Dia das Nações Unidas: Na transição digital e verde, as pessoas são a chave para cumprir os ODS

Por Rui Teixeira, Diretor Geral do ManpowerGroup Portugal

Lançados em 2015 pela Organização das Nações Unidas, os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) visam fomentar um crescimento sustentável e inclusivo, respondendo à emergência climática e combatendo as desigualdades e assimetrias sociais. Se este é um objetivo claro de países e governos, as empresas têm também um papel importante a desempenhar.

Num cenário global em que a transição verde e a transformação digital avançam a um ritmo sem precedentes, a aposta numa transição centrada no talento é fundamental para uma evolução justa e equitativa e reforça o compromisso das organizações com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Neste momento de disrupção, não podemos subestimar o impacto no trabalho ou nos trabalhadores das mudanças transformadoras que estão a ocorrer. Por isso, ao mesmo tempo que potenciam os benefícios da inovação tecnológica, é fundamental que as empresas procurem construir uma força de trabalho capacitada e diversa, com acesso às oportunidades de aquisição das competências que lhes permitirão ser relevantes e prosperar no novo mundo do trabalho.

A transição verde é um exemplo claro da urgência de colocar as pessoas no centro da transformação, para poderemos abordar os desafios para empresas e trabalhadores. De facto, dados do estudo “Uma Transição Verde Focada nas Pessoas” do ManpowerGroup indicam que, apesar de 70% dos empregadores, a nível global, estarem a recrutar ativamente para funções de sustentabilidade, apenas 15% dos trabalhadores possuem essas competências, revelando um desencontro entre necessidades e disponibilidade de talento que coloca as empresas em competição pelos poucos candidatos qualificados. Em simultâneo, do lado dos trabalhadores, apesar haver entusiasmo pelo futuro ecológico, existem igualmente receios de que as funções se tornem obsoletas e de que possam ficar para trás caso não adquiram rapidamente novas competências técnicas. Uma preocupação que segundo o estudo é especialmente acentuada nas funções “blue-collar”.

Sabemos hoje que a transição verde não pode acontecer de forma desligada dos fatores humanos e sociais. Por isso, vários países acordaram, na Conferência das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas (COP), um conjunto de princípios fundamentais que deverão guiar as atividades que visam alcançar de forma justa e equitativa a meta das zero emissões líquidas. Entre esses princípios encontramos o apoio aos trabalhadores na transição para novos empregos e a criação de oportunidades de trabalho locais e inclusivas. A transição ecológica conduzida desta forma equitativa, pode transformar-se numa oportunidade de melhoria de competências e criação de novos empregos adaptados à nova economia verde, promovendo um trabalho digno e o crescimento económico sustentável.

Por outro lado, também a evolução digital, impulsionada pela Inteligência Artificial (IA), traz oportunidades e desafios para uma sociedade mais justa e alinhada com a Agenda 2030. A adoção da IA está a crescer rapidamente, estimando-se que 81% dos empregadores tenham ferramentas de IA integradas nas suas operações até 2027, de acordo com o estudo de Global Insights sobre AI, da Experis. Face à atual escassez de competências tecnológicas, com quase um terço dos empregadores a referir a falta de trabalhadores qualificados em IA como um dos principais obstáculos à sua implementação, este cenário destaca a necessidade urgente de as empresas prepararem e capacitarem as suas equipas para o futuro, garantido um desenvolvimento sustentado.

Com os desenvolvimentos tecnológicos e a procura de mais sustentabilidade a moldarem o futuro do trabalho, as empresas são hoje conscientes de que o recrutamento não será suficiente para resolver os desafios da escassez de talento As empresas devem construir esse talento, apostando nas pessoas, no seu potencial e nas competências transferíveis, e investindo em programas de pre, up e reskilling, que capacitem as equipas para novas funções adaptadas às novas exigências do mercado. Mais do que no desempenho passado, as empresas devem procurar focar-se no potencial futuro. Estas estratégias não só lhes permitirão ampliar as suas bases de talento, como também diversificar as fontes de recrutamento e origens dos candidatos, contribuindo para remover barreiras a grupos sub-representados e promover ambientes de trabalho mais inclusivos e diversos.

Para que a transição digital e verde seja bem-sucedida, é necessário um compromisso conjunto que coloque as pessoas no centro ao apostar na atualização de competências e valorização do potencial humano. Se queremos caminhar para um mundo do trabalho mais inovador e verde, em linha com os ODS, precisamos de compreender que só com as pessoas é possível garantir um futuro mais próspero e equitativo.

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