Fidelidade/Multicare: Valor acrescentado para o cliente
Em entrevista à Executive Digest, Ana Rita Gomes, administradora da Multicare, explica os principais desafios e oportunidades da transformação digital no sector da Saúde.
Qual o papel da tecnologia na promoção da saúde preventiva e na consciencialização sobre o autocuidado entre os pacientes?
A tecnologia é um potenciador e acelerador na adopção de hábitos que promovem a saúde, como o autocuidado (quer físico quer mental), a avaliação regular do estado de saúde com carácter preventivo e na promoção de literacia em saúde, reforçando a importância destes hábitos para uma saúde e vida mais plenas.
Disso são prova a disseminação de aplicações de saúde – o chamado mHealth – com estes objectivos, quer sejam mais focadas em temas específicos, como exercício físico, nutrição ou saúde mental, quer de forma mais holística integrando estas várias vertentes. Estima-se que este mercado tenha já atingido mais de 30B $ em todo o mundo em 2023 e com crescimentos previstos de 15%/ano até 2030. (fonte: Grand View Research mHealth Apps Market Size, Share & Growth Report, 2030). Uma das áreas com maior penetração deste tipo de tecnologia é a saúde mental, que se estima representar cerca de 20% deste mercado (cerca de 6 B$).
Estas soluções permitem também, cada vez mais, personalizar a experiência individual, adaptando planos e soluções às necessidades individuais de cada utilizador, maximizando o engagement e probabilidade de sucesso, como exemplo em planos nutricionais adaptados a restrições alimentares ou planos de exercício físico de acordo com disponibilidade e preferências individuais.
Em Portugal, a Multicare tem sido pioneira como impulsionador activo destas novas tecnologias aplicadas à promoção de hábitos saudáveis, com programas como o Multicare Vitality e o financiamento de soluções digitais preventivas na sua oferta de produtos e serviços, em particular da saúde mental.
O programa Multicare Vitality através de metas e desafios personalizados, combina tecnologia e gamificação, estimulando a adesão dos clientes a actividades físicas, alimentação saudável e práticas de bem-estar mental. Neste caso, a facilidade de utilização da tecnologia (sincronizando aplicação móvel com smart watches) aliada à recorrência de premiação recorrente por hábitos saudáveis, são os ingredientes-chave para uma mudança de hábitos sustentável e duradoura.
Na saúde mental, a Multicare comparticipa a subscrição de aplicações como a Calm, Headspace, Lumosity e Peak, facilitando assim o acesso dos clientes ao autocuidado, seja no controle do stress e ansiedade, no bem-estar mental ou na estimulação cognitiva.
Como olham para a telemedicina e como pretendem expandir esse serviço no futuro?
Na Multicare vemos a telemedicina como uma peça fundamental para promover o acesso a cuidados de saúde primários e de prevenção, sem necessidade de deslocações e com qualidade de atendimento clínico; promovendo igualmente uma maior eficiência do sistema de saúde.
Desde 2016, a Multicare foi pioneira ao disponibilizar aos seus clientes, sem custos adicionais, a Medicina Online, um serviço de telemedicina, com consultas de Medicina Geral e Familiar 24 horas por dia, 7 dias por semana. Desde então a Medicina Online evoluiu da resposta a cuidados agudos, alargando os serviços a 14 especialidades médicas e outros serviços complementares como nutrição, psicologia, serviços de Saúde da Mulher ou de apoio oncológico. A Medicina Online é também um dos pilares do nosso Ecossistema de Prevenção (com serviços como o Lifestyle coach ou programa de cessação tabágica), reforçando a importância de atitudes preventivas para uma melhor saúde no futuro e respondendo às necessidades dos nossos clientes.
Continuando nesta premissa de inovação e de valor acrescentado para o cliente, a expansão futura da Medicina Online passará por apostar numa experiência cada vez mais personalizada e ajustada ao risco individual e à condição de saúde de cada um, por exemplo, com programas de gestão de doenças crónicas em formato remoto ou hibrido.
Na vossa opinião, quais as tecnologias emergentes que terão maior impacto no sector de saúde nos próximos cinco a dez anos?
Dado a aceleração de desenvolvimentos tecnológicos a que assistimos, é expectável que o aparecimento e desenvolvimento de tecnologias aplicáveis ao sector da saúde ocorra a uma velocidade galopante. Para a Multicare antecipamos que algumas tecnologias emergentes possam ter impactos na vida e saúde dos nossos clientes: para começar, a Internet of Medical Things (IoMT) e Wearables, um mercado em franco crescimento. Prevê-se que o mercado de IoMT atinja 170B $ em 2030, com crescimentos previstos de 21%/ano até 2030) (fonte Grand View Research Internet Of Things In Healthcare Market To Reach $169.99Bn By 2030). Estas tecnologias permitem a monitorização de dados de saúde em tempo real, fornecendo informação valiosa às pessoas sobre a sua saúde, bem como aos profissionais de saúde que os acompanham, contribuindo assim para a literacia e gestão activa do estado de saúde de cada indivíduo. Adicionalmente, a utilização de dados em tempo real poderá suportar modelos preditivos, podendo actuar de forma preventiva, profilática ou terapêutica, conduzindo a maior eficiência da prestação de cuidados e melhores resultados.
A Telemedicina/Telessaúde continuará a ser uma tecnologia em desenvolvimento, sendo previsto que o mercado de telemedicina atinja 380B$ em 2030 com crescimentos previstos até 2030 de 18,0%/ano (fonte Grand View Research, Telemedicine Market Size To Reach $380.3 Billion By 2030). É já uma ferramenta com uma utilização relevante por clientes Multicare (em 2023 fizemos cerca de 200 mil consultas nos serviços de Medicina Online) e no futuro vemos a Telemedicina como a base para o desenvolvimento de modelos híbridos de prestação e para o acompanhamento mais próximo dos nossos clientes mais frágeis, incluindo programas de gestão de doenças crónicas. Promovemos assim melhor acesso, conveniência e melhores resultados de saúde nos nossos clientes.
O desenvolvimento de áreas como a Genómica e Biotecnologia contribuirão para desenvolvimentos revolucionários, como por exemplo o desenvolvimento de órgãos modificados para transplante para humanos, e para abordagens de prevenção, profilaxia e tratamento de forma personalizada. De facto, a genómica, aliada a computação avançada, permitirá avançar na Medicina Personalizada, identificando grupos de população em risco e posteriormente desenvolver programas profiláticos e de prevenção para a gestão desse risco em específico, sendo, por isso, mais eficientes.
A Inteligência Artificial e Machine Learning, ao integrar e capitalizar dados recolhidos pelos Wearables, dados na IoMT, desenvolvimentos da área da genómica e biotecnologia, irá exponenciar alguns impactos anteriormente mencionados – como no aumento da precisão de diagnósticos via análise avançada de MCDTs; na personalização de planos de tratamento baseados em dados específicos do paciente (genética); na optimização de recomendação de tratamentos e planos de prevenção (ajustados ao indivíduo e ao grupo de risco) com base em estudos e evidências cientificas; na aceleração da inovação e desenvolvimento de novos medicamentos e terapêuticas, entre outros. Também nas seguradoras esta tecnologia terá impacto para os nossos clientes ao permitir personalizar melhor oferta e serviços e maior agilidade de resposta aos clientes, via optimização de processos e de tempos de resposta.
Por último, e considerando a crescente importância dos dados de saúde e da sua sensibilidade, as organizações e instituições que operam no sector da Saúde, como a Multicare, devem focar-se cada vez mais no desenvolvimento de tecnologias para assegurar a segurança e privacidade de dados, garantindo o acesso aos seus clientes e correcta utilização.
Atendendo ao avanço tecnológico, quais os principais desafios que podem enfrentar ao nível da ética e privacidade de dados?
Com a crescente digitalização da saúde e dos dados vem o enorme desafio de garantir a protecção e segurança de dados e da sua correcta utilização. Todos os participantes no sector – profissionais de saúde, empresas prestadoras de cuidados de saúde, seguradoras de saúde, indústria farmacêutica, etc. – deverão implementar e cumprir a regulação de protecção de dados de saúde.
Com o constante desenvolvimento de tecnologias no sector da saúde, torna-se cada vez mais relevante haver políticas e mecanismos que promovam a protecção de pacientes/ clientes em termos éticos e de privacidade de dados, garantindo em simultâneo que essas mesmas políticas permitam o desenvolvimento e a inovação tecnológicos. Para atingirmos este equilíbrio é essencial a colaboração entre todos no sector, desde prestadores de cuidados de saúde, seguradoras, associações de doentes, arquitectos de tecnologia, legisladores e profissionais de ética – para que no final tenhamos as condições para proteger os dados dos clientes e ao mesmo tempo prestar o melhor serviço e cuidados aos nossos pacientes/clientes.
Quais são as iniciativas que podem tornar o sector de Saúde mais sustentável e que devem ser priorizadas no futuro?
A aposta na prevenção e na promoção de hábitos de vida saudáveis podem contribuir para prevenir o aparecimento ou atrasar o desenvolvimento de doenças crónicas como a diabetes, hipertensão arterial, cancro e doenças respiratórias (como a DPOC), as quais são responsáveis por 70-80% dos custos de saúde. Esta melhoria dos custos de saúde seria um contributo essencial para tornar o sector mais sustentável, com menos carga de doença e utilização de recursos.
Outra área de actuação deve endereçar o desperdício e ineficiências existentes no sector da saúde, como por exemplo a duplicação desnecessária de actos médicos, idas às urgências que poderiam ter sido resolvidas por outros meios. Existem várias alavancas e ferramentas que podem ser utilizadas. A partilha de historial clínico e resultados de exames consentida pelos pacientes, entre profissionais de saúde pode contribuir para a optimização da prestação de cuidados, mitigando por exemplo a realização de actos médicos desnecessários e contribuindo para melhores resultados para o paciente. A aposta em medicina personalizada, alavancada em genética e computação avançada, poderá abrir caminho para programas preventivos e profilácticos mais eficientes ao gerir melhor o risco individual bem como de grupos de risco. A inteligência artificial poderá ajudar a melhorar a eficiência de processos e promover a optimização de resultados (ex: no diagnóstico de patologias, recomendação de tratamentos, inovação na descoberta de novos fármacos).
Por último, mas não menos importante para a eficiência e eficácia do sector, devemos apostar num modelo de pagamento por valor que dê primazia a resultados clínicos e aos resultados reportados por pacientes.
Este artigo faz parte do Caderno Especial “O futuro da Saúde”, publicado na edição de Novembro (n.º 224) da Executive Digest.