problema poderá intensificar-se com eventos de grande escala com o Jubileu da Igreja Católica em Roma e os Jogos Olímpicos de inverno em 2026, em Milão-Cortina.
Esta atividade de controlo territorial está cada vez mais omnipresente, o que pode colocar em risco quase sete mil empresas ativas, o que equivale a 14,2% do total das 48 mil empresas “em risco de incumprimento”, fragilizadas pela crise de liquidez e dívidas, e portanto mais vulneráveis ao “bem-estar criminoso” das máfias.
Assim, com o controlo do sistema turístico italiano, a ‘Ndrangheta e a ‘La Camorra’ podem esperar até 2,6 mil milhões de euros de rendimentos criminais potenciais: há nove zonas com o nível de risco mais elevado, com Campânia, Lombardia e Lácio como as mais expostas. Até à data, foram confiscados 307 hotéis e restaurantes, dos quais quase 60% estão localizados em territórios tradicionalmente caracterizados com as maiores raízes do crime organizado.
“O turismo italiano está sob ataque. Mais de 7.000 empresas vulneráveis correm o risco de se tornarem vítimas de associações criminosas, com o crime da ‘Ndrangheta, Cosa Nostra, ‘La Camorra’, Apúlia e Lucania a infiltrar-se nos setores do turismo, desde o alojamento hoteleiro até à restauração através da intermediação. Dívidas fiscais, testas de ferro ligados a clãs e uma fragilidade empresarial cada vez mais generalizada criam as condições ideais para o controlo da máfia”, comentou o presidente da Demoskopika, Raffaele Rio.
O documento acrescentou que eventos internacionais como os Jogos Olímpicos Milão-Cortina 2026 e o Jubileu de 2025 apenas amplificam o risco de infiltração. “A Itália é agora um país com domínio quase absoluto da ‘Ndrangheta’. Apenas o sistema Camorra parece minar o domínio do sistema turístico italiano. Neste cenário, as máfias estão a construir um ‘bem-estar criminoso’ que coloca os empresários em dificuldades”, referiu o relatório.
“Prometem sobrevivência financeira, cobrem dívidas e garantem liquidez a um preço altíssimo, controlo ou aquisição total de empresas. Este sistema perverso não só fortalece o poder das famílias criminosas no território, mas também alimenta um circuito de lavagem de dinheiro e extorsão que sufocam a economia legal do nosso país. Não podemos subestimar esta emergência. A salvaguarda do setor do turismo não é apenas uma questão económica, mas uma intervenção estratégica para proteger a legalidade e garantir a sustentabilidade do nosso modelo socioeconómico”, referiu.