ISCTE Executive Education: “Quem quer crescer, precisa de investir em formação”
José Crespo de Carvalho, presidente do Iscte Executive Education, explica como a instituição espera contribuir positivamente para a sociedade e para a construção de uma network para a vida.
A economia portuguesa foi das que mais cresceu em 2023, entre 27 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE). Ao nível da formação individual e também por parte das empresas têm sentido uma maior procura de programas face ao comportamento económico?
Quando a economia vai bem, todos procuram surfar a onda. Não é esse, para além de muitos outros, também o pressuposto das escolas de negócios? Economia mais forte reflecte-se directamente na procura por formação. Empresas e profissionais individuais estão mais atentos à necessidade de se manterem actualizados e competitivos. Ninguém quer ficar para trás! Portanto, temos sentido, sim, uma procura crescente por programas de formação. Ou seja, o crescimento económico acaba por alavancar uma mentalidade de crescimento e desenvolvimento contínuo, fundamentais para que esse bom momento seja sustentado, posteriormente, no longo prazo. Isso é visível em empresas e em individuais. E, sim, 2023 foi um ano muito bom. E foi-o também a nível internacional e não apenas nacional. 40% da nossa facturação já vem do internacional.
E para o segundo semestre do ano de 2024, o que é que estão a prever em termos de procura por formação, tanto a nível individual como corporativo?
O segundo semestre promete ser muito agitado! A expectativa é que a procura por formação continue, havendo algumas trocas de preferências entre programas. Isto porque as empresas estão a perceber que, para manter o ritmo de crescimento, precisam de equipas bem preparadas e alinhadas com novas tendências em várias dimensões. Estamos a prever uma intensificação da procura por programas voltados para a transformação digital, gestão estratégica e liderança – áreas cruciais para que as empresas possam competir em mercados cada vez mais globais e dinâmicos. Os individuais, por sua vez, também estão conscientes de que precisam de se destacar para garantir a sua empregabilidade e relevância no mercado. A tendência é clara: quem quer crescer, precisa de investir em formação. E isso é algo que vai ficar cada vez mais evidente ao longo do segundo semestre e dos próximos anos. Incontornável.
Que áreas estão a ser mais procuradas? Quais os temas em ascensão e quais estão a perder força?
Data science, inteligência artificial e digitalização são, ao momento, as palavras de ordem! As empresas estão a perceber que precisam de se adaptar rapidamente a novas tecnologias para não ficarem para trás. Além disso, temas como liderança em tempos de mudança e tomada de decisão baseada em dados também estão a ganhar muita força. Por outro lado, temas mais tradicionais, que não acompanham a velocidade das mudanças tecnológicas, continuam a ter o seu mercado seguro – geram competências transversais em áreas críticas para sedimentar com outras dimensões.
Qual é o papel das escolas de negócio no apoio aos empresários para conseguirem enfrentar os desafios da competitividade, inovação e internacionalização, tendo em conta as actuais cadeias de valor globais?
As escolas de negócios são verdadeiras incubadoras de inovação e competitividade. E devem ser, no meu entender, human centric. Não há uma boa escola de gestão no momento que não esteja centrada no desenvolvimento humano em todas as suas vertentes. Com mudanças tão constantes e rápidas, as empresas e os individuais precisam de estar um passo à frente. E é exactamente aí que as escolas de negócios entram – preparando os líderes e potenciais líderes para enfrentar e superar esses desafios.
Visão global, entendimento das dinâmicas das cadeias de valor internacionais e dos drivers das suas cadeias de abastecimento e saber como inovar dentro desses contextos tornou-se crítico. As escolas de negócios oferecem as ferramentas, os conhecimentos e o network necessários para que isso aconteça. Alavancam pessoas com competências. E ajudam as empresas e os colaboradores não só a acompanhar tendências, mas, também, a liderar mudanças, posicionando-se de forma estratégica no mercado global. E isso, no final do dia, faz toda a diferença.
As empresas estão, de facto, mais focadas em temas que melhorem a competitividade, como data, inteligência artificial, digitalização, tomada de decisão e inovação?
Claramente! Já o disse. As empresas já perceberam que, se quiserem continuar a ser competitivas, precisam de investir nesses temas. Data e inteligência artificial, por exemplo, deixaram de ser áreas restritas a grandes corporações tecnológicas e a pequenos grupos de pessoas – hoje, qualquer empresa ou individual que queira ser relevante no seu sector precisa de entender e utilizar essas ferramentas. A digitalização é outra área onde as empresas estão a apostar forte, especialmente porque a pandemia mostrou que quem não está no mundo digital, está morto. Além disso, a tomada de decisão baseada em dados é algo que está a transformar completamente a forma como as empresas operam. Tudo isto, em conjunto, cria um ambiente propício para a inovação, que é, sem dúvida, a chave para a competitividade no século XXI. Neste contexto, as empresas e os indivíduos estão mais focados nestes temas, porque sabem que disso depende o seu futuro.
Segundo um estudo da Associação Business Roundtable (ABR) e da consultora Deloitte, se os 194 mil jovens licenciados que saíram do País entre 2012 e 2021 regressassem a Portugal, isso melhoraria significativamente as perspectivas da economia portuguesa. Qual é a vossa opinião sobre isso e sobre o papel das escolas de negócio na retenção de talento em Portugal?
É um tema mega relevante! A saída desses jovens representou uma grande perda para o País, e o seu regresso seria, sem dúvida, um ganho enorme. Não só pelo impacto directo no PIB, que, segundo o estudo, poderia crescer 0,65 pontos percentuais, mas também pela injecção de talento, ideias novas e energia que esses jovens trariam. E, aqui, as escolas de negócios têm um papel crucial. Para reter talento em Portugal, precisamos de criar um ecossistema que ofereça oportunidades reais de crescimento e desenvolvimento. As escolas de negócios podem e devem ser o motor desse ecossistema, oferecendo programas de formação avançada, ligados às necessidades do mercado, e criando pontes entre o talento e as empresas. Além disso, é fundamental que as escolas de negócios ajudem a construir um ambiente que valorize e incentive a inovação, o empreendedorismo e a internacionalização. Isso não só atrairá os talentos de volta, como também ajudará a reter aqueles que ainda cá estão.
Ah, e sem esquecer nunca que estamos a falar de pessoas. Há uma necessidade enorme de considerar a pessoa como o centro e o centro como a pessoa. Nada de considerar participantes como números. Formação de executivos significa actualmente muita centricidade no participante e seus interesses e desenvolvimento. E todos, um a um, precisam e querem crescer.
Acham que é absolutamente crítico para as escolas de gestão posicionarem-se no mercado internacional e tornarem-se mais atractivas para estudantes internacionais?
Essa pergunta hoje já não faz sentido! O mundo é global e não vale a pena travar esse movimento com intelectualismos vazios, até porque por uma questão de necessidade, empresas e pessoas obrigam as escolas de gestão a estar nesse jogo. Internacionalizar não é uma opção – é uma necessidade. Estudantes internacionais trazem uma diversidade de perspectivas e experiências que enriquecem o ambiente de aprendizagem e preparam melhor todos os participantes para o mercado global. Além disso, atrair estudantes de outros países ajuda a posicionar Portugal como um centro de excelência na educação, o que pode ter efeitos muito positivos para a economia como um todo. As escolas de gestão que se internacionalizam também conseguem atrair professores e parceiros de renome, o que eleva ainda mais a qualidade dos programas oferecidos.
Portanto, sim, é absolutamente crítico que as escolas de gestão se posicionem a nível internacional e que se tornem polos atractivos para estudantes de todo o mundo. Isso é o que vai garantir a sua relevância e sucesso a longo prazo. O mercado nacional, por si, é pequeno demais para o que se pode fazer e já se demonstrou saber fazer em termos de ensino superior. E estará sempre em queda por força das pirâmides etárias.
No último pequeno-almoço, abordámos a importância de expandir a oferta formativa para além dos centros urbanos e alcançar outras regiões de Portugal. Que esforços estão a fazer nesse sentido, ou se têm algum plano para o segundo semestre do ano?
Expandir a oferta formativa para fora dos grandes centros urbanos é uma prioridade. É fundamental que todas as regiões tenham acesso às mesmas oportunidades de desenvolvimento. E o mundo idem. Estamos a trabalhar em várias frentes para que isso aconteça. Por um lado, estamos a investir em tecnologias que nos permitam levar a formação a qualquer lugar, através de plataformas digitais robustas e interactivas. Por outro lado, estamos a desenvolver parcerias locais para poder levar a nossa formação presencial a diferentes regiões, de Portugal e do mundo, adaptando às necessidades específicas de cada região ou local. No segundo semestre e daí para a frente, vamos lançar novos programas que serão oferecidos tanto online quanto presencialmente em várias regiões do País e do mundo. O objectivo é claro: garantir que ninguém fica de fora, independentemente de onde vive. Afinal, o futuro do País e da nossa organização enquanto organização global depende de todos – e todos devem contribuir para esse desiderato.
» José Crespo de Carvalho, presidente do Iscte Executive Education
Este artigo faz parte do Caderno Especial “MBA, Pós-graduações & Formação de Executivos”, publicado na edição de Setembro (n.º 222) da Executive Digest.