O maior risco que a Ucrânia enfrenta na guerra: Passar de 42 milhões de habitantes para 25 milhões em 2050

Um relatório recente do Instituto de Demografia e Investigação Social da Academia Nacional de Ciências da Ucrânia revelou uma previsão alarmante: a população ucraniana poderá cair dos 42 milhões de habitantes, registados em 2020, para apenas 25 milhões em 2050. Segundo a investigação, divulgada por órgãos ucranianos como o canal TSN, esta drástica redução está associada a vários fatores demográficos agravados pelo conflito em curso com a Rússia.

Entre os principais motivos para esta previsão, destaca-se a emigração massiva. Desde o início do conflito, estima-se que cerca de seis milhões de ucranianos deixaram o país. Muitos desses emigrantes estabeleceram-se em países vizinhos e, caso permaneçam fora da Ucrânia, é provável que os seus descendentes adquiram outra nacionalidade, diminuindo ainda mais a população ucraniana no longo prazo. Para além disso, existem aproximadamente três milhões de ucranianos que vivem em áreas ocupadas pela Rússia e que poderão ser definitivamente anexadas ao território russo caso não sejam recuperadas. Se isso ocorrer, esses cidadãos deixarão de ser contabilizados como parte da população ucraniana.

A Ucrânia enfrenta uma taxa de natalidade crítica, a mais baixa desde que o país se tornou independente. Em 2022, registou-se o menor número de nascimentos desde 1991: apenas 187.000 bebés nasceram, comparativamente aos 309.000 nascimentos de 2019 e aos 520.000 registados em 2012, segundo dados do Ministério da Justiça ucraniano. Para que a população se mantenha estável, são necessários cerca de 210 nascimentos por cada 100 mulheres, o que corresponderia a uma média de dois filhos por mãe. Atualmente, esse valor encontra-se abaixo dos 90 nascimentos por cada 100 mulheres, o que representa o pior índice em três séculos.

O governo de Volodymyr Zelensky tem adotado medidas para tentar conter a queda populacional, como a exclusão dos jovens com menos de 27 anos do alistamento obrigatório no exército, visando preservar essa faixa etária. No entanto, as exigências do esforço de guerra forçaram uma alteração dessa regra em abril passado, quando a idade mínima para o alistamento foi reduzida para 25 anos, e há quem defenda que ela deveria ser ainda menor, abrangendo jovens a partir dos 18 anos.

Outro fator significativo para a previsão populacional é a elevada taxa de mortalidade, especialmente devido à guerra. A Ucrânia lidera atualmente o ranking global de mortalidade, com três mortes para cada nascimento. Além das baixas em combate e das mortes causadas por bombardeios, a guerra tem gerado um aumento de problemas de saúde mental, como depressão, e de vícios, como o alcoolismo, que agravam as estatísticas de suicídios. Embora não existam dados oficiais sobre estes casos, especialistas alertam para uma tendência crescente.

O desenrolar da guerra será determinante para validar as previsões do Instituto de Demografia. O coronel Hennadiy Kovalenko, diretor de Cooperação Internacional do Ministério da Defesa da Ucrânia, prevê que o conflito pode transformar-se num embate de baixa intensidade, alternando períodos de tréguas com novos picos de atividade militar. “Nos próximos dez anos, alternaremos entre cessar-fogo e períodos de guerra ativa”, afirmou Kovalenko a um grupo de jornalistas europeus, incluindo a publicação El Español, durante uma entrevista em Kiev. O objetivo do exército, segundo afirma, é prolongar os períodos de paz e limitar os combates até alcançar a restauração da integridade territorial da Ucrânia.

Ainda que o objetivo militar de restabelecimento territorial seja alcançado, a reconstrução demográfica do país é um desafio complexo. Estima-se que, em médio e longo prazo, a vida na Ucrânia se concentrará em seis grandes cidades: Kiev, Lviv, Odessa, Kharkiv, Dnipro e Donetsk. As regiões fronteiriças com a Rússia, particularmente afetadas pelo conflito, poderão ter pouca ou nenhuma atividade populacional.

Uma questão essencial para a recuperação demográfica da Ucrânia é o regresso dos milhões de cidadãos que emigraram. Pavlo Kovtoniuk, ex-vice-ministro da Saúde e atual responsável pelo Ukrainian Healthcare Center, defende que o regresso dependerá das condições de vida que a Ucrânia poderá oferecer no futuro. “As pessoas precisam de ver que este país funciona e que oferece condições melhores do que antes da guerra”, explicou Kovtoniuk. Segundo o responsável, caso sejam criadas estas condições, muitos ucranianos optarão por ficar e outros tantos poderão regressar.

A magnitude dos desafios demográficos que a Ucrânia enfrenta é evidente. A reconstrução e o crescimento populacional dependerão de soluções para mitigar as crises de natalidade, de emigração e de mortalidade.

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