Moscovo, o ‘Airbnb’ dos exilados políticos: Bashar al-Assad junta-se a refugiados ‘de luxo’ protegidos por Putin

Bashar al-Assad e a sua família estão bem: o Kremlin recebeu asilo político na Rússia sob orientação expressa do presidente russo Vladimir Putin. Al Assad já era protegido da Rússia desde há 24 anos, período em que ocupou a presidência da República Árabe Síria, exceto nos últimos 11 dias, o tempo que os rebeldes liderados por Abu Mohamed al Jolani precisaram para ocupar o país, entrar em Damasco e derrubá-lo. O Kremlin tinha outras frentes mais importantes para tratar e não teve outra escolha senão deixá-lo cair.

Baschar al-Assad deve ter ouvido o líder da coligação insurgente garantir que vai perseguir “os criminosos de guerra”, prometendo que divulgará em breve uma lista com os nomes – mas os Al-Assad podem respirar de alívio: estão sob proteção de Putin, que nunca os extraditará.

“Moscovo não extraditará Bashar al-Assad para lugar nenhum. O ex-presidente da Síria desfrutará da sua honrosa velhice na Rússia”, apontou Yuri Lyamin, investigador sénior do Centro AST, em entrevista publicada na edição inglesa do ‘Pravda’. Segundo este analista, nem os Estados Unidos nem a União Europeia conseguirão responsabilizar Al Assad.

Desta forma, salientou a publicação espanhol ’20 Minutos’, o ditador sírio passa a fazer parte do “clube protegido” de Putin, juntando-se ao ex-presidente ucraniano Viktor Yanukovych, o ex-funcionário da CIA, Edward Snowden, ou o ex-diretor financeiro da Wirecard, Jan Marsalek – os três vivem na Rússia há anos e nenhuma agência de justiça estrangeira conseguiu “alcançá-los”.

Yanukovych, o ucraniano pró-Rússia

Viktor Yanukovych foi o quarto presidente da Ucrânia, entre 2010 e 2014, e, antes disso, primeiro-ministro em vários mandatos entre 2002 e 2007. Nas eleições presidenciais de 2010, venceu a sua rival Yulia Tymoshenko com 52% dos votos.

Yanukovych decidiu suspender o Acordo de Associação entre a União Europeia e a Ucrânia e reforçar os seus laços com a Rússia, o que provocou o Euromaidan no final de 2013, com uma série de manifestações e motins pró-europeus, pró-independência e nacionalistas. O Euromaidan marcou a origem da guerra russo-ucraniana e precipitou a demissão do presidente em fevereiro de 2014. Tal como Al Assad agora, Yanukovych foi para a Rússia, onde vive no exílio.

Snowden, lute pela liberdade e acabe com Putin

Ex-analista da CIA e da NSA (Agência de Segurança Nacional), Edward Snowden fugiu dos Estados Unidos em 2013, onde foi acusado de violar a lei de espionagem após revelar detalhes de programas de inteligência americanos. Em junho de 2013, através dos jornais ‘The Guardian’ e ‘The Washington Post’, Snowden tornou públicos documentos classificados como ultrassecretos.

Fugiu de Hong Kong para a Rússia e solicitou asilo político a 21 países – Espanha, Venezuela, Bolívia, Cuba ou Equador. Finalmente, e ironia do destino, a sua luta pela liberdade e privacidade levou-o, em junho de 2013, à Rússia de Putin. O presidente russo descartou a entrega de Snowden aos Estados Unidos devido à falta de um tratado bilateral de extradição entre os dois países.

Em 2022, Putin concedeu a cidadania russa ao ex-analista da CIA. Nessa altura, a Casa Branca ainda insistiu que Snowden deveria ser extraditado e submetido à justiça americana, mesmo que tivesse adquirido a cidadania russa.

Marsalek, o pirata financeiro pró-Rússia

Na Alemanha ele é um fugitivo conhecido: o empresário austríaco foi diretor operacional da Wirecard, líder alemã em pagamentos digitais de 2010 a 2020. É suspeito de estar ligado aos interesses russos e de beneficiar da cumplicidade em vários serviços secretos.

A Wirecard tornou-se insolvente e faliu em junho de 2020, quando os seus diretores confessaram que 1,9 mil milhões de euros dos seus ativos (um quarto do total) não existiam de facto. Marsalek, responsável pelos negócios da empresa na Ásia, é um dos principais suspeitos do escândalo. Foi procurado pela Interpol até 2021, quando se soube que ele estava em Moscovo, sob vigilância dos serviços secretos russos.

Segundo o jornal ‘Bild’, “ele ter-se-ia escondido num bairro particularmente seguro de Moscovo, onde talvez ainda viva (…) sob a custódia dos serviços secretos de Putin, o FSB”.