Descontos reais ou falsas poupanças? A Black Friday pode ser mais do que consumo impulsivo
Por Jérôme Amoudruz, CEO da blackfriday.pt
A Black Friday é, para muitos, o momento em que as grandes oportunidades de poupança parecem ao alcance de um clique. Contudo, à medida que o evento se consolida como um marco anual, surge uma questão pertinente: serão todas as promoções e descontos genuinamente vantajosos, ou estaremos a ceder a um apelo consumista sem nos darmos conta? Para transformar a Black Friday numa ocasião de consumo mais consciente, é essencial que tanto os consumidores como as marcas adotem práticas que garantam a autenticidade dos descontos e promovam uma abordagem mais sustentável.
No meio de uma avalanche de anúncios e campanhas publicitárias, distinguir entre descontos reais e estratégias de marketing pode ser uma tarefa árdua. Até porque o facto de existirem algumas práticas, como o aumento dos preços antes da Black Friday para depois simular um desconto, enfraquecem a confiança dos consumidores e prejudicam a credibilidade do evento. A transparência, neste contexto, assume um papel crucial e as marcas que são claras nas suas políticas de desconto e fornecem informações sobre o histórico de preços estão a adotar uma abordagem mais ética e orientada para o consumidor.
E é precisamente aqui que se encontra um ponto de viragem: a responsabilidade de tomar decisões informadas não pode ser unilateral. Os consumidores, por um lado, devem procurar comparar preços ao longo do tempo, recorrendo a ferramentas como históricos de preços e plataformas que monitorizam variações. Por outro, cabe às marcas criar condições para que esta comparação seja possível e acessível. Desta forma, os descontos genuínos destacam-se das promoções ilusórias, contribuindo para um consumo mais alinhado com as verdadeiras necessidades de cada um.
No entanto, com o crescente uso de ferramentas de Inteligência Artificial (IA) na criação de conteúdos e campanhas, há também o risco de informações falsas serem disseminadas, muitas vezes indexadas em motores de busca como o Google. Este fenómeno tem vindo a poluir a internet com dados incorretos sobre preços e descontos, aumentando o desafio para consumidores e retalhistas que tentam manter a credibilidade. Por isso, é fundamental que as marcas se comprometam a utilizar a IA de forma ética e responsável, assegurando que as suas campanhas refletem a verdade e promovem um consumo mais informado.
É por estas razões que a promoção por um consumo mais consciente não pode recair apenas nos consumidores. As marcas têm um papel fundamental ao incentivar as práticas de compra mais sustentáveis e, ao mesmo tempo, fornecer informações claras e acessíveis. Quando as empresas adotam uma comunicação ética e transparente, estão a construir uma relação de confiança que fortalece a sua reputação num mercado cada vez mais competitivo.
Para tal, é crucial que as campanhas de marketing não se limitem a promover o “desconto pelo desconto”. Ou seja, as marcas devem focar-se em educar os consumidores sobre o valor real dos produtos, os seus benefícios a longo prazo e a qualidade que os distingue. Por exemplo, destacar a durabilidade de um eletrodoméstico ou a sustentabilidade de uma peça de vestuário pode orientar as escolhas de compra para produtos que, embora possam não ser os mais baratos, oferecem um valor acrescentado significativo.
Contudo, a Black Friday é, muitas vezes, sinónimo de compras por impulso, fomentadas pela sensação de urgência das campanhas “só hoje” ou “quantidade limitada”. Esta urgência tem consequências: um estudo revela que cerca de 42% dos consumidores indicaram que se arrependeram de pelo menos uma compra feita durante a Black Friday. Estes números refletem a prevalência de compras motivadas pela expectativa de poupanças imediatas, mas que, na realidade, podem não satisfazer as necessidades reais.
Para contrariar este fenómeno, é necessária uma mudança cultural que promova a educação financeira e o planeamento prévio das compras, uma vez que os consumidores podem adotar algumas estratégias para resistir à tentação do consumo impulsivo: fazer uma lista de necessidades antes da Black Friday, definir um orçamento e manter-se fiel a ele são medidas simples, mas eficazes para evitar gastos desnecessários. Além disso, é importante questionar a utilidade e a longevidade dos produtos antes de os adquirir, ponderando se o desconto compensa de facto a compra.
Neste sentido, transformar a Black Friday num evento que vá além do consumismo desenfreado representa uma oportunidade para promover práticas comerciais mais responsáveis. Os próprios retalhistas podem contribuir para esta mudança ao adotar promoções que incentivem o consumo consciente, por exemplo, oferecer descontos em produtos duradouros e sustentáveis ou criar campanhas que doem parte das vendas a causas sociais são formas de alinhar o marketing com valores éticos.
Para além disso, a promoção da reparação e reutilização tem vindo a ganhar relevância, dado que algumas marcas já estão a começar a oferecer serviços de reparação com desconto durante a Black Friday, incentivando os consumidores a prolongar a vida útil dos produtos que já possuem. Estas iniciativas não só reduzem o impacto ambiental, como também criam uma ligação mais forte e significativa entre o consumidor e a marca.
Num período em que os consumidores estão mais atentos às questões de sustentabilidade e ao impacto das suas escolhas, a Black Friday pode representar mais do que apenas uma oportunidade de poupança. Adotar uma postura de consumo consciente permite aos consumidores moldar as práticas das empresas, exigindo transparência e promovendo mudanças positivas no mercado. Não se trata de abdicar das compras, mas sim de investir de forma criteriosa em produtos que realmente acrescentem valor, seja pela sua utilidade, durabilidade ou qualidade. A Black Friday não precisa de ser sinónimo de consumo excessivo. Pode, sim, ser uma oportunidade para redefinir prioridades, educar para a sustentabilidade e, acima de tudo, adotar uma mentalidade que contribua para um mercado mais ético e responsável. Ao fazermos escolhas mais conscientes, estamos a investir não só na nossa saúde financeira, mas também na construção de um futuro mais sustentável para todos.
Este ano, faça da Black Friday uma oportunidade para refletir sobre as suas escolhas. Invista em produtos que realmente fazem diferença e escolha marcas que partilham dos mesmos valores. O consumo consciente não é apenas uma tendência – é uma responsabilidade que todos devemos assumir.