Partilhas que correm mal ou a importância da literacia digital

Por Vanessa Gonzalez, Diretora de Comunicação da Kaspersky Iberia

Na última década, temos assistido a uma tendência de crescimento da exposição da vida pessoal nas redes sociais. E quando pensamos que os conteúdos publicados, mesmo que sejam eliminados, podem não deixar de existir, apercebemo-nos do alcance e da magnitude da Internet. Basta um minuto online para que alguém tenha acesso a determinado conteúdo, com ou sem consentimento do visado.

A verdade, é que a maioria dos utilizadores não pensa no impacto que o mundo digital pode ter na sua vida. É por esta razão que os especialistas de cibersegurança aconselham, cada vez mais, a sensibilizar as pessoas para a adoção de hábitos digitais mais saudáveis e mais conscientes.

A literacia digital deve ser uma preocupação para todos os utilizadores, mas em especial para os mais jovens, nativos digitais e muito pouco despertos para os perigos das suas partilhas online. A inocência típica da idade e a falta de conhecimentos, aliadas à   imaturidade emocional, torna os mais novos alvos fáceis. E as suas atitudes podem ter danos não só incalculáveis, como, por vezes, permanentes.

Criminalização da partilha não consentida de imagens íntimas

Atualmente, deparamo-nos com um panorama complexo de práticas online entre os jovens, que, com cada vez maior frequência e mais cedo, expõem a sua vida nas redes sociais. Uma exposição muitas vezes associada a desafios e que comporta riscos à própria segurança. Uma das maiores consequências é a partilha de imagens íntimas sem o consentimento da pessoa.

De acordo com um estudo da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (FLUC), que inquiriu 1500 jovens entre os 18 e os 30 anos, cerca de 15.5% sentem-se confortáveis em partilhar a sua vida íntima em aplicações, desde que a troca de conteúdos seja consentida, e 18,1% enviam mensagens de teor sexual a outras pessoas no meio digital.

A troca de mensagens de texto de teor sexual, também conhecida como sexting, decorre em redes sociais, aplicações e mensagens de texto, e pode implicar a partilha de conteúdos íntimos em formato de imagem ou vídeo. Esta partilha de imagens facilita a captura, armazenamento e divulgação não consentidas das mesmas. O referido estudo, que faz parte do projeto de investigação ‘My Gender – Práticas de Jovens Adultos Mediados’, releva que 13% dos inquiridos já foram alvo de partilha indevida de conteúdos sexuais online.

Este flagelo é real e a percentagem de jovens em Portugal que já foram vítimas desta problemática é muito significativa. Por esta razão, em 2023, Portugal reforçou a legislação de proteção das vítimas da disseminação não-consensual de conteúdos íntimos. Um crime que passou a ser de natureza semi-pública e pode ser punido com uma pena de até 5 anos de prisão.

A consciencialização de todos os utilizadores, em especial dos mais jovens, pode ajudar a prevenir o aumento de vítimas por abuso e partilha de imagens íntimas não consentidas. No âmbito do mês de Sensibilização para a Cibersegurança, que se assinala em outubro, os especialistas apelam à proteção no mundo digital e à adoção de hábitos mais conscientes, alertando para que as nossas atitudes podem ter consequências graves e danos incalculáveis e imprevisíveis nas nossas vidas.

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