Saúde Digital: Uma comunicação transparente no serviço aos pacientes

Por Rute Arez, Manager de Administração Pública e Saúde na Minsait, uma empresa da Indra, em Portugal

A transformação digital teve impacto em todos os sectores e os cuidados de saúde não são exceção. Embora muitas indústrias estejam a avançar para a integração de tecnologias inovadoras e análises de grandes volumes de dados em escala e velocidade, o sector dos cuidados de saúde ainda enfrenta barreiras significativas, especialmente no que diz respeito à capacidade de os sistemas se ligarem e comunicarem entre si. No contexto da saúde digital, a falta de interoperabilidade limita o potencial de cuidados mais eficientes e centrados no doente e é a chave para a partilha segura e eficiente de dados clínicos entre diferentes sistemas e stakeholders.

Um dos principais desafios no setor da saúde, tanto em Portugal como a nível global, é a fragmentação dos dados. Em muitos casos, os registos clínicos do paciente estão dispersos por diferentes sistemas, plataformas e instituições, dificultando o acesso a informações completas e atualizadas. Esta situação pode levar a atrasos no diagnóstico, à duplicação de exames ou a tratamentos desnecessários. Afecta também a continuidade dos cuidados, uma vez que os profissionais de saúde não têm uma visão holística do doente, o que tem um impacto negativo na qualidade dos cuidados e nos resultados clínicos.

A interoperabilidade surge como uma base para a implementação de serviços que respondam a esta situação. A capacidade de interligar diferentes sistemas e de centralizar e standardizar os dados dos pacientes independentemente da sua origem, permite benefícios tangíveis tanto para os profissionais de saúde como para os pacientes como para o próprio sistema de saúde e é fundamental para uma prestação de cuidados mais eficiente, preventiva e personalizada.

O avanço da interoperabilidade e a melhoria dos cuidados de saúde implicam a disponibilização de serviços que vão para além da partilha de informações. Quando estão disponíveis dados completos sobre os doentes é possível aplicar políticas de gestão da população, mudando o enfoque da prestação de cuidados de saúde reactivos para proactivos.

O foco no doente procura, por um lado, aumentar a sua capacitação com soluções que favoreçam a sua participação ativa em programas de prevenção da doença e de promoção da saúde, promovendo o autocuidado. Ao mesmo tempo, procura garantir a continuidade dos cuidados através da integração em programas de acompanhamento apoiados por soluções de mobilidade. Desta forma, tanto o profissional como o próprio doente têm acesso à informação e podem saber a todo o momento o seu estado atual no seu processo de saúde.

Um ecossistema de saúde interoperável permite cuidados de saúde mais personalizados, segmentando a população em grupos específicos que partilham caraterísticas semelhantes. Isto significa que os processos e programas de saúde podem ser adaptados às suas necessidades individuais, melhorando a eficácia dos seus cuidados.

 

Desafios e oportunidades no cenário português

Apesar do esforço existente no sentido de se concretizarem  avanços significativos, o sistema de saúde português ainda enfrenta muitos desafios quanto à interoperabilidade total dos seus sistemas de saúde.  Para ultrapassar estes obstáculos, é essencial promover uma abordagem coordenada que fomente a colaboração entre instituições, agências governamentais e fornecedores de tecnologia. A implementação de normas comuns e de sistemas interoperáveis deve ser uma prioridade, permitindo que os dados circulem de forma segura e eficiente. A plena integração das informações de saúde não só melhorará os cuidados prestados aos doentes, como também reforçará as iniciativas de saúde pública, como a prevenção de doenças e a monitorização das populações vulneráveis.

No entanto, o cenário também é promissor. A implementação de soluções como a carteira digital de saúde, demonstra o compromisso para com a disponibilização de soluções de interoperabilidade, alinhadas com padrões internacionais, fundamentais para garantir a interligação e compreensão entre sistemas.

O futuro da saúde passa pela tecnologia e está  intrinsecamente ligado à capacidade de criar um ecossistema digital interoperável. Portugal deve continuar a avançar para uma saúde mais conectada que responda às necessidades da sua sociedade em evolução.