Dia Internacional da Ação Climática: oito mitos (desmascarados) sobre a realidade do clima mundial

O Dia Internacional de Ação Climática é comemorado todos os anos a 24 de outubro e pretende alertar consciências sobre a necessidade urgente de abordar as mudanças climáticas, um lembrete da importância de preservar a biodiversidade, reduzir as emissões de carbono e trabalhar em direção a um futuro mais verde e sustentável para todos.

Segundo uma sondagem recente da Euronews-Ipsos, mais de metade dos eleitores europeus considera que a luta contra as alterações climáticas é uma prioridade.

Em todos os 18 países incluídos na sondagem, 52% dos inquiridos consideram que a luta contra as alterações climáticas é uma prioridade. Já 32% afirmam que é importante mas não prioritária e 16% consideraram uma questão secundária.

Dinamarca (69%), Portugal (67%) e Suécia (62%) foram os países onde se registou a percentagem mais elevada de pessoas que consideraram como uma prioridade. Na categoria de importante mas não prioritária, os resultados foram: 23% na Dinamarca, 28% em Portugal e 26% na Suécia.

A Polónia, a Rep. Checa e a Finlândia registaram a percentagem mais baixa de inquiridos que consideravam uma prioridade para a UE. Ainda assim, pouco mais de um terço das pessoas (34%) nestes três países consideram-na uma prioridade.

Só na Polónia é que um número significativo de inquiridos – 35% – considera que a luta contra as alterações climáticas é uma questão secundária. Em todos os outros países, menos de um quarto das pessoas tem esta opinião.

Mundo aquece a um ritmo recorde

O mundo está a aquecer a um ritmo recorde, com um calor fora de estação a atingir quase todos os continentes da Terra. De acordo com os especialistas, este é um sinal claro de que o clima da Terra está a mudar. Mas muitos acreditam, ou pelo menos dizem acreditar, que as alterações climáticas não são reais, baseando-se numa série de mitos bem difundidos para defender o seu ponto de vista. Quais? Ei-los:

Mito 1: As alterações climáticas existiram sempre, por isso não nos devemos preocupar com elas

É verdade que a temperatura do planeta há muito que flutua, com períodos de aquecimento e de arrefecimento. Porém, desde a última era glaciar há 10 mil anos, o clima tem-se mantido relativamente estável, o que, segundo os cientistas, tem sido crucial para o desenvolvimento da civilização humana.

Essa estabilidade está agora a enfraquecer. A Terra está a aquecer ao ritmo mais rápido dos últimos 2 mil anos e está cerca de 1,2°C mais quente do que nos tempos pré-industriais. Os últimos 10 anos foram os mais quentes de que há registo, com 2023 a bater recordes de temperatura a nível mundial.

Outros indicadores-chave relacionados com o clima também estão a aumentar. A temperatura dos oceanos, o nível do mar e as concentrações atmosféricas de gases com efeito de estufa estão a aumentar a um ritmo recorde, enquanto o gelo marinho e os glaciares estão a recuar a uma velocidade alarmante.

Mito 2: As alterações climáticas são um processo natural. Não tem nada a ver com as pessoas

Embora as alterações climáticas sejam um processo natural, a atividade humana está a impulsioná-las. Um relatório de referência do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC), que se baseia na investigação de centenas de cientistas climáticos de renome, concluiu que os seres humanos são responsáveis por quase todo o aquecimento global registado nos últimos 200 anos.

A grande maioria do aquecimento deve-se à queima de carvão, de petróleo e de gás. A combustão destes combustíveis fósseis está a inundar a atmosfera com gases com efeito de estufa, que atuam como um cobertor à volta do planeta, retendo o calor.

Mito #3: Um aquecimento de alguns graus não é assim tão grave

Na verdade, pequenos aumentos de temperatura podem colocar os delicados ecossistemas do mundo em desequilíbrio, com implicações terríveis para os seres humanos e outros seres vivos. O Acordo de Paris sobre as alterações climáticas tem como objetivo limitar o aumento da temperatura média global a “bem menos” de 2°C, e de preferência a 1,5°C, desde a era pré-industrial.

Mesmo esta oscilação de meio grau poderia fazer uma enorme diferença. O IPCC concluiu que, com um aquecimento de 2°C, estariam regularmente expostas a temperaturas extremas mais 2 mil milhões de pessoas do que com 1,5°C. O mundo perderia também o dobro das espécies de plantas e vertebrados e três vezes mais insetos.

Mito 4: Um aumento das vagas de frio mostra que as alterações climáticas não são reais

Esta afirmação confunde tempo e clima, que são duas coisas diferentes. O tempo são as condições atmosféricas quotidianas de um local e o clima são as condições meteorológicas a longo prazo de uma região. Assim, pode existir uma vaga de frio quando a tendência geral do planeta é para o aquecimento.

Alguns especialistas acreditam também que as alterações climáticas podem levar a um frio mais prolongado e mais intenso em alguns locais devido a alterações nos padrões dos ventos e outros fatores atmosféricos. Um estudo concluiu que o rápido aquecimento do Ártico pode ter perturbado a massa de ar frio que girava sobre o Polo Norte em 2021. Este facto provocou temperaturas negativas até ao sul do Texas, nos Estados Unidos, causando prejuízos de milhares de milhões de dólares.

Mito 5: Os cientistas discordam sobre a causa das alterações climáticas

Um estudo de 2021 revelou que 99% da literatura científica revista por especialistas concluiu que as alterações climáticas eram induzidas pelo homem. Isso estava de acordo com um estudo amplamente lido de 2013, que descobriu que 97% desses artigos que examinaram as causas das alterações climáticas disseram que eram provocadas pelo homem.

Mito 6: É demasiado tarde para evitar uma catástrofe climática, por isso mais vale continuarmos a queimar combustíveis fósseis

Embora a situação seja grave, ainda existe uma janela estreita para a humanidade evitar o pior das alterações climáticas.

O último relatório do PNUMA sobre o défice de emissões concluiu que, se reduzirmos as emissões de gases com efeito de estufa cerca de 42% até 2030, o mundo poderá limitar o aumento da temperatura mundial a 1,5°C em comparação com os níveis pré-industriais.

Mito 7: Os modelos climáticos não são fiáveis

Os céticos do clima há muito que argumentam que os modelos informáticos utilizados para projetar as alterações climáticas não são fiáveis, na melhor das hipóteses, e completamente incorretos, na pior.

Mas o IPCC, a maior autoridade científica do mundo em matéria de alterações climáticas, afirma que, ao longo de décadas de desenvolvimento, estes modelos têm fornecido de forma consistente “uma imagem robusta e inequívoca” do aquecimento do planeta.

Mito 8: Não precisamos de nos preocupar com a redução das emissões de gases de efeito estufa. A humanidade é inventiva; podemos simplesmente adaptar-nos às alterações climáticas

Alguns países e comunidades podem adaptar-se ao aumento das temperaturas, à diminuição da precipitação e a outros impactos das alterações climáticas. Mas muitos não conseguem.

Os países em desenvolvimento precisam coletivamente de entre 215 mil milhões e 387 mil milhões de dólares por ano para se adaptarem às alterações climáticas, mas só têm acesso a uma fração desse total, segundo o último relatório do PNUA. Mesmo as nações ricas terão dificuldade em suportar o custo da adaptação, que, em alguns casos, exigirá medidas radicais, como a deslocação de comunidades vulneráveis, a relocalização de infraestruturas vitais ou a mudança de alimentos básicos.

Em muitos locais, as pessoas já estão a enfrentar limites difíceis no que respeita à sua capacidade de adaptação. Os pequenos Estados insulares em desenvolvimento, por exemplo, não podem fazer muito para conter a subida dos mares que ameaça a sua existência.

Sem uma ação significativa para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, as comunidades atingirão esses limites mais rapidamente e começarão a sofrer danos irreparáveis devido às mudanças climáticas, dizem os especialistas.

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