Inovação e academia: o motor do futuro
Por Ana Calhôa, Secretária-Geral da Associação de Bioenergia Avançada
“O saber não ocupa lugar”, diz o ditado popular. Mas será que ocupa o lugar certo? Numa altura em que o planeta está em chamas e os alertas climáticos soam como um despertador que teimamos em adiar, precisamos de mais do que palavras: precisamos de ação. A bioenergia avançada pode ser uma das respostas que tanto procuramos, mas para que esta solução, aliada às opções que enriquecem os mix energéticos, possa ter um maior impacto, é necessário apostar no conhecimento que reside nas bibliotecas e nos laboratórios universitários portugueses – os berços do conhecimento e inovação. A transformação nasce na academia, mas deve crescer e florescer na indústria, onde a sua aplicação faz a diferença.
Portugal tem um sistema de ensino superior robusto, com universidades e institutos politécnicos que se destacam pela qualidade do seu ensino e investigação. Apostar no talento universitário significa apostar em ideias frescas, abordagens inovadoras e na capacidade de pensar fora da caixa, características vitais para o avanço da bioenergia avançada e descarbonização. Esta aposta traz benefícios mútuos: para os estudantes e investigadores, que ganham experiência prática e acesso ao mercado de trabalho, e para as empresas, que beneficiam da criatividade e do dinamismo de jovens talentos. Esta sinergia não só fortalece o setor, mas também posiciona o país como um líder em inovação sustentável.
As universidades são verdadeiras fábricas de ideias, mas do que vale uma boa ideia se não sair do papel? Precisamos de um casamento eficaz entre o saber académico e a vitalidade do setor da bioenergia avançada, que nos possibilite desenvolver tecnologias limpas e sustentáveis com impacto duradouro na nossa sociedade e no nosso ambiente. Esta ligação é, incontestavelmente, o combustível para o motor da inovação e, sem ela, ficamos sem rumo.
É, portanto, necessário desenvolver projetos conjuntos, partilhar infraestruturas e promover o intercâmbio de conhecimentos e experiências entre investigadores e profissionais do setor, de forma a criar um ecossistema no qual o conhecimento é aplicado e as ideias se transformam em soluções concretas para os desafios que enfrentamos. Além disso, é fundamental que as políticas públicas mantenham o registo de apoio que têm implementado até agora, que veio facilitar a colaboração entre universidades e empresas, através de incentivos fiscais, apoio financeiro a projetos de investigação aplicada e a criação de redes de cooperação. Este ambiente não é apenas favorável para o desenvolvimento de tecnologias de bioenergia avançada: é essencial.
A transformação do conhecimento em ação é crucial para o progresso e alcance de uma sociedade descarbonizada e não podemos esperar que as soluções surjam já feitas, temos de ser nós a fazê-las. Afinal, o saber é um recurso valioso que deve ser aproveitado ao máximo. O futuro do nosso planeta depende da nossa capacidade de agir e de não desperdiçarmos o conhecimento que já possuímos e que temos ao nosso dispor.